O sucesso da Uber e de outras empresa de TVDE (transporte em veículos descaracterizados) reside nas tarifas mais baratas do que as praticadas pelos táxis tradicionais e uma oferta mais reativa e adaptada às necessidades dos clientes.
A Uber cobra uma comissão sobre cada viagem feita pelos condutores ligados à sua aplicação (cerca de 25% para o transporte de passageiros). Os seus funcionários, de um modo geral, não são considerados assalariados, mas trabalhadores independentes (até agora, pelo menos), o que permite escapar a numerosas e onerosas exigências em termos da legislação laboral e à que se aplica às empresas de táxi.
Contudo, a conjuntura já não está tão favorável. O serviço UberPOP, que permitia a qualquer um utilizar o seu veículo pessoal como táxi, levantou problemas por parte de motoristas de táxi e autoridades em vários países e foi abandonado pela empresa.
A Uber já só trabalha com motoristas profissionais, um modelo menos rentável. O principal risco para a Uber é que seja obrigada a considerar os seus condutores como trabalhadores por conta de outrem, com todas as consequência negativas (em termos financeiros) que daí advêm.
Mesmo assim, alguns países europeus proibiram completamente a atividade, enquanto outros impuseram fortes restrições. Na Rússia e na China, a Uber viu-se obrigada a vender as suas filiais aos gigantes locais Yandex e Didi, em troca de uma participação no capital destas empresas.
Rentabilidade incerta
A Uber é líder mundial e está ativa em mais de 700 cidades e 65 países, tendo 91 milhões de utilizadores registados nos seus serviços no final de 2018. O transporte de pessoas (táxi) e a locação de bicicletas e scooters elétricas gerou 81% do volume de negócios em 2018; a entrega de refeições (Uber Eats), 13% e o transporte de mercadorias, 6%. A empresa tem ainda outros projetos ambiciosos, como as viaturas autónomas, entrega por drones e veículos voadores de descolagem vertical.
Contudo, a Uber está longe de ser rentável. As perdas operacionais ultrapassaram os 3 mil milhões de dólares, em 2018, apesar de tudo, uma redução face aos mais de 4 mil milhões de 2017.
Esta falta de rentabilidade decorre da estratégia seguida pela Uber. Colocou como prioridade ganhar quota de mercado e alargar a sua rede, não poupando investimentos. Esta estratégia expansionista reflete-se nos resultados, com o volume de negócios em forte alta nos últimos anos, mas com importantes perdas operacionais.
Esta situação não é invulgar nas empresas tecnológicas que se estão a estrear em bolsa, mas a Uber admite que a sua situação deficitária deverá prolongar-se nos próximos anos.
O maior ponto fraco do grupo é a quase total ausência de fortes vantagens competitivas e não haver barreiras à entrada. Os clientes podem ter várias aplicações no telemóvel e os condutores podem oferecer os seus serviços em qualquer plataforma.
O volume de negócios cresceu rapidamente nos últimos anos, mas tal como o seu concorrente Lyft, a Uber também não conseguiu demonstrar ser capaz de obter lucros a partir da atividade.
Desvantagem de pioneiro
Paradoxalmente, ter sido a primeira empresa a chegar ao mercado pode não ter sido uma vantagem para a Uber, dados os obstáculos legais. Se falha em conseguir mudanças favoráveis na legislação, tem que desistir com perdas. Se tem sucesso, abre caminho à concorrência para se instalar e pressionar em baixa as tarifas e portanto a rentabilidade da Uber nesse mercado.
Serviços adicionais como a entrega de refeições e o transporte de mercadorias podem ser motores de crescimento adicionais, mas são mercados igualmente muito concorrenciais e de rentabilidade incerta.
Quanto a projetos a longo prazo, como a viatura autónoma e os carros voadores, não é um dado adquirido que a Uber consiga ter retorno dos seus pesados investimentos.
Conselho: mantenha-se afastado
A Uber fixou o intervalo de preços para a OPV (Oferta Pública de Venda) entre 44 e 50 dólares. Valores que representam uma valorização da empresa de aproximadamente 8 vezes as receitas, comparável à da sua concorrente Lyft que entrou em bolsa a 3 de abril e cuja cotação já caiu cerca de 15%.
Consideramos ser um valor algo elevado para uma empresa que arrisca demorar vários anos até apresentar lucros, num negócios sem grandes barreiras à entrada ou vantagens competitivas assinaláveis. Em suma, a aposta parece-nos demasiado arriscada, mantenha-se afastado.