ETF: como investir em tecnologia europeia

As empresas tecnológicas europeias têm um potencial de valorização interessante
As empresas tecnológicas europeias têm um potencial de valorização interessante
Sim. As novas propostas da Comissão Europeia, como o Cloud and AI Development Act, poderão impulsionar o setor. Com avaliações mais atrativas do que as congéneres americanas, as empresas tecnológicas europeias apresentam um potencial de valorização interessante. Porém, a carteira dos ETF está pouco diversificada (mais arriscada) e poderá passar ao lado das atividades mais beneficiadas.
O “Cloud and AI Development Act” é uma proposta recente da Comissão Europeia para colmatar o défice de capacidade computacional e promover uma infraestrutura digital independente na Europa.
Os objetivos passam por triplicar a capacidade europeia de centros de dados nos próximos 5 a 7 anos e reduzir a dependência dos fornecedores norte-americanos, como a AWS (Amazon), Microsoft e Google (Alphabet).
O investimento impulsionado por esta proposta tem potencial para criar valor e diminuir a dependência dos EUA, embora seja expectável que se depare com desafios na sua implementação.
Como habitual nos projetos europeus, os prazos são alargados e sujeitos a atrasos, dado o peso regulatório e a necessidade de coordenação com os Estados-membros. Esta proposta está inserida no plano AI Continent, que visa mobilizar até 200 mil milhões de euros para o desenvolvimento da inteligência artificial.
No geral, as tecnológicas estão mais caras do que a média do mercado, mas esse fenómeno é muito mais acentuado nos Estados Unidos.
O setor europeu de tecnologia está com rácios significativamente mais atrativos do que o seu congénere americano. Por exemplo, o rácio cotação/lucros esperados está em 23,6 contra 19,5 da sua média histórica e face a um máximo de 31,2.
Nos Estados Unidos, as tecnológicas negoceiam a 29,5 vezes os lucros esperados, sendo a média histórica de 18,4. Estão muito perto dos máximos atingidos por este rácio (30).
O rácio cotação/valor contabílistico (PBV) é igualmente de “apenas” 4,9 para a Europa contra 12,9 das techs americanas. E o rendimento do dividendo está em 1,1% face a 0,6%. Se as techs europeias têm indicadores menos atrativos que a média do mercado, são mais interessantes do que os grupos norte-americanos.
Esta discrepância na valorização em bolsa pode ser justificada pela liderança incontestada dos gigantes norte-americanos como a Microsoft, Apple, Nvidia, Broadcom e Oracle. As perspetivas de crescimento dos lucros são avultadas e levam os investidores a “pagar bem” pelas ações.
E grupos como a Alphabet (Google), Meta Platforms (Facebook) e Amazon.com não estão incluídos nos índices de ações de tecnologia, estando em outros índices setoriais.
A diferença de rácios de valorização em bolsa também significa que as empresas tecnológicas europeias têm um potencial de crescimento mais elevado. A questão é se conseguirão concretizá-lo e diminuir o fosso atual face aos EUA.
Os índices tecnológicos europeus incluem empresas como a neerlandesa ASML e germânica SAP, cujo peso conjunto atinge cerca de 50%. Os índices também incluem igualmente nomes como a Prosus, Infineon, Amadeus, Cap Gemini, Dassault, Nokia, Ericsson e Hexagon.
Destas empresas destacamos a ASML, que está incluída na nossa seleção de ações, e tem conselho de compra.
O desempenho dos ETF dedicados às tecnológicas europeias tem sido dececionante. Nos últimos doze meses, apresentam uma desvalorização média de 0,3%. Os ETF que investem a nível global neste setor ganharam, em média, 19%.
O produto mais bem classificado para a Europa é o SPDR MSCI Europe Technology UCITS ETF (IE00BKWQ0K51). Este ETF obteve um ganho médio anual de 9,5% nos últimos cinco anos.
Vantagem:
- aposta em empresas tecnológicas europeias que, em média, estão menos valorizadas do que as americanas
Desvantagem:
- muito concentrado em apenas duas empresas e, por isso, menos suscetível de captar eventuais benefícios do Cloud and AI Development Act e de outras iniciativas europeias