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Obrigações Benfica: cartão vermelho?
Há um ano - 13 de julho de 2021
A pandemia e os maus resultados desportivos tiveram impacto nas contas do Benfica.
As notícias em torno da Benfica SAD têm-se sucedido, e neste momento já ultrapassam a figura do seu presidente. A CMVM comunicou que detetou diversas irregularidades, nomeadamente quanto à estrutura acionista da SAD. Existirão acordo de compra e venda de ações por parte de acionistas relevantes que não foram comunicados ao mercado.
No que diz respeito à operação de subscrição de obrigações em curso (obrigações Benfica SAD 2021-2024), que analisamos neste artigo, estas notícias apenas reforçam o nosso conselho de não investir. Independentemente da ação do regulador, os investidores são responsáveis pelo risco que assumem e neste momento ninguém pode dizer que não foi avisado. Recordamos que os investidores que já deram ordens de subscrição podem anular as mesmas até dia 16 de julho (sexta-feira).
Acionistas da Benfica SAD preocupados
As irregularidades detetadas pela CMVM devem preocupar, antes de mais, os acionistas da Benfica SAD, que chegaram a ver as ações suspensas de negociação em bolsa (ironicamente, quase um ano exato sobre outra suspensão de negociação que ocorreu a 14 de julho do ano passado, na altura por notícias de uma investigação da autoridade tributária).
Sempre defendemos que, aparte razões afetivas, os investidores deveriam manter-se afastados das ações das SAD. E, no caso particular da Benfica SAD, recomendamos a venda dos títulos após o falhanço da bizarra OPA em que o clube se propunha comprar os títulos da SAD quase ao dobro do preço de mercado de então.
Obrigações Benfica SAD rendem 2,9% líquidos
Pandemia e o impacto nas contas
A tendência de fraqueza já se observou nos resultados de 2019/20, mas sobretudo os últimos resultados semestrais (até dezembro de 2020) mostram esse impacto: grande queda das receitas (-47% face ao período homólogo) e resultado operacional negativo (excluindo resultados com passes de atletas). Como consequência também do forte investimento, o endividamento voltou a crescer. E a tendência negativa deverá ter-se acentuado no segundo semestre.
Em consequência, os rácios financeiros degradaram-se. O rácio de liquidez corrente (0.81) caiu abaixo de 1 (valor recomendado), o resultado operacional (antes de operações com passes) deixou de ser suficiente para cobrir os encargos com a dívida e a autonomia financeira reduziu-se (embora, em 28%, seja ainda um valor adequado). A degradação deverá continuar nos próximos períodos.
Em termos comparativos, situamos o risco da Benfica SAD ainda entre os níveis BB e B, mas agora mais próximo deste último nível. Os índices de obrigações de alto risco em euros estão com uma taxa de rendimento bruta (“yield to maturity”) de cerca de 2,2% para obrigações BB e de 4% para obrigações de nível B. As obrigações do Benfica estão ainda assim alinhadas com o limite mais exigente do intervalo que definimos.
Luís Filipe Vieira e a operação "Cartão Vermelho"
A pandemia continua a colocar alguns desafios específicos ao negócio do futebol (só a interdição do estádio terá feito perder 22 milhões de euros de receitas), e como a evolução recente tem provado, pode ainda afetar a época 2021/2022.
Mas, mais importante, a Benfica SAD atravessa um período mais conturbado, com maus resultados desportivos e instabilidade interna, sobretudo com os últimos desenvolvimentos judiciais do caso "Cartão Vermelho", que envolve diretamente o presidente do clube, Luís Filipe Vieira, suspenso agora de funções.
Apesar de os juros oferecidos serem em teoria aceitáveis, não recomendamos o investimento devido à instabilidade interna que o clube atravessa e que está a desviar as contas do caminho da sustentabilidade. A “explosão” dos últimos dias vem ainda mais reforçar o nosso conselho de não investir.
Mesmo assumindo que não venham a ser descobertos factos que afetem as contas do clube (algo que infelizmente é sempre uma possibilidade, neste tipo de situação), a SAD provavelmente não vai escapar incólume do ponto de vista financeiro, de formas mais ou menos indiretas: a perturbação na preparação da época desportiva pode afetar o desempenho desportivo, nomeadamente o vital acesso à Liga dos Campeões e os seus milhões, a marca Benfica fica menos apetecível para patrocinadores, entre outras consequências.
Datas-chave das Obrigações Benfica SAD 2021/2024
- 5 julho: Início do período de subscrição.
- 16 julho: Prazo limite para alterar e cancelar ordens.
- 26 julho: Apuramento dos resultados e divulgação do número de obrigações a atribuir.
- 28 julho: Subscrição e admissão à negociação na Euronext Lisboa.
Consulte também a nossa análise às Obrigações Benfica SAD 2020-2023.
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