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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Obrigações Sporting SAD 2021-2024: tudo o que precisa de saber
Há um ano - 26 de novembro de 2021
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.

O período de subscrição das novas obrigações do Sporting inicia-se a 22 de novembro.
Conheça as principais características da nova emissão das obrigações Sporting SAD 2021-2024.
Qual o mínimo para investir?
Cada obrigação tem um valor de 5 euros e o mínimo a investir são 400 obrigações, ou seja, 2 mil euros.
Em que datas?
O período de subscrição vai desde 22 de novembro até 6 de dezembro. Os resultados da oferta, nomeadamente quantas obrigações serão atribuídas, são apurados dia 7 de dezembro, e a 10 de dezembro espera-se a emissão e a admissão à negociação na Euronext Lisboa.
Os investidores podem revogar as ordens de subscrição durante todo o prazo da oferta.
Qual o juro pago?
As obrigações pagam um juro de 5,25% (taxa anual bruta), que é equivalente a uma taxa efetiva líquida de impostos de 3,81%. A remuneração oferecida é a mesma das anteriores obrigações.
Recomendamos que peça ao seu banco ou corretora a simulação da taxa de rentabilidade do investimento considerando todos os custos e impostos. Note que deve ser incluída a comissão de guarda de títulos se ainda não possui uma conta de títulos no intermediário que vai usar.
Por exemplo, na nossa parceria com o Banco Carregosa, um investimento de 5 mil euros tem uma taxa efetiva líquida de 3,6% (sem considerar a comissão de guarda de títulos).
Os juros (cupão) são pagos duas vezes ao ano, a 10 de junho e 10 de dezembro. Por cada obrigação que detiver, vai receber 0,095 euros líquidos de impostos, nestas datas.
Qual a duração do investimento?
As obrigações têm um prazo aproximado de 3 anos, devendo o Sporting SAD reembolsar o capital investido a 25 de novembro de 2024.
O que mais preciso de saber?
O código ISIN que vai identificar estas obrigações é PTSCPIOM0009.
Embora haja uma tendência natural para comparar as taxas de juro das obrigações com os depósitos, os riscos são bastante diferentes e mais elevados no caso das obrigações, em particular tratando-se de obrigações alto rendimento / alto risco.
A nossa análise
Esta emissão tem a finalidade de reembolsar a anterior que está a chegar à maturidade. A Sporting SAD contratou um sindicato de 10 bancos colocadores (mas sem tomada firme), que inclui o Banco Carregosa. Os interessados podem beneficiar da nossa parceria de corretagem que inclui uma redução na comissão sobre os juros pagos.
Risco versus Rendimento
Embora a situação de partida já não fosse boa, a pandemia provocou grandes estragos nas contas da SAD “verde e branca”. Na última época (20/21) as receitas de bilhetes foram praticamente nulas, por exemplo.
Os capitais próprios mantêm-se em terreno negativo desde o exercício 2016/17 (as SAD fecham as contas em junho), mas terminou a época 20/21 com o valor mais baixo desde que acompanhamos as emissões da SAD: -41 milhões de euros. Situação tradicionalmente designada de “falência técnica”.
Não se aplicam portanto os rácios que medem o endividamento. Mas como está a capacidade para fazer face às responsabilidades a curto prazo?
O rácio de liquidez corrente, que se recomenda ser pelo menos de 1, está em apenas 0,24, e nos últimos cinco exercícios esteve sempre abaixo de 0,5.
Verificamos que nos últimos cinco anos, os resultados operacionais (antes de transações de passes de jogadores) foram negativos, ou seja, as receitas (principalmente bilheteira, direitos de transmissão, patrocínios e prémios UEFA) foram insuficientes para pagar os custos de funcionamento do clube (principalmente as remunerações do pessoal e serviços), mesmo antes de se considerarem os custos financeiros.
Este desequilíbrio é estrutural, e para se manter em funcionamento, a SAD tem estado dependente de realizar mais-valias com jogadores, que são uma fonte de receita irregular e dependente dos resultados desportivos.
Refira-se que no primeiro trimestre do exercício em curso (período agosto a setembro) a SAD registou um bom resultado líquido de 18,7 milhões de euros. Mas isto foi possível sobretudo pelo prémio de acesso à Liga dos Campeões (27 milhões de euros, por si só superior à melhoria no resultado operacional, a que acrescem 5,6 milhões de euros pelo desempenho desportivo) e receitas de vendas de jogadores (incluindo o reconhecimento parcial do empréstimo de Nuno Mendes), pelo que não se pode afirmar que seja uma nova tendência.
Portanto, em termos de risco de crédito, parece-nos que o termo de comparação adequado são obrigações com notação de risco em torno de CCC (escala Standard & Poor’s), nos níveis mais baixos da escala e descritos como “extremamente especulativos”.
O índice que usamos como comparação está com um rendimento (“yield to maturity”) de 7,5%, bastante acima dos 5,25% em termos brutos oferecidos por esta emissão de obrigações.
Riscos específicos do futebol
Do ponto de vista do investimento, não apreciamos, em particular, o negócio do futebol. Está dependente da volatilidade dos resultados desportivos e há a constante tentação de sacrificar a sustentabilidade financeira para reforçar a competitividade da equipa, por vezes sem colher resultados.
Além disso, enquanto espetáculo público, está muito vulnerável à Covid 19. A situação sanitária melhorou bastante mas ninguém pode dizer que não venham a existir novos condicionamentos. E o mercado de transferências de jogadores encolheu cerca de 40% em 2021, por comparação com 2019.
Finalmente, no caso do futebol português, não se devem esquecer os riscos legais e reputacionais, que se têm vindo a materializar nos últimos anos nas SAD dos “três grandes”. O prospeto da operação relembra que o Sporting está envolvido em alguns processos judiciais, e embora não nos pareça um risco muito premente, é outro aspeto que não deve ser totalmente ignorado.
Conselho: não invista
Os dados acima referidos dispensam grandes considerações: um emitente numa situação financeira muito frágil, num negócio avesso a contas sólidas e com um juro abaixo da remuneração do mercado para o nível de risco que avaliamos existir.
Nestas condições, o nosso conselho é claro: não invista. A taxa de juro é tentadora se for comparada com opções de baixo risco, mas não é suficientemente compensado pelo elevado risco em que incorre.
Aliás, os investidores devem recordar-se que no passado recente o Sporting já foi forçado a adiar o reembolso de obrigações, ainda que tenha pago juros durante o período em causa, e a última emissão não foi completamente colocada.
No caso das obrigações do futebol, lembramos sempre que a nossa análise é exclusivamente na ótica do investidor. Os simpatizantes do Sporting podem estar interessados em ajudar o seu clube, haja ou não muito risco. Ainda assim, atenção em não arriscar capital que possa necessitar, e informe-se acerca do rendimento incluindo todos os custos.
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