Para responder às transformações na indústria automóvel, a Renault avança uma nova organização. Concretamente, definiu 5 divisões autónomas, cada uma com a sua especialidade, e abre a porta a novas parcerias:
- Ampère dedica-se a carros totalmente elétricos. A subsidiária pretende produzir 1 milhão de veículos em 2031 (dez vezes mais do que as vendas de elétricos de 2021). Para acelerar e financiar o desenvolvimento está prevista um IPO para o final de 2023.
- Alpine tornar-se-á a marca desportiva e 100% elétrica do grupo. Vendeu apenas 2700 veículos em 2021, mas pretende crescer 40% ao ano até 2030. Pode, eventualmente, ser objeto de um IPO.
- Mobilize visa iniciar o grupo rumo à mobilidade à la carte (partilha de carros, entre outros).
- Futuro é neutro dedicada à economia circular (reciclagem de baterias, entre outros).
- Power reúne o core business do fabricante continuando a desenvolver veículos híbridos e de combustão sob as marcas Renault e Dacia (low cost).
Estrutura complexa
Ao separar os seus ativos, a Renault pretende revalorizar a cotação (capitalização bolsista de 10 mil milhões de euros, contra 47 da Stellantis e 84 da Volkswagen). Este projeto pode parecer atrativo, tendo em conta as avaliações obtidas pelos construtores de automóveis elétricos (a Tesla vale ainda 570 mil milhões de dólares, apesar da queda de 2022), mas há dificuldades para separar as “atividades elétricas”.
De facto, até agora poucos fabricantes generalistas (à exceção da Ford e da Volvo) deram esse salto. Outros, como a Stellantis não têm intenção de dividir as suas atividades. Além disso, ao criar 5 novas filiais, com a participação de novos parceiros industriais e financeiros (Geely, Aramco e Qualcomm são mencionados como potenciais investidores), a Renault pode tornar a estrutura complexa.
Casamento de conveniência
A Renault quer aproveitar o projeto de spin-off para reequilibrar os laços de capital com a Nissan. Já frágil e minada pelo caso Carlos Ghosn, a aliança tem dificuldades para recomeçar projetos de grande escala.
Os ex-aliados já não estão no mesmo comprimento de onda e é questionável se ainda querem cooperar. Ao revelar o projeto de uma grande reorganização e unindo forças com outros parceiros, a Renault quer recuperar o controlo do destino, com ou sem a Nissan. Uma emancipação que pode ser bem-vinda, mas que, ao mesmo tempo, corre o risco de complicar a imprescindível revisão da importante parceria com o construtor automóvel nipónico.
Conjuntura menos favorável
Nos últimos dois anos, tal como todo o setor, a Renault acabou por beneficiar com a escassez de semicondutores. Ao focar-se na produção dos modelos mais rentáveis deverá gerar uma margem operacional superior a 5% em 2022 (3,6% em 2021).
A longo prazo, aponta para uma margem acima dos 8% em 2025 e dos 10% em 2030. Estas metas estão na média dos construtores generalistas), mas serão difíceis de alcançar para a Renault (nunca alcançou tais margens no passado).
Além disso, a situação económica será menos favorável em 2023. Espera-se que a inflação dos custos corroa a margem e, acima de tudo, a procura começa a enfraquecer na Europa (mais de metade das suas vendas). Assim, reduzimos as nossas estimativas de lucros por ação: 6 euros em 2023 (antes 7) e 8 euros em 2024 (antes 9).
O nosso conselho
O rácio cotação/lucro de apenas 4 é justificável pela desconfiança dos investidores numa estrutura complexa e o esboroar da aliança com a Nissan. O novo plano visa maximizar o valor total do grupo.
Atrativo no papel é, no entanto, de difícil execução. Pela positiva, os recentes resultados operacionais vão na direção certa graças a uma estratégia centrada na rentabilidade e não nos volumes, como no passado. Limite-se a manter a Renault se já tiver o título em carteira.
Cotação à data da análise: 34,39 euros