A EDP Renováveis (EDPR) teve lucros de 0,64 euros por ação em 2022, menos 6% face a 2021 mas ligeiramente acima do esperado. Sem fatores não recorrentes (imparidade por atrasos de construção na Colômbia), o lucro aumentou 2%.
Pela positiva, realce para o crescimento de 35% das receitas, suportado pela subida de 10% da produção de energia renovável e pelo aumento dos preços de venda (+21%), em especial na Europa, que mais do que compensaram a subida dos custos, que incluem 98 milhões de euros (ME) de impostos de recuperação na Polónia, Roménia e Itália, e os menores ganhos de capital obtidos com a política de rotação de ativos. No total, o EBITDA cresceu 23%.
Pela negativa, o elevado investimento efetuado, que quase duplicou, originou um aumento de 68% da dívida líquida e contribuiu, a par da subida do seu custo médio (de 3,4 para 4%) e de diferenças cambiais negativas, para o agravamento de 81% dos resultados financeiros.
Uma novidade foi a alteração da política de remuneração acionista. Em vez de distribuir um dividendo em dinheiro, a empresa propõe a atribuição aos acionistas de direitos de incorporação. Estes direitos permitirão escolher entre:
- receber novas ações a serem emitidas;
- vendê-los em bolsa;
- vendê-los à EDPR a um preço fixo.
Os termos finais deste programa irão ser definidos após aprovação em assembleia geral mas o objetivo é aumentar a remuneração acionista para um payout ratio de 30-50% (face a menos de 15% nos últimos 3 anos) e torná-la mais flexível. A EDP, que detém 74,98% da EDPR, já anunciou que ficará com os seus direitos para ter acesso às novas ações.
Por fim, a EDPR anunciou um novo plano de negócios 2023-2026, que visa acelerar o crescimento do grupo nas geografias onde opera, aproveitando os incentivos às energias renováveis existentes tanto nos EUA (Inflation Reduction Act), como na Europa (REPowerEU).
O plano prevê investir 20 mil ME no desenvolvimento de 17 GW de nova capacidade renovável (detém 14,7 GW atualmente). Para financiar parte do investimento, a EDPR fez um aumento de capital (não preferencial) de mil ME a um preço de 19,62 euros por ação (equivale a 5,3% do capital social), subscrito em 85% pelo fundo soberano de Singapura e o restante por investidores qualificados.
Neste plano, a estratégia de rotação de ativos mantém-se, com um encaixe esperado de 7 mil ME até final de 2026. A nível de resultados, as previsões apontam para um crescimento médio anual de 9% do EBITDA e do lucro líquido recorrente no período 2022-2026 e um rácio dívida líquida / EBITDA de 3,2 até 2026, face aos 2,8 registados no final de 2022.
Apesar do aumento de capital ter levado a uma ligeira diluição da posição dos atuais acionistas, ele era necessário para financiar o forte crescimento previsto.
Tendo já em conta o aumento de capital, prevemos agora lucros por ação de 0,63 euros em 2023 e de 0,68 euros em 2024.
O nosso conselho
Os resultados foram bons e o novo plano estratégico é ambicioso mas positivo e visa aproveitar a conjuntura favorável do setor. A nova política de remuneração acionista traz flexibilidade e é benéfica para os acionistas.
Cotação à data da análise: 21,03 euros