História e atividades
Fundada em 1905 e originalmente ativa em equipamentos para as indústrias ferroviária e florestal, a Paccar desenvolveu os seus primeiros camiões em 1934 e, durante a segunda guerra mundial, lançou-se mesmo nos contratos militares, incluindo carros de combate.
A partir daí, a Paccar voltou a concentrar-se gradualmente na produção de camiões pesados bastante sofisticados, conhecidos pelas marcas Kenworth, Peterbilt e DAF.
A par da Daimler, da Volvo e da Traton (grupo Volkswagen), é uma das maiores empresas mundiais neste mercado.
A Paccar caracteriza-se por um modelo integrado que combina camiões (75% das vendas), peças de reposição (20% das vendas), através de uma grande rede de distribuição, e serviços financeiros (financiamento e leasing) para os seus clientes (5% da faturação).
Presente principalmente na América do Norte (60% das vendas e 30% de quota de mercado em camiões acima de 16 toneladas), também se está a desenvolver na Europa (26% de vendas e 17% de quota de mercado), na Austrália (24% de quota de mercado) e, mais recentemente, no México e na América do Sul (7% de quota de mercado).
A Austrália, o México e a América do Sul representam em conjunto 14% das vendas.
Resiste ao abrandamento
Obviamente que o negócio de veículos pesados de mercadorias, que são responsáveis por 75% do transporte de mercadorias nos Estados Unidos (muito à frente da ferrovia com apenas 11%), depende diretamente do desempenho da economia.
Não é novidade que a economia mundial está frágil, com previsões de crescimento abaixo de 3% em 2023 e 2024. Os Estados Unidos até devem ficar bem abaixo desse patamar (+0,5% em 2023 e +1,7% em 2024).
Isto significa que a natureza cíclica do mercado de transporte rodoviário penalizará particularmente todo o setor de atividade onde a Paccar opera se a economia descarrilar nos próximos trimestres.
Durante a grande crise financeira de 2008/09, a Paccar vivenciou um período difícil e viu os seus lucros divididos por 9 de 2008 a 2009, devido a uma queda de 46% da faturação.
Embora não seja previsível que uma crise dessa dimensão ocorra atualmente, pensamos que a Paccar pode agora enfrentar com mais facilidade uma situação económica difícil, sobretudo por três razões:
- Em quase todos os lugares, a frota de camiões que anda nas estradas está a envelhecer. A necessidade da sua constante renovação (principalmente para os camiões maiores, chamados Classe 8) beneficia a Paccar, conhecida pelas suas inovações, principalmente em termos de eficiência energética. Esta reputação, reconhecida pelos seus clientes, permite-lhe aumentar os preços das suas viaturas, compensando a subida dos custos devido à inflação. Assim, o preço médio de venda dos seus camiões aumentou 11% em 2022.
- No mix de lucros do grupo, as duas atividades “peças de reposição” e “serviços financeiros”, pouco cíclicas, tendem a ter um peso cada vez maior, passando de cerca de 35% em 2002 para 53% em 2022.A alta rentabilidade das peças de reposição, atualmente três vezes maior do que a dos camiões, é a principal razão para esta tendência. Se alguma vez uma recessão impedir os clientes de investir em novos camiões, é expectável que um aumento das vendas de peças amorteça o impacto nos resultados.
- O plano de recuperação da economia americana decidido pelo governo de Biden, em parte dedicado a grandes projetos de infraestruturas, já em marcha, sustentará a procura de camiões de grande porte para as obras do país durante vários anos.
Bons resultados
Em 2022, após um período caótico com a crise pandémica, pontuado por problemas logísticos, a Paccar recuperou, ao produzir cerca de 186 mil veículos, um patamar de produção próximo do dos anos 2018 e 2019.
Os lucros também subiram: suportado pelo aumento de 22% do volume de negócios, o lucro por ação cresceu 62%. O seu modelo integrado, apreciado pelos clientes, confere-lhe uma vantagem competitiva nos camiões topo de gama e potencia a rentabilidade por camião produzido.
