Verão foi infernal
Em agosto, três notícias abalaram a cotação da Sanofi. Em primeiro lugar, a suspensão do recrutamento de doentes para os ensaios clínicos do Tolebrutinib (esclerose múltipla).
O surgimento de casos de danos hepáticos levanta incertezas sobre a sua autorização. Em segundo lugar, crescem receios em torno do processo judicial nos EUA relativo ao Zantac, um medicamento gastrointestinal retirado do mercado em 2019 (riscos cancerígenos).
Em terceiro lugar, a paragem no desenvolvimento do Amcenestrant (cancro da mama) por falta de eficácia. O mercado tem reagido sobretudo aos riscos legais do Zantac, mas estamos relativamente tranquilos.
Por um lado, o mercado parece ter descontado o pior cenário. Por outro lado, nenhum estudo demonstrou uma ligação entre o Zantac e um possível risco cancerígeno. Mesmo no pior cenário, a Sanofi não é o único réu e partilhará potenciais multas.
Locomotiva Dupixent
No segundo trimestre, as vendas da Sanofi aumentaram 8,1%, favorecidas pelo sucesso de Dupixent, o tratamento para o eczema e a asma.
Comercializado nos Estados Unidos desde 2017, alcançou vendas de 5,25 mil milhões de euros em 2021 (+52,7% face a 2020).
No início do ano, a Sanofi elevou a meta de vendas anuais máximas do Dupixent, de 10 para mais de 13 mil milhões de euros. O tratamento conta com onze pedidos de aprovação adicionais até 2025 para novas indicações e faixas etárias.
Além do Dupixent, a Sanofi tem 13 outros medicamentos em desenvolvimento no domínio da imunologia. O grupo espera mais do que quadruplicar o volume de negócios das atividades de imunologia até 2030.
Na hemofilia possui dois produtos promissores em final do desenvolvimento, Efanesoctocog alpha e Fitusiran. Em todos os campos, a Sanofi oferece um pipeline confortável de cerca de 90 projetos, embora o Amcenestrant deixe um espaço para preencher.
Outro ponto forte: as vacinas
As vendas de vacinas aumentaram 8,7% no segundo trimestre, graças ao reinício dos reforços programados e das vacinas para os viajantes.
No que diz respeito à vacina contra a covid, desenvolvida com a GSK, a Sanofi aguarda a sua luz verde em outubro.
Os resultados clínicos recentes mostraram eficácia contra a variante ómicron e subvariantes. Se aprovada, terá um lugar na gestão endémica da covid.
Desafio mARN
A Sanofi perdeu o comboio das vacinas mARN contra a covid-19, mas não ficou afastada desta tecnologia. Vai investir 2 mil milhões de euros nos próximos cinco anos e adquiriu a parceira Translate Bio.
Os ensaios clínicos já estão em curso para testar uma vacina mARN contra a gripe, onde a concorrência é grande.Além das doenças infecciosas, as vacinas mARN também podem ser usadas no campo da imunologia, oncologia e doenças raras. Promessas atrativas, mas ainda por confirmar.
Boas perspetivas
A Sanofi está a aproveitar ao máximo o Dupixent e esperamos lucros por ação de 5,9 euros em 2022 e 6,5 euros em 2023. O objetivo de atingir um máximo até 2030 é prudente e é provável que venha a aumentar.
Se o Dupixent der tempo, a Sanofi que não tem perdas de patentes no horizonte (exceto o tratamento contra a esclerose Aubagio, em 2023) pode encontrar outros produtos de referência até ao final da década.
Uma tarefa mais premente, dado os receios em torno do Tolebrutinib e o fracasso do Amcenestrant.Esta será uma das tarefas de Frédéric Oudéa, atual CEO do banco francês Société Générale, que substituirá, em março de 2023, o presidente do Conselho de Administração Serge Weinberg.
Frédéric Oudéa trabalhará em conjunto com Paul Hudson, que continua a ser o CEO da Sanofi.
Conselho
Os investidores continuam demasiado céticos e não contemplam todos os pontos fortes da Sanofi, incluindo as suas qualidades mais defensivas, numa conjuntura económica difícil.
O espetro do Zantac poderá continuar a pairar nos próximos meses. Contudo, para o longo prazo, mantemos o conselho de compra.