Até ao início de fevereiro, as ações da construtora Mota Engil tinham acumulado ganhos de 72% desde o início do ano, o que a colocava na altura como a empresa que mais valorizava na Europa.
No entanto, desde a apresentação dos resultados no dia 1 de março a cotação corrigiu 21%. O que aconteceu?
Esta valorização galopante deveu-se essencialmente às notícias acerca do forte aumento da carteira de encomendas e à avaliação favorável de um analista do CaixaBank/BPI.
Contudo, a realidade veio revelar que o otimismo presente no mercado era demasiado elevado para a situação atual.
O volume de negócios atingiu 3.804 milhões de euros, mais 47% face aos 2.592 milhões registados em 2021, o que representa um máximo histórico para o grupo, que assim antecipou para 2022 o valor que o seu plano estratégico previa que fosse alcançado apenas em 2026.
Um crescimento sólido acima das expectativas, com uma performance recorde na América Latina e em África.
A carteira de encomendas de 12,6 mil milhões de euros, é também a maior de sempre, e cerca de 67% acima da que detinha no final de 2021, quando somava 7.553 milhões.
Até aqui tudo bem. Contudo, a margem EBITDA caiu de 16% em 2021 para 14% em 2022. Um indicador preocupante, uma vez que o crescimento da carteira serve de pouco se as margens contraírem muito.
O resultado líquido foi de 41 milhões e cresceu 69% em relação ao ano anterior, mas a grande âncora que continua a pesar nos resultados é a dívida elevada.
O resultado financeiro negativo de 124 milhões de euros (três vezes mais que o resultado líquido) é ainda preocupante.
O rácio da dívida líquida/EBITDA é agora de 1,7x (2,7x em 2021), superando também desde já o objetivo previsto para 2026 de 1,9x.
Porém, isso deve-se quase inteiramente ao aumento do EBITDA visto que a dívida bruta praticamente não se alterou.
O nosso conselho
Os resultados apresentados revelam melhorias na atividade que já se refletiram nos lucros de 2022 e apesar da descida das margens e da dívida permanecer elevada, o crescimento da carteira de encomendas melhora, em muito, as perspetivas da Mota Engil.
A empresa estava desvalorizada com a cotação perto de 1,2 euros que se verificava em dezembro. A valorização desde o início do ano é de 37%, apesar da correção dos últimos dias que mostra que o entusiasmo até meados de fevereiro foi exagerado.
A avaliação em bolsa é agora correta. Mantenha em carteira.
Cotação à data da análise: 1,586 euros.