O setor petrolífero regressou à vanguarda com a guerra na Ucrânia. Mas o setor não é o mesmo de há 10 anos.
Tal como a concorrência, a BP iniciou a viragem para renováveis e o GNL.
Muito dinheiro…
A gigante petrolífera BP deverá ter gerado uma liquidez de 34 mil milhões de dólares em 2022.
Tal como os concorrentes, a BP beneficiou de uma conjuntura marcada por preços ainda elevados dos hidrocarbonetos como o petróleo: 93,1 USD/barril vendido contra 65,5 em 2021.
Os resultados são também impulsionados pelas vendas de gás natural, cujos preços continuam igualmente elevados.
…para os acionistas
Após o financiamento de grandes investimentos, 40% do restante dinheiro é usado para reduzir a dívida. Por isso, sendo a BP mais endividada do que a média, é uma medida prudente e reduz o fardo da dívida numa altura em que as taxas de juro estão a subir.
Os restantes 60% são devolvidos aos acionistas, sobretudo através da compra de ações próprias.
Contudo, alguns grandes investidores que gostariam de ver um aumento nos pagamentos em dinheiro, um sinal de mais confiança.
Investimento na energia fóssil
O Golfo do México (petróleo de águas profundas) é central para a BP. Com 5 plataformas, pretende passar de uma produção atual de 290 mil barris/dia para 400 mil até 2025.
A BP está também a reforçar a sua presença no Canadá oriental e no petróleo em águas profundas, com uma produção-alvo de 200 mil barris/dia dentro de anos, a ser partilhada com os seus parceiros.
Com uma carteira de GNL menos recheada do que a dos concorrentes europeus e querendo aproveitar o aumento da procura, a BP está a multiplicar os investimentos para duplicá-la até 2030.
Com uma produção anual de 15 milhões de toneladas em 2021, quer atingir 25 milhões em 2025 e 30 milhões em 2030 graças a investimentos na Austrália, Mauritânia e Indonésia. Mas continuará longe da Shell, que vendeu 64 milhões de GNL em 2021.
Investimento nas renováveis
Nos próximos 10 anos, a maior parte do crescimento baseia-se no gás e petróleo, mas BP está a ceder aos constrangimentos ambientais, investindo em energias renováveis.
O roteiro estabelecido em 2020 é muito ambicioso e estipula uma redução de 40% na produção de petróleo até 2030. Dos investimentos, cerca de 15 mil milhões por ano, em 2025, 40% serão dedicados às renováveis e 50% em 2030.
Um grande salto, único no setor e com riscos de execução. Trata-se da produção de hidrogénio verde, postos de carregamento para veículos elétricos, RNG (biogás), etc.
Visa uma produção de eletricidade renovável de 50 GW até 2030 (apenas 2 GW instalados e 26,9 GW projetados). A TotalEnergies lidera com 7,4 GW instalados e 45,2 GW em desenvolvimento.
Desafios
A BP terá de enfrentar a concorrência da TotalEnergies, Shell e Repsol, que seguem estratégias semelhantes, mas também de utilities que procuram ficar “verdes”.
E a diversificação para as renováveis pode conduzir a menos cash flow, menor rentabilidade e a aquisições caras.
Em outubro, a BP pagou 4,1 mil milhões de dólares pela Archaea, um grande produtor de biogás. Um preço um pouco elevado que ilustra o risco do crescimento externo.
Petróleo: arma geopolítica
O Brent recuou abaixo dos 85 dólares com receios de maior abrandamento do crescimento económico global e uma menor procura. Recorde-se que preço do barril chegou a ultrapassar os 120 dólares.
A volatilidade surge porque o barril reage de forma muito rápida aos indicadores económicos e acontecimentos geopolíticos.
O equilíbrio de poder entre países (Europa, Rússia, Arábia Saudita, EUA Unidos, China, OPEP) são como placas tectónicas que se movem lentamente ou provocam terramotos.
É muito provável que, a longo prazo, os preços dos combustíveis fósseis continuem elevados, já que o investimento está a diminuir desde 2015, enquanto a procura continua elevada e as capacidades das renováveis são insuficientes.
O risco sobre os preços do crude explica a decisão da BP em não aumentar o dividendo mais rapidamente, que está ainda abaixo do valor anterior à pandemia.
Conselho
Em 2022, a BP valorizou 36% (cotação + dividendo, em euros), ou seja, mais do que a média do setor energético global (+25%).
Apesar deste bom desempenho, as ações da BP estão longe de estar caras. Negoceiam em 5 vezes os lucros de 2023. Quanto ao rendimento do dividendo, ronda os 4,4%.
Mas não vamos além de um conselho de "manter", dado os riscos de uma diminuição dos preços dos combustíveis fósseis.