Análise

Nvidia ameaça posição da Intel

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Publicado em: 09 outubro 2020
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A Nvidia beneficia com o dinamismo do gaming mas também da inteligência artificial, realidade virtual e veículos autónomos.

A empresa norte-americana de processadores gráficos valorizou mais de 130% este ano! A recente aquisição da ARM, se for bem sucedida, dará ainda uma maior dimensão. É de apanhar este comboio em andamento?

Líder nas ‘gráficas’

Pouco conhecida do público em geral, a Nvidia vale em bolsa mais de 293 mil milhões de euros, cerca de 150% o PIB de Portugal. Este gigante dos semicondutores construiu a sua fortuna nos processadores gráficos para computadores, consolas de jogos, smartphones e servidores.

Tem uma quota de mercado de 80% nas placas gráficas (GeForce), a sua especialidade. Também desenvolve processadores all-in-one (Tegra) para smartphones e tablets. Mantém fortes ambições nos data center, um mercado em rápido crescimento que é dominado pela Intel. A Nvidia também está bem posicionada para beneficiar da evolução na inteligência artificial, realidade virtual e veículos autónomos.

O volume de negócios por segmento está repartido por jogos (51%), data centers (27%), automóvel (6%), utilizações gráficas profissionais (11%) e outros (5%).

A Nvidia tem beneficiado nos últimos anos da loucura dos videojogos em PC e consolas que exigem, cada vez mais, um maior realismo. No entanto, o desempenho dos lucros não tem sido sempre espetacular. Nos últimos três anos, receitas e lucros por ação subiram, em média 12% e 10% ao ano, respetivamente. Porém, desde o início deste ano, os resultados registam uma forte subida.

Aquisição da ARM não está garantida

A Nvidia chegou a acordo com o Softbank para adquirir a ARM por 40 mil milhões de dólares, a maior compra na história dos semicondutores. Uma operação que, se for bem sucedida, será uma grande mudança para o setor. A ARM é única. Não projeta propriamente chips, mas é especialista na sua arquitetura que licencia à maioria dos designers de semicondutores. Os chips desenvolvidos a partir da arquitetura ARM são conhecidos por serem de baixo consumo energético e, por isso, adequados para smartphones e objetos conectados.

Só que a aquisição desta empresa por uma multinacional americana gera desconfiança das autoridades britânicas, apegadas ao seu gigante tecnológico, dos concorrentes da Nvidia e das autoridades chinesas. Obstáculos reduzem as hipóteses de sucesso da operação a menos de 50%.

A aquisição, que demorará, pelo menos, 18 meses se for bem sucedida, aceleraria as ambições da Nvidia nos chips para data centres, em detrimento da Intel. Seria também uma diversificação bem-vinda, pois a proliferação de jogos em nuvem irá, no futuro, pesar nas vendas de placas gráficas. A nível financeiro, a transação também nos parece interessante (preço baixo, pagamento sobretudo em ações da Nvidia, efeito nos lucros por ação do primeiro ano). No entanto, será preciso gerar bastantes sinergias porque a ARM tem margens baixas e o seu desempenho estagnou desde a aquisição pelo Softbank, em 2016, principalmente devido à desaceleração do mercado dos smartphones.

Disparo em 2020

Desde o início do ano, a cotação e os resultados têm vindo a crescer fortemente. A cotação subiu 136% (em dólares), o segundo melhor desempenho do índice S&P 500. Do lado dos resultados, no primeiro semestre do exercício de 2020/21, a receita subiu 45% e os lucros por ação subiram 88%.

O confinamento e o teletrabalho devido à pandemia da covid-19 impulsionaram o mercado dos jogos online, o tráfego de dados e as vendas de PC e, consequentemente, a procura de placas gráficas. Ao mesmo tempo, a rentabilidade operacional da atividade (margem operacional de 39,2%) é impulsionada pelo aumento do peso dos chips altamente rentáveis para data centres que já representaram 45% das vendas no 2.º trimestre (contra 25% há um ano). A ambição do grupo é poder, dentro de alguns anos, fornecer toda a gama de chips para servidores de computadores, incluindo processadores (CPU), um mercado que atualmente é dominado pela Intel.

Prefira Intel à Nvidia

A Nvidia é uma empresa de qualidade com fortes perspetivas de crescimento e que está a ganhar quota de mercado à Intel, mas a atual valorização em bolsa é demasiado elevada para uma compra. Com base nas estimativas de lucros de 2021, o rácio cotação/lucro é de 52, contra uma média de 20 nas ações de semicondutores dos EUA. Um prémio muito elevado em comparação com os seus homólogos, mas que não é irracional tendo em conta os pontos fortes do grupo. Os lucros por ação deverão aumentar mais de 20% ao ano no futuro próximo. Se detém ações da Nvidia, pode manter.

A ascensão da Nvidia está a pesar nos resultados e perspetivas da Intel, mas não ao ponto de justificar que as ações da Intel se transacionem a apenas 11 vezes o lucro esperado para 2021. Aconselhamos a compra da Intel. Essencialmente pelo nível de preço, é mais interessante do que a Nvidia.

 

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