ETF da semana: setor do luxo
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
O setor mundial do luxo atravessa uma fase de reajustamento
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
O setor mundial do luxo atravessa uma fase de reajustamento
A valorização do setor do luxo, correspondente a 24,5 vezes os lucros esperados, está muito acima da sua média histórica (17,5) e da atual média mundial (18,4). Este rácio reflete o posicionamento premium e um maior otimismo para as perspetivas de rentabilidade da atividade.
Ou seja, neste nível de cotações, as expectativas dos investidores são elevadas e qualquer deceção será penalizada de forma mais acentuada em bolsa.
O setor mundial do luxo foi durante muito tempo sinónimo de crescimento rápido e rentabilidade excecional. Agora, atravessa uma fase de reajustamento, marcada por mudanças estruturais nos hábitos de consumo.
Após os anos de forte crescimento do pós-pandemia, sustentado pelo aumento da procura, digitalização das compras, expansão dos públicos (sobretudo na Ásia) e a “subida da gama” para reforçar as margens, a dinâmica abrandou e o crescimento praticamente desapareceu.
Mais preocupante, um dirigente da Chanel falou mesmo em “fadiga do luxo”, um fenómeno que traduz o cansaço crescente dos clientes tradicionais perante a omnipresença das marcas de prestígio e a erosão da fidelidade.
Para 2025, estima-se que o crescimento do mercado mundial de bens de luxo se situe apenas entre +1% e +2%. Em 2026, poderá atingir 5%, desde que o mercado chinês recupere, o que está longe de ser garantido.
Representando 35% a 40% do volume de negócios global, a China é o mercado vital do setor do luxo. No entanto, o poder de compra encontra-se sob pressão, a crise imobiliária prolonga-se e Pequim pode influenciar as preferências de consumo, favorecendo as marcas locais em detrimento das estrangeiras. Assim, as casas de luxo enfrentam um desafio considerável.
Por agora, apenas se pode esperar uma estabilização do mercado chinês. O crescimento deverá permanecer praticamente nulo em 2025, após uma queda de 18% a 20% em 2024.
O mercado chinês poderá, na melhor das hipóteses, recuperar um ritmo de crescimento anual entre 4% e 6% a partir de 2026-2027, caso a conjuntura económica melhore e a confiança dos consumidores regresse. O ligeiro aumento das vendas da LVMH e da L’Oréal na China é um sinal positivo, mas que ainda carece de confirmação.
A estratégia de aumentos contínuos de preços e de reforço da exclusividade revela agora os seus limites. Desde janeiro de 2022, os preços dispararam em média 21% e até 45% nalguns produtos. Estes aumentos acabaram por reduzir os volumes vendidos e, consequentemente, penalizar os lucros.
- A diversificação geográfica é essencial para reduzir o peso da China nas vendas. Perante as dificuldades neste mercado, a Richemont e a Kering reforçam a presença nos Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Médio Oriente, onde a procura de produtos de luxo é mais dinâmica.
- A nomeação de novos diretores artísticos (Gucci, Dior, Versace…) para revitalizar as marcas, com o lançamento de novas coleções e colaborações pontuais para atrair consumidores mais jovens.
- Tal como noutros setores económicos, as empresas reestruturam as suas redes de distribuição, concentrando-se nos pontos de venda mais rentáveis. A LVMH, durante anos adepta da expansão geográfica, está agora a encerrar lojas menos lucrativas.
Existe apenas um ETF disponível e exclusivamente dedicado ao setor do luxo, o Amundi S&P Global Luxury UCITS ETF (LU1681048630). Este está inserido na categoria dos Bens de Consumo Discricionário (consumo não essencial).
- O ETF Amundi S&P Global Luxury UCITS faz replicação sintética. Isto é, segue o desempenho do índice S&P Global Luxury, mas a carteira é composta por outras ações.
No entanto, é o índice S&P Global Luxury que é relevante para o investidor. E este encontra-se bem diversificado geograficamente: Estados Unidos (37%), França (25%) e Itália (10%).
- As três principais posições do índice são a LVMH, Richemont e Hermès e representam cerca de 25% do total. No entanto, o ETF também tem exposição a empresas do setor automóvel, sobre as quais não estamos particularmente positivos, como a Ferrari, Tesla e Mercedes.
Nos últimos cinco anos, o ETF registou uma rentabilidade média anual de 8,4%. No mesmo período, o índice mundial MSCI World obteve 15,8% e com um nível de risco bastante inferior.
Em suma, o mercado do luxo permanece mais arriscado e as expectativas estão demasiado otimistas face à dimensão dos desafios: não recomendamos a compra deste ETF.