Análise

Depósitos ou certificados: onde investir?

homem a descer com guarda chuva

Neste momento, os resgates de Certificados de Aforro já ultrapassam as novas subscrições.

Publicado em: 19 março 2024
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Neste momento, os resgates de Certificados de Aforro já ultrapassam as novas subscrições.

A nova série F dos Certificados de Aforro vale menos. Mas com as taxas dos depósitos a cair, este produto do Estado volta a ser uma alternativa? 

Até maio do ano passado, os Certificados de Aforro foram reis, a render 3,5% brutos de taxa base e acima dos depósitos. Mas tudo mudou no início de junho de 2023, com a emissão da série F, bem menos interessante: taxa base máxima de 2,5%, que se mantém desde essa data. 

Nesta nova série aumentou o prazo máximo para 15 anos e o prémio de permanência encolheu para metade nos primeiros 9 anos; além disso, deixou de ter o spread de 0,5% que acrescia à média da Euribor a três meses. Na prática, a taxa de juro base da série F pode variar entre 0% e 2,5%.

Entretanto, durante a segunda metade de 2023, as taxas dos depósitos foram subindo progressivamente. Recentemente, desde o começo de 2024, o cenário das taxas de juro está novamente a mudar e começam a verificar-se os primeiros cortes, fruto da expetativa de corte da taxa diretora da zona euro que, no entanto, deverá ocorrer apenas no verão. 

Assim, desde o início do ano, que também as taxas Euribor começam a registar descidas, sobretudo as de prazos mais longos. E Euribor a três meses, à qual está indexada a taxa base dos Certificados de Aforro, ainda não desceu significativamente: no início de dezembro era de 3,96% e no início de março está em 3,94%. Por essa razão, a taxa base da série atual dos Certificados de Aforro mantém-se em 2,5% bruta há 10 meses, desde o seu lançamento.

Nova série dos Certificados nunca convenceu

Mas é um facto que esta nova série nunca convenceu os subscritores. Desde o seu lançamento que as novas subscrições foram diminuindo, de tal forma que os resgates já ultrapassam as novas subscrições. Os Certificados de Aforro voltaram a perder dinheiro pelo terceiro mês consecutivo. 

Certificados de Aforro: resgates superam as novas subscrições há 3 meses (em milhões de euros)

certificados aforro

O investimento nestes certificados, que geraram forte entusiasmo na primeira metade do ano passado, caiu 8 milhões de euros em novembro, 5 milhões em dezembro e 17 milhões em janeiro. As famílias portuguesas tinham 34 059 milhões de euros investidos nos Certificados de Aforro no final de 2023, mais 14 433 milhões do que no final de 2022, refletindo a corrida das famílias que se verificou na primeira metade de 2023, antes de o Governo alterado a série e cortado a remuneração. No final de janeiro deste ano, esse montante desceu para 34 042 milhões.

Com os depósitos a cair, os Certificados são uma opção?

Por enquanto, não! Não se apresse a subscrever Certificados de Aforro porque não vale a pena. Pelo contrário, aproveite a oferta significativa de depósitos com rendimento superior aos Certificados de Aforro e opte por um prazo mais longo (de um a 5 anos), mas sempre permitindo mobilização antecipada.

Quanto aos próximos meses e anos, vai depender do ritmo de descida das taxas de juro, pois a descida da taxa de juro do BCE será prejudicial tanto aos depósitos bancários, como aos Certificados de Aforro.

Lembre-se que a taxa base dos Certificados de Aforro é calculada com base na média da Euribor a 3 meses. Tudo vai depender da forma como os bancos vão refletir os cortes na taxa diretora do BCE na oferta dos seus depósitos e na forma como a Euribor a 3 meses cairá.

Devemos alertar que, ainda que numa primeira fase de descida da Euribor ainda não afete a taxa base dos Certificados, pois a Euribor a três meses está bastante acima de 2,5%, a partir do momento em que a Euribor caia abaixo de 2,5%, a taxa base dos Certificados de Aforro poderá atingir os 0% mais rapidamente do que na série anterior, já que não existe um spread adicional de 0,5% na fórmula de cálculo que acrescia à média da Euribor, como na série anterior.

Mas vamos a contas: supondo que a taxa base dos Certificados de Aforro se mantém e considerando os respetivos prémios de permanência crescentes, se aplicar pelo prazo de um ou cinco anos, a TAEL é de 2%; e de 2,1% para prazos de 7 e 10 anos. Efetivamente, o prémio de permanência não é muito significativo, pois foi cortado para metade nos primeiros 9 anos, face à série anterior.

Se compararmos com a oferta atual de depósitos bancários, a 1 ano consegue taxas até 3,1% líquidas e até 2,2% a 5 anos. Ou seja, para o prazo de um ano, apenas os melhores depósitos conseguem bater a inflação estimada (2,9% em 2024, segundo estimativa do Banco de Portugal).

  Quanto rendem os certificados e os melhores depósitos? (TAEL, em %)

1 ano 5 anos 7 anos 10 anos
O melhor depósito 3,1(1) 2,2 (1) - -
Certificados de Aforro (Série F) 2 2 2,1 2,1
Certificados do Tesouro Poupança Valor 0,5 0,6 0,7 -
(1) No Banco BNI Europa.

Não há oferta de depósitos por prazos superiores a cinco anos. Poderá até pensar que para prazos superiores a 5 anos, os Certificados de Aforro são a melhor opção, mas a simulação apresentada é supondo que a taxa atual se mantém, o que é pouco provável. Basta que exista uma queda da Euribor de 0,1% por trimestre (ou seja, queda de 0,4% ao ano), para render apenas 1,4% a 5 anos e 1% a 10 anos. Experimente a nossa calculadora de Certificados de Aforro em função da Euribor.

Já os Certificados do Tesouro Poupança Valor, são atualmente os menos interessantes, com rendimento abaixo de 1% para prazos até 7 anos, que é o prazo máximo da aplicação.

 

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