O grupo Volkswagen, um dos maiores construtores do mundo, é constituído por dois ramos: automóvel (83% do volume de negócios) e serviços financeiros. O seu portefólio abrange vários segmentos: grande público (Volkswagen, Seat, Skoda), luxo e desportivos (Porsche, Audi), carrinhas, camiões e autocarros (Scania, MAN, Navistar) e motociclos topo de gama (Ducati).
Este ano, a Volkswagen espera entregar 9,5 milhões de veículos (+15%), aumentar a receita 10 a 15% e ter uma margem operacional de 7,5 a 8,5%. Objetivos ambiciosos, mas realizáveis.
Enquanto as marcas de massa (Volkswagen, Seat, Skoda) são penalizadas pela queda do poder de compra, os segmentos mais altos são muito menos sensíveis a recessões. A Porsche representa menos de 4% das vendas da Volkswagen, mas gerou quase 30% do lucro operacional em 2022. A Audi (inclui a marca do mesmo nome, Bentley, Lamborghini e Ducati) vale 12% das vendas, mas também cerca de 30% do lucro operacional. Assim, apesar da natureza cíclica do negócio automóvel, a Volkswagen consegue ser rentável e obter uma margem operacional de 6 a 8%.
Grande projeto elétrico
As entregas de veículos totalmente elétricos continuam a impulsionar o crescimento (+26% em 2022), mas representaram apenas 7% das vendas. O ramp-up comercial é mais complicado do que o esperado. A Volkswagen lidera na Europa, mas na China, o seu maior mercado, enfrenta os inovadores atores locais (BYD, Nio, Li Auto).
A Volkswagen quer investir 120 mil milhões de euros ao longo de cinco anos na eletrificação e digitalização. Ao “copiar” a Tesla visa integrar toda a cadeia de valor (software, bateria, entre outros). Fixou o objetivo de aumentar a quota de elétricos para 10% das vendas em 2023, 20 % até 2025 e 50% até 2030. O lançamento de um pequeno modelo elétrico por menos de 25 mil euros (ID.2all) será crucial.
Modelo sólido
O vasto cash flow gerado pela divisão automóvel (30 mil milhões de euros) permite financiar a eletrificação e pagar um generoso dividendo aos acionistas (4,4 mil milhões de euros). E, apesar do episódio do dieselgate em 2015, a Volkswagen continua a gozar de uma sólida reputação na Europa. As suas marcas estão associadas à qualidade, inovação e fiabilidade. Atualmente, representa mais de um quarto dos novos registos europeus, à frente da Stellantis (19%) e da Renault (11%).
A Volkswagen tem um balanço muito sólido. No final de março, a divisão automóvel tinha uma posição de caixa líquida (caixa menos dívida) de mais de 38 mil milhões de euros.
Por fim, a extensa presença geográfica, com concessionários e redes de distribuição em muitos países, é outro fator chave para aceder aos consumidores. No entanto, a forte presença na China (40% das vendas e 20% dos lucros operacionais) é um fator de risco.
Conselho
Mesmo que muitos investidores ainda não estejam convencidos, a Volkswagen tem meios para concretizar as ambições, incluindo tornar-se o maior construtor mundial de elétricos. A estratégia de plataformas multimodelo e multimarcas permite beneficiar de poderosos efeitos de escala.
Além disso, com uma posição de caixa líquida de 50% da capitalização bolsista e um dividend yield de 7%, a empresa merece ser negociada a um preço superior ao rácio atual cotação/lucro de apenas 4.
A Volkswagen tem uma participação de 75% na Porsche. Esta vale quase 80 mil milhões de euros, mais 5 mil milhões do que a própria capitalização da marca. Os investidores atribuem, portanto, um valor negativo a todas as outras atividades. Esta anomalia é outro motivo para apostar nesta ação de qualidade. Esperamos que a cotação continue a recuperar e mudamos o nosso conselho para comprar.