Instabilidade política em França e impacto nos investidores
A França enfrenta novamente turbulência política, um cenário que gera incerteza e desagrada aos investidores. Será uma oportunidade para investir em ações francesas?
O Primeiro-ministro francês anunciou uma moção de confiança para 8 de setembro, sem garantias de reunir os apoios necessários. Se o Governo cair, o Presidente Macron poderá nomear outro Governo, mas será inevitavelmente frágil.
Outra possibilidade é a dissolução do Parlamento e novas eleições, mas também com resultados incertos. A França caminha assim para um período de instabilidade política, algo que os mercados não apreciam.
Desconfiança dos mercados em relação à dívida francesa
Num primeiro sinal das dificuldades, os investidores já estão a exigir juros mais elevados para financiar a França. O Banco Central Europeu tem reduzido a taxa diretora, mas a França beneficia pouco. A taxa de juro da dívida gaulesa (a dez anos) estava abaixo de 3,3% no final de 2024 e agora ronda 3,5%.
O contraste torna-se evidente quando comparado com Espanha, Portugal e Grécia. Durante a crise da dívida soberana, estes países adotaram medidas fiscais drásticas, mas acabaram por recuperar a confiança dos investidores.
A França, pelo contrário, acumulou derrapagens orçamentais, com um défice médio de 4,7% do PIB na última década. A dívida pública atingiu 113% do PIB no final de 2024, contra 96% há dez anos. Resultado: mais de uma década após a crise, até a Grécia financia-se com taxas inferiores às de França no prazo de dez anos, a taxa de referência dos mercados de dívida.
Fraco desempenho económico e peso do Estado
A deterioração das finanças públicas francesas está ligada à baixa produtividade da economia. O Estado, constantemente chamado a apoiar setores económicos, tornou-se demasiado pesado. As despesas públicas representaram 57% do PIB, em 2024, bem acima da Alemanha e da Itália, ambas próximas de 50%.
Para conter os défices, sucessivos governos agravaram a carga fiscal, que é agora a mais elevada da OCDE. Para resolver o problema, esta organização internacional defende as receitas habituais: reduzir a despesa pública, reformar a fiscalidade e adotar medidas para estimular o crescimento.
Entre as propostas, surgem incentivos para prolongar a vida ativa, formação contínua para a força de trabalho, melhor direcionamento dos apoios à digitalização, sobretudo das PME, além da simplificação administrativa para atrair o investimento, fomentar a criação de empresas e a inovação.
Conjuntura económica e barreiras ao investimento
Estas reformas são difíceis, mas seriam mais exequíveis em tempos de maior crescimento. Porém, nessas alturas, a tentação é adiar as mudanças para evitar desagradar aos eleitores. Assim, as reformas inevitáveis acabam por surgir em momentos que as tornam ainda mais penosas para os cidadãos.
Entretanto, perante a incerteza política, fiscal e comercial, as empresas hesitam em investir. As tarifas norte-americanas e o avanço do protecionismo global agravam o cenário. As exportações deverão manter-se fracas e o mercado interno retraído.
Resta a Paris intervir novamente, mas à custa de maior degradação das contas públicas. A perspetiva de reequilíbrio orçamental parece ilusória, agravada pela baixa taxa de crescimento e pelo aumento previsto das despesas militares.
Recomendações de investimento na bolsa de Paris
A bolsa de Paris apresenta um rácio cotação/lucros esperados de 15,6. Este valor está aquém da média global (17,1), mas bem acima da sua média histórica de 13,7.
Por um lado, é um nível difícil de justificar e de sustentar perante o fraco desempenho da economia e a falta de perspetivas para o futuro.
Por outro, a bolsa gaulesa conta com empresas de elevada qualidade e presença global, capazes de gerar crescimento fora do país.
- Recomendamos a compra de uma seleção de ações francesas;
- Não aconselhamos uma aposta mais alargada através de fundos ou ETF dedicados à na bolsa de Paris. Há mercados que, no seu global, são mais atrativos.
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