Análise

Obrigações: prazos mais longos

Publicado em:  02 janeiro 2024
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A abordagem aos fundos e ETF obrigações pode ser ajustada. Os produtos com carteiras de maturidades mais longas podem potenciar maiores ganhos.

Após a crise financeira de 2008, as taxas de juro das obrigações permaneceram em valores extremamente baixos. Um fenómeno relativamente global. Até Portugal, que foi alvo da intervenção da troika, em 2011, viria posteriormente, a conseguir financiar-se com juros negativos em algumas das emissões de Obrigações do Tesouro. Este período de “dinheiro barato” terminou pouco depois da pandemia da covid, com o regresso da inflação. Os bancos centrais subiram agressivamente as taxas diretoras e, com elas, os juros aumentaram acentuadamente em todos os prazos.

Em 2022, essa subida arrasou o valor das obrigações cotadas e provocou perdas acentuadas aos fundos/ETF que investem em títulos de dívida. Estes ativos que deveriam servir de amortecedor às flutuações dos mercados foram, eles próprios, alvo de um choque inédito pela sua dimensão e rapidez.

Mudança de página

Esse capítulo sombrio das obrigações parece estar encerrado. Desde finais de 2023, os investidores começaram a apostar numa mudança na política dos bancos centrais, devido ao sucesso já atingido no combate à inflação. À medida que os preços crescem mais lentamente, os bancos centrais já não têm motivos para aumentar ainda mais as taxas de juro diretoras. Além disso, o dinamismo económico global é pouco convincente e, por isso, é bastante mais provável que o próximo passo seja uma inversão das políticas monetárias.

Mas mesmo que os cortes das taxas diretoras ainda não seja uma realidade, as taxas de “longo” prazo, como o nome indica, já refletem as expectativas dos juros durante os próximos anos, ou seja, um reflexo de como os investidores veem a economia evoluir e de como os bancos centrais ajustarão a política de taxas.

Assim, ao antecipar cortes já significativos das taxas diretoras a partir de 2024, os juros de longo prazo começaram a recuar. Por exemplo, nos Estados Unidos, as yields na dívida com um prazo de 10 anos chegaram a atingir 5% ao ano, um nível próximo das atuais taxas diretoras da Reserva Federal. Depois, com a mudança das expectativas, recuaram para menos de 4%. Na zona euro, o fenómeno foi idêntico.

Esta tendência de queda das taxas longas parece inevitável, mas não há garantias que a descida seja suave e ininterrupta. Alguma turbulência é inevitável.

Obrigações valorizam

As variáveis económicas apontam para que as yields (taxas de juro) das obrigações já tenham atingido os níveis máximos na zona euro e nos Estados Unidos. Neste cenário, todas as obrigações e fundos de obrigações já começaram a ser beneficiados nos últimos meses. Com efeito, as taxas de juro da dívida em circulação são mais elevadas do que as que são oferecidas pelas novas emissões. Por exemplo, os investidores estão dispostos a pagar mais por uma obrigação com uma yield de 5% do que por um título idêntico emitido à “nova” taxa de mercado de 4%. Tal tem um impacto positivo nas cotações das obrigações e, por conseguinte, na carteira dos fundos/ETF. Esta tendência é favorável a todas as obrigações, mas algumas saem mais beneficiados do que outras.

Prazos mais longos

A aposta habitual em obrigações de dívida pública de médio e de longo prazo tem implícita uma maturidade média superior a três anos, sendo que a maioria dos fundos/ETF tem, de facto, carteiras com maturidades entre três a dez anos. No entanto, neste momento do ciclo dos juros, é preferível apontar para maturidades superiores, isto é, mais perto do intervalo de sete a dez anos.

Porquê? A razão é que, quanto mais longo for o prazo restante, maior é o impacto de uma redução futura dos juros na cotação da obrigação. Por exemplo, um título de dívida que garanta uma boa taxa de juro durante 10 anos é mais interessante do que outro título idêntico com a mesma taxa mas que só o faz durante 4 anos. Ao optar por prazos mais longos, o objetivo é tentar conseguir mais-valias adicionais geradas pela queda das taxas.

