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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Obrigações Benfica SAD 2022-2025: deve investir?
Há um ano - 17 de maio de 2022
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Conheça as principais características das obrigações Benfica SAD 2022-2025.
Qual o mínimo para investir?
Cada obrigação tem um valor de 5 euros e o mínimo a investir são 500 obrigações, ou seja, 2500 euros.
Em que datas?
O período de subscrição vai desde 16 de maio até 27 de maio. Os resultados da oferta, nomeadamente quantas obrigações serão atribuídas, serão apurados a 30 de maio, e a 1 de junho está prevista a emissão e a admissão à negociação dos títulos na Euronext Lisboa.
Os investidores podem revogar as ordens de subscrição durante todo o prazo da oferta.
Qual o juro pago?
As obrigações pagam um juro de 4,6% (taxa anual bruta), que é equivalente a uma taxa efetiva líquida de impostos de 3,34%. Contudo, deve ainda ter em atenção os custos do intermediário financeiro que, consoante o montante a aplicar, podem penalizar bastante esta rentabilidade.
Recomendamos que peça ao seu banco ou corretora a simulação da taxa de rentabilidade do investimento considerando todos os custos e impostos. Note que deve considerar a comissão de guarda de títulos se ainda não possui uma conta de títulos no intermediário que vai usar.
Os juros (cupão) são pagos duas vezes ao ano, a 1 de junho e 1 de dezembro. Por cada obrigação que detiver, vai receber 0,08 euros líquidos de impostos, nestas datas.
Qual a duração do investimento?
As obrigações têm um prazo aproximado de 3 anos, devendo a Benfica SAD reembolsar o capital investido a 1 de junho de 2025.
O que mais preciso de saber?
O código ISIN que vai identificar estas obrigações é o PTSLBMOM0016.
Embora haja uma tendência natural para comparar as taxas de juro das obrigações com os depósitos, os riscos são totalmente diferentes e bastante mais elevados no caso das obrigações, em particular tratando-se, como neste caso, de obrigações de alto rendimento / alto risco.
Deve investir?
Esta emissão, no valor de 60 milhões de euros (após o emitente ter optado a 23 de maio por aumentar o valor, dos 40 milhões iniciais) destina-se a reforçar a liquidez da SAD “encarnada”, tendo em conta o reembolso das obrigações 2019-2022 que está prevista para dia 20 de maio. Relativamente à anterior emissão da Benfica SAD, a remuneração aumentou 0,6% brutos face aos 4% da obrigação emitida em 2021.
Risco versus Rendimento
Primeiro a pandemia, depois os insucessos desportivos, deixaram sequelas profundas nas contas da Benfica SAD. O último exercício completo (corresponde sensivelmente à época 2020/21) foi ainda distorcido pela pandemia. Mas usando como referência os últimos resultados semestrais (à data de 31 de dezembro de 2021; tendo em conta que as SAD fecham as contas em junho), verificamos a degradação dos indicadores comparativamente ao período pré-pandemia.
O rácio de liquidez corrente (recomenda-se valor de 1 ou superior) caiu para 0,5 quando estava em 1,4 no final da época 18/19. O rácio de cobertura dos custos financeiros pelo EBITDA excluindo transações com jogadores (dá-nos uma ideia da capacidade de fazer face às responsabilidades de curto prazo sem depender de vendas de jogadores; é considerado um bom valor se for de 3 ou mais) caiu para 0,4 face a 0,8 no final da época 18/19 (e anteriormente já se tinham registado valores superiores).
Do ponto de vista do endividamento, verificamos que a autonomia financeira apenas se reduziu ligeiramente: passou de 25% para 23%, no mesmo período (recomenda-se geralmente 30% ou mais, que já foram ultrapassados em anos anteriores). Além disso, visto no contexto, este número confere uma maior preocupação porque o ativo (em particular a liquidez em caixa) e os capitais próprios “encolheram” enquanto a dívida financeira (incluindo créditos cedidos) aumentou ligeiramente. Como resultado, o clube depende mais da dívida, com o rácio Debt to Equity a passar de 1,1 em 18/19 para 2.
Resta dizer que o timing das compras/vendas de jogadores pode alterar bastante os indicadores. Mas também é verdade que o menor sucesso desportivo tende a reduzir a possibilidade de realizar grandes mais-valias na alienação dos passes dos atletas.
Portanto, o risco aumentou, o que é uma má notícia também porque os mercados estão agora muito mais exigentes em termos de remuneração. O índice de obrigações com rating “B” que usamos como medida de comparação está atualmente com um rendimento em torno de 7% (brutos), muito acima dos 4,6% que as obrigações do Benfica oferecem. Em emissões anteriores, a remuneração chegou a estar alinhada com as taxas do mercado.
Invista com a razão, não com o coração
Uma ideia que mencionamos em todas as análises às obrigações das SAD é que as contas estão muito dependentes dos resultados desportivos, e estes são voláteis por natureza.
No passado, os anos consecutivos de sucesso desportivo (entre 2014 e 2019) tinham deixado a Benfica SAD numa posição financeira invejável face aos seus pares e até outras cotadas do PSI, ao ponto de termos então considerado como aceitáveis para investimento as obrigações emitidas em 2019. Um investimento tudo indica com sucesso, já que esta emissão deve reembolsar agora, a 20 de maio.
Mas agora produziu-se o efeito oposto, e a SAD encarnada está muito longe de oferecer as mesmas garantias para o futuro. Se juntarmos a isso a recente subida das taxas de juro, que já se refletem no mercado de obrigações, a conclusão é clara: o rendimento desta emissão está longe de compensar o risco. Por isso, fique afastado: não invista!
Os pequenos investidores, com menos alternativas de investimento, podem ser tentados a comparar o rendimento com a remuneração dos depósitos a prazo e Certificados do Estado. Não deve cair nesse erro! Primeiro, porque os níveis de risco são completamente diferentes e muito mais elevado nas obrigações da Benfica SAD. Segundo, porque as taxas de juro estão a começar a subir. Consulte o nosso último artigo sobre os Certificados de Aforro e do Tesouro.
Atenção aos custos!
Uma nota final para os custos. Recentemente, a CMVM destacou que, em 2021, recebeu diversos pedidos de informação de investidores que subscreveram ou compraram obrigações em pequenos montantes e portanto acabam por ter um rendimento negativo após comissões e impostos.
Este é um erro facilmente evitável, pois os intermediários financeiros são obrigados a indicar ao investidor a taxa anual efetiva líquida. O único cuidado a ter é incluir a comissão de guarda de títulos, se não tem ainda valores mobiliários no intermediário financeiro em causa. Este valor pode ter um grande efeito no rendimento.
Aliás, aplaudimos o facto de os montantes mínimos de investimento terem vindo a subir nas emissões mais recentes: era de apenas 100 euros na emissão de 2019, é agora de 2500 euros. Não prejudica os investidores, porque investir em montantes menores não é nada compensador.
Acreditamos que os nossos subscritores não caiam nesta armadilha, mas podem alertar amigos e conhecidos que investem só “pela camisola”.
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