Assim, em 2022, um camião gerou em média um lucro de 16200 dólares, o dobro do que acontecia há 10 anos.
Com um forte crescimento médio anual do volume de negócios (+9%) e do lucro (+13%) ao longo de 20 anos, as peças de reposição foram de novo decisivas.
Consequentemente, o elevado nível de rentabilidade do grupo (retorno de 20% sobre o capital investido) distingue-o positivamente no setor, e permite-lhe financiar investimentos e distribuir dividendos sem recorrer a endividamento.
De referir que o dividendo trimestral é ainda complementado anualmente por um dividendo especial.
No total para 2022, o dividendo foi de 2,79 dólares por ação, proporcionando um rendimento bruto médio ao longo do ano de 4,6%.
Pontos fracos
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Demasiado prudente?
A gestão do grupo é bastante conservadora. Visando a excelência operacional em terrenos que lhe são familiares, a Paccar prefere não correr o risco de fazer grandes investimentos, mesmo que seja para superar a concorrência em mercados com forte potencial de crescimento. Assim, nos veículos elétricos ou a hidrogénio (transição energética), prepara-se para o futuro, mas muitas vezes via parcerias e sem pressas. Em nossa opinião, esta estratégia faz algum sentido porque os veículos a diesel são sempre mais rentáveis e eficientes em longas distâncias.
Além disso, não está presente na Índia e na China, apesar do potencial económico da Ásia. A Paccar teme ter que investir muito nestes mercados para obter resultados incertos, dado, em particular, o desenvolvimento de poderosos grupos locais que preferem cooperar com empresas europeias, a Volvo em particular. Em troca dessa atitude de esperar para ver, a Paccar mantém a flexibilidade financeira para prosseguir com uma ou outra aquisição, se um dia tiver de a fazer. -
Ética?
Há cada vez mais preocupações dos investidores com a natureza ética dos seus investimentos financeiros. O grupo diz que se orgulha por estar na vanguarda destes temas, principalmente nos rankings ESG. Mas, a realidade é mais complexa. Mesmo que não esteja parada, a Paccar não está na liderança em termos de transição energética (ou no combate à poluição). E, no passado, aconteceu o grupo acomodar-se às regras do mercado. Juntamente com outros fabricantes, a Paccar foi condenada em 2016 pela Comissão Europeia por fixação de preços durante quase 15 anos (de 1997 a 2011). A multa comum ascendeu a 2,9 mil milhões de euros. Esperemos que tenha servido de lição!
Entra na seleção
A Paccar não é uma pequena ação especulativa. Está em torno do 200.º lugar das maiores capitalizações bolsistas dos Estados Unidos (índice S&P 500).
Durante o difícil ano de 2022 para as bolsas americanas, a Paccar saiu-se muito bem (rendimento de 17,1%, em dólares).
Um desempenho que se justifica pelas qualidades do grupo, nomeadamente o seu bom posicionamento competitivo no segmento topo de gama e a sua eficiência operacional.
Os resultados dos últimos trimestres excederam as previsões dos analistas. Para 2023, espera-se um ano suficientemente sólido, mas a verdadeira recuperação só deverá acontecer em 2024.
E, mesmo que não haja crescimento económico, o grupo tem trunfos para limitar a extensão e a duração dos danos.
Graças a uma gestão bastante conservadora das suas finanças, a Paccar tem condições para retomar rapidamente um bom ritmo de crescimento num cenário de retoma económica.
Conselho:Comprar
Quem quer investir no setor automóvel pensa imediatamente em nomes como a Volkswagen, a Renault, a Stellantis, a GM.... e o subsetor dos camiões costuma passar despercebido.
A gigante americana Paccar (quase 40 mil milhões de dólares de capitalização bolsista) é uma boa aposta, apesar da subida da cotação, inclusive em 2022, e da incerteza económica atual.
Ao nível de cotação atual, de 13,5 vezes a estimativa (conservadora) do lucro por ação em 2024, o que fica dentro da média dos últimos 10 anos, vale a pena comprar a ação para a incluir no seio de uma carteira diversificada.