A EDP teve lucros anuais de 0,17 euros por ação, uma subida de “apenas” 3% face a 2021. Este valor é um pouco inferior ao previsto devido a custos não recorrentes relativos a imparidades em centrais térmicas no Brasil e na Península Ibérica. Em termos recorrentes, o lucro subiu 6% para 0,22 euros por ação, como previsto.
A nível operacional, realce para o bom desempenho das energias renováveis na Europa e das redes de eletricidade no Brasil, que compensaram as perdas causadas pela seca extrema em Portugal, que reduziu a produção hídrica e obrigou a EDP a recorrer a fontes mais caras (gás natural…) para produzir eletricidade. Ainda assim, a produção aumentou 3% graças à maior capacidade instalada (+6%) e o EBITDA do grupo cresceu 22%.
A nível financeiro, os resultados pioraram 78% devido ao aumento de 14% da dívida líquida, a refletir a aceleração do investimento, que duplicou face a 2021, e sobretudo do seu custo médio (4,4% face a 2,5%), nomeadamente no Brasil.
No novo plano de negócios 2023-2026, o grupo reforça a aposta no crescimento nas energias renováveis, pretendendo adicionar 18 GW de nova capacidade até 2026 (+4,5 GW por ano). A meta é atingir 33 GW de capacidade instalada em 2026 e 50 GW em 2030 (contra 22 GW em 2022). O investimento vai acelerar para 6,2 mil ME ao ano, 30% acima do plano anterior, para um total de 25 mil ME até 2026, sendo 85% em renováveis e 15% em redes de eletricidade. A EDP espera assim registar um crescimento médio anual de 6% do EBITDA recorrente e de 12-14% do lucro líquido no período 2022-2026, mantendo o rating da dívida em BBB, já que a estratégia de rotação de ativos é para manter (prevê encaixe de 8 mil ME com a venda de ativos até 2026).
A EDP anunciou ainda a intenção de lançar uma OPA sobre a EDP Energias do Brasil, detida diretamente em 56%, com o objetivo de a retirar de bolsa. Para financiar a oferta, a EDP realizou um aumento de capital de mil ME a 4,58 euros por ação no início de março, subscrito por investidores institucionais. Apesar de não terem tido direito de preferência, os acionistas sofreram apenas uma pequena diluição da sua posição (5,5%), e a operação é positiva já que permitirá aumentar os resultados e ganhar flexibilidade na gestão da atividade do grupo no Brasil.
O dividendo bruto referente a 2022 manter-se-á nos 0,19 euros por ação, como esperado, e deverá atingir, pelo menos, um valor de 0,20 euros em 2026.
Tendo já em conta o aumento de capital, prevemos agora lucros por ação de 0,24 euros em 2023 e de 0,28 euros em 2024.
O nosso conselho
Os lucros de 2022 ficaram um pouco abaixo do esperado, mas o novo plano estratégico continua a apontar na boa direção, visando colocar o grupo na liderança a nível da transição energética.
Cotação à data da análise: 4,75 euros