Em suma, tendo em conta as novas expectativas para as taxas de juro, pode realizar um ajustamento na abordagem às obrigações soberanas denominadas em euros e dólares, as mais importantes nas estratégias da Proteste Investe.

Impacto nas escolhas

Em termos concretos, significa que o investidor pode dar preferência à subscrição de fundos ou compra de ETF de obrigações euro e dólar dos EUA com maturidades médias mais longas. Uma decisão mais impactante nas carteiras mais defensivas, onde estes mercados têm maior ponderação. A carteira defensiva recomendada pela Proteste Investe inclui 45% de obrigações deste tipo (35% em euros, 10% em dólares). Na carteira equilibrada, a alocação é de 10% em euros e 15% em dólares. Na carteira dinâmica, limitamo-nos ao dólar (10%).

Mais abaixo estão os fundos e ETF que destacamos para ir ao encontro de maturidades desejavelmente longas (7-10 anos). Muito acima desse prazo, o risco não compensará.

No nosso site poderá consultar todos os produtos destas categorias. Em muitos ETF pode guiar-se pelo nome que identifica a maturidade alvo da carteira. Porém, não poderá basear-se apenas na classificação obtida à luz do indicador de avaliação da Proteste Investe.

Há inúmeros fundos com distribuição de rendimentos, o que é menos adequado a longo prazo. E, caso da zona euro, alguns ETF centram em demasia a aposta em emitentes soberanos europeus com juros mais altos (ex. Itália), o que é demasiado arriscado para uma categoria cuja função essencial é diminuir o risco global da carteira.

Riscos

A opção por fundos e ETF com taxas mais longas não está isenta de riscos. Quanto maior a maturidade média da carteira de um fundo, mais sensível é o valor da unidade de participação às variações das taxas de juro, isto é, maior o seu risco. Se, como se antecipa, os juros recuarem, esse risco potenciará um rendimento igualmente mais elevado.

De facto, de momento, não se vislumbram fatores que levem a novos aumentos dos juros. Seria preciso a conjugação de um ressurgimento da inflação com um elevado dinamismo das economias, o que parece improvável. No entanto, as taxas de juro de longo prazo são igualmente influenciadas pelo volume (oferta) de obrigações. E, neste capítulo, o elevado endividamento público de países como os Estados Unidos e a Itália, implica que os respetivos Governos vão ter de emitir muito mais títulos e terão de arranjar mais compradores (pagando mais juros). Esse fenómeno não é favorável à descida das taxas longas, mas não deverá ser suficiente para inverter o seu recuo. Porém, nos investimentos nunca há garantias absolutas e deve estar sempre preparado para uma turbulência que é incontornável.

Conclusão

Para novos investimentos, aconselhamos que opte por fundos e ETF de obrigações com títulos com prazos de vencimento mais longos. Porém, se já detém, pode manter os ETF de obrigações em euros e dólares com prazos de vencimento menos extensos. Também estes já estão a beneficiar do recuo das taxas de juro, embora em menor medida.

E se os ETF estão “presos” às maturidades definidas pelos índices, nos fundos ativamente geridos, a mudança já está a ser feita pelas próprias gestoras e muitas já optaram por ir aumentando os prazos médios das carteiras.

Obrigações: fundos e ETF

Soberanas em euros

Amundi JP Morgan EMU Govies Investment Grade UCITS ETF DR

Allianz Euro Bond AT EUR

BNPP Easy JPM ESG EMU Gov Bond Investment Grade UCITS ETF C

Epsilon Euro Bond R EUR Acc

Soberanas em dólares EUA

Fidelity US Dollar Bond A ACC USD

Eurizon Bond USD LTE R

Pictet USD Government Bonds R

iShares $ Treasury Bond 7-10 year UCITS ETF USD (Acc)

Rentabilidades à data de 26/12/2023., calculadas em euros. Fundos/ETF com capitalização dos rendimentos e inseridos na diretiva europeia UCITS. Saiba mais informação sobre os fundos e ETF.

 

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