A pressão sobre o Iene não é recente. Quando, a partir de março de 2022, os principais bancos centrais começaram a combater a inflação pós-pandemia, o Banco do Japão não seguiu a mesma abordagem.
Após anos de luta contra a deflação, Tóquio recebeu bem o aumento dos preços. Com as taxas de juro acima de 5% nos EUA e superiores a 4% na zona euro, os investidores não tinham interesse em aplicar em ienes a render perto de 0%. Um diferencial significativo nas taxas de juro que contribuiu para a acentuada desvalorização do iene: em 2022, perdeu 15% face ao dólar e, em 2023, mais 7%. Este 2024, a depreciação contra o USD ronda os 5% até meados de agosto.
É certo que, em março de 2024, o Banco do Japão decidiu uma primeira subida da taxa diretora de -0,1% para o intervalo 0% a +0,1%, mas de pouco serviu para inverter a tendência, dado que a Reserva Federal continuou a adiar o corte das taxas nos EUA para o segundo semestre 2024.
Escolhas difíceis
Tradicionalmente, a fraqueza do iene favorecia os excedentes comerciais do Japão e evitava, através dos maiores custos das importações, que o país resvalasse para a deflação. No entanto, os últimos anos trouxeram mudanças.
Com a guerra na Ucrânia e o aumento dos custos energéticos, o Japão registou défices comerciais. Ao mesmo tempo, as importações já colocam a inflação em níveis menos confortáveis, o que pesa na confiança dos consumidores, pouco habituados a este fenómeno.
Em maio e junho, a inflação atingiu 2,8%, algo impensável antes da pandemia. Ao mesmo tempo, se o PIB nipónico registou um crescimento de 0,8% no segundo trimestre, os resultados dos trimestres anteriores foram bastante fracos e incluíram duas contrações.
Em suma, Tóquio enfrenta um dilema crescente. Por um lado, o aumento das taxas de juro sustenta o iene e trava a inflação. Por outro, cria dificuldades a uma economia já enfraquecida. Além disso, com a dívida pública em 266% do PIB, juros mais altos aumentam substancialmente os encargos com a dívida.
Intervenções com impacto limitado
Dada a impossibilidade de aumentar significativamente as taxas de juro, o Banco do Japão prefere intervir no mercado cambial. O objetivo era estabilizar o iene até que a descida das taxas de juro nos Estados Unidos reduza o diferencial entre as duas moedas.
Em abril e maio, o banco central do Japão gastou o equivalente a 57 mil milhões de euros para apoiar a sua moeda. Mas, apesar das intervenções, o iene caiu para novos mínimos históricos.
Só a partir de meados de julho e com a expectativa de uma segunda subida da taxa diretora do Japão (de 0,1% para 0,25% no final de julho) é que a moeda nipónica despertou. Mesmo assim, face ao dólar, recuperou apenas para os níveis de março deste ano.
Trunfos da bolsa de Tóquio
O Japão fez uma aposta estratégica nos semicondutores para desenvolver competências locais e atrair investimento estrangeiro, além de continuar a liderar em áreas como a robotização e as baterias. Ao mesmo tempo, o recente aumento significativo dos salários potencia uma melhoria da procura interna.
Neste contexto, a debilidade do iene não tem sido um entrave. Primeiro, esse fenómeno beneficia a competitividade dos exportadores nipónicos. Segundo, para os investidores estrangeiros, o iene fraco torna os ativos financeiros japoneses mais atrativos.
Em termos de políticas, o primeiro-ministro Kishida não conseguiu melhorar as contas públicas do Japão e dada a sua impopularidade está mesmo de saída. Contudo, aprovou medidas bem recebidas pelos investidores.
As alterações às leis que regem a poupança e as pensões incentivam agora as famílias a investir o capital, em vez de o deixar parado no banco. Acrescem as reformas no corporate governance que levam as empresas cotadas de Tóquio a serem mais generosas na distribuição dos lucros.
Com estas premissas, a queda recente da bolsa de Tóquio parece excessiva. A apreciação do iene foi reduzida e nada indica que o Banco do Japão possa subir muito mais as taxas diretoras. E se o iene, de facto, se apreciar, esse fenómeno beneficiará os investidores em euros.
Ações do Japão: Fundos e ETF
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