Em travagem ligeira
A Tesla entregou 1,3 milhões de carros elétricos em 2022 (+40% do que em 2021). Uma performance impressionante, mas abaixo das expectativas. Desde o início de 2021, estabeleceu o objetivo +50% ao ano.
Só que os problemas nas cadeias de abastecimento e o apetite reduzido dos consumidores travaram as entregas. Ainda é cedo para saber se é um fenómeno cíclico (declínio do poder de compra) ou se se deve à concorrência.
A Tesla continua a dominar o mercado norte-americano, mas a China já é controlada pela BYD (900 mil veículos elétricos em 2022). A situação também parece agora mais complicada na Europa, com uma oferta concorrente mais diversificada.
Apesar disso, a Tesla mantém o objetivo (demasiado otimista) de entregar quase 2 milhões de carros em 2023.
Melhoria financeira
Depois de anos de perdas, a Tesla tornou-se rentável apenas em 2020, gerando uma margem operacional de 6,3%. Em 2021, apesar da escassez de semicondutores, a margem duplicou para 12,1%.
E no ano passado, atingiu 16,8%, o suficiente para posicionar a Tesla entre os construtores mais rentáveis do planeta.
Além disso, ao produzir quase 1,4 milhões de veículos, demonstra que consegue operar com a produção em série.
Gama demasiado simples?
Uma das principais razões do sucesso da Tesla reside na simplicidade da gama, baseada no Model 3 e Model Y (1,25 milhões de unidades em 2022 ou 95% da produção total) conferindo vantagens em termos de economias de escala.
Mas pode perdurar? A falta de novidades, incluindo um modelo acessível por menos de 30 mil euros, é suscetível de penalizar as perspetivas de crescimento, à medida que aumenta a concorrência e a procura recupera.
A prioridade da Tesla é, neste momento, apostar nas vendas em novos países, em vez de ganhar quota onde já está presente. Em algum momento, terá de acompanhar a segmentação da procura para continuar a atrair clientes.
Grande inovação
Mesmo que se justifiquem alguns receios, a Tesla mantém-se bem posicionada, inovando em todas as áreas. Contorna os concessionários para poupar dinheiro na distribuição e manter contacto direto com os clientes.
Investiu na sua própria rede de carregamento, o que reduziu os obstáculos à compra dos seus veículos elétricos como também tem um potencial de crescimento significativo se abrir a rede a outras marcas.
A Tesla também está mais integrada. Desde o fabrico de baterias até às estações de carregamento e atualizações remotas de software, integra toda a cadeia de valor automóvel.
Nas suas fábricas, onde tem máquinas gigantescas com automatização avançada, a Tesla produz mais rápido e barato do que a concorrência.
E um CEO volátil…
Considerado um empresário visionário, Elon Musk tem estado envolvido ainda em maior controvérsia desde a tumultuosa aquisição do Twitter. O tempo dedicado à rede social prejudica o seu compromisso com a Tesla.
Até agora, a notoriedade de Musk tinha sido um trunfo para popularizar a marca Tesla, dando-lhe um posicionamento único, sem custos de marketing, ao contrário da concorrência.
Mas também tornou a marca Tesla inseparável do seu carismático líder, pelo que tem muito a perder se Musk se distanciar.
Conselho
A Tesla, pioneira dos veículos elétricos devia a sua avaliação estratosférica (ultrapassou 1 bilião de dólares!) a um estatuto especial. Graças à sua liderança e inovação, a Tesla era avaliada como uma empresa de tecnologia e não um construtor automóvel.
No entanto, os investidores aprenderam da maneira mais difícil que a Tesla é também um “fabricante de hardware” e não pode continuar a crescer exponencialmente.
A cotação da Tesla desceu mais à terra. Não é o suficiente torná-la numa oportunidade de compra, pois a ação não ficou barata, mas os investidores que queiram aceitar uma alta volatilidade podem agora manter a ação.
Cotação à data da análise: 201,29 dólares americanos.