Em 2024, os Estados Unidos registaram um défice comercial com a China de 295 mil milhões de dólares. Esta situação não é nova e Donald Trump, no seu primeiro mandato presidencial, multiplicou as medidas para encurtar o défice, mas sem sucesso.
O défice real está hoje próximo do valor de 2016 (347 mil milhões), mas a descida oficial do valor do défice comercial é aparente. Esta diminuição deve-se apenas à estratégia da China em produzir ou transitar as suas mercadorias por países terceiros.
O défice comercial americano face ao Vietname, onde as empresas chinesas se instalaram em massa nos últimos anos, passou de 32 mil milhões em 2016 para 123 mil milhões em 2024. Agora, de escalada em escalada, Washington quer taxar as importações chinesas em 145%. Em represália, Pequim anunciou uma taxa de 125% sobre os produtos norte-americanos.
China pronta para a guerra
Com o desenvolvimento económico baseado nas exportações, a China tem muito a perder numa guerra comercial, especialmente porque os EUA são o seu maior cliente. Ver este mercado completamente fechado devido a tarifas proibitivas 145% seria uma catástrofe e precipitaria a economia chinesa na recessão.
No entanto, as trocas não cessarão de um dia para o outro. Por um lado, os produtos chineses poderão continuar a transitar por países terceiros. É certo que Trump quer impor direitos aduaneiros a todos os países e visou especialmente aqueles, como o Vietname, que servem os interesses chineses.
No entanto, suspendeu-os rapidamente para atenuar as turbulências financeiras. Restabelecer todas as tarifas anunciadas no “dia da Libertação” não será fácil, pois taxar todo o mundo corre o risco de isolar os EUA e de ver a China formar ou reforçar alianças “anti-americanas”.
Além disso, parte dos produtos chineses, que deixarão de seguir para os Estados Unidos, poderão ir para outros destinos, quer no estrangeiro, quer no mercado interno, onde a retoma do consumo das famílias é prioritária para Pequim.
Por fim, por muito que seja o desejo da Casa Branca, os Estados Unidos não poderão prescindir de todos os produtos chineses.
Dependência americana
Com um défice comercial significativo e exportando apenas 7% das suas mercadorias para a China, Trump pensa que os EUA serão pouco atingidos por taxas alfandegárias impostas por Pequim. Porém, se a China precisa dos consumidores americanos, os EUA precisam dos produtores chineses.
O iPhone da Apple ilustra perfeitamente esta dependência: 90% da produção está concentrada na China. Por exemplo, o iPhone 16 contém 387 peças fornecidas quase exclusivamente por produtores chineses. Encontrar outros fornecedores é hoje impossível. Tomando agora consciência desta realidade, Trump suspendeu as tarifas sobre os produtos eletrónicos.
Porém, a dependência dos EUA não se limita à eletrónica. É quase total em 10% dos bens de consumo, como os brinquedos. Tornando-se a fábrica do mundo, a China é incontornável nestes produtos e certos bens intermédios.
Metade das exportações chinesas para os EUA destina-se a ser incorporada na produção de outros bens. Taxar a 145% estes produtos é penalizar os produtores americanos em relação aos seus concorrentes estrangeiros.
Acordo difícil de alcançar
A postura agressiva de Donald Trump face à China não facilita as relações com Pequim. Os dirigentes chineses acreditam que a economia resistirá melhor e mais tempo à guerra comercial do que aconteceria no passado.
Não só os EUA precisam dos produtos chineses, como a China pode também causar danos noutros domínios, como os serviços, onde os EUA têm um excedente comercial.
E é preciso não esquecer que a China é um importante credor dos Estados Unidos e pode provocar turbulências no mercado da dívida, bastando simplesmente reduzir as compras de obrigações do Tesouro americano.
Será, portanto, difícil e demorado negociar um acordo que beneficie ambos os protagonistas. Entretanto, a atividade económica na China, nos EUA e a nível global sairá penalizada.
Conselho
Mesmo no contexto atual de grandes turbulências comerciais e financeiras, os EUA e a China ainda apresentam perspetivas interessantes a longo prazo.A China soube construir uma sólida posição na indústria mundial e em setores de futuro, como os veículos elétricos, baterias e energia solar. A próxima etapa é desenvolver o mercado interno para que a China tenha todas as condições para prosseguir o seu desenvolvimento económico.
Nos EUA, apesar das políticas do Presidente Trump, que atualmente preocupam muitos investidores, o país detém trunfos, incluindo o mais importante mercado financeiro global e, como Trump, refere um vasto mercado interno.
Mantemos parte das carteiras investidas em ETF de ações dos EUA e da China.
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