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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Obrigações FC Porto SAD 2021-2023: deve investir?
Há 2 anos - 14 de maio de 2021
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.

As contas da FC Porto SAD têm estado numa trajetória preocupante na perspetiva de um obrigacionista.
A SAD do FC Porto volta ao mercado para emitir novas obrigações. As obrigações FC Porto SAD 2021-2023 são uma emissão no valor habitual de 35 milhões de euros, destinando-se a refinanciar a dívida do clube, com destaque para a emissão de obrigações com vencimento em junho, que também analisámos.
A taxa de cupão mantém-se inalterada em 4,75% brutos (3,45% taxa efetiva líquida de impostos). O investimento mínimo passou de 100 para 1500 euros (300 obrigações), o que não é necessariamente negativo pois investimentos de 1000 euros ou menores não são rentáveis, considerando os custos de transação.
Obrigações FC Porto SAD 2021-2023 4,75% em resumo
- Data de Reembolso: 26 de novembro de 2023
- Prazo: 2 anos e 6 meses
- Taxa Anual Nominal Bruta (Taxa de cupão): 4.75%
- Taxa Anual Efetiva Líquida (após impostos): 3,45%
- Valor Nominal de 1 obrigação: 5 euros
- Mínimo a subscrever: 300 títulos (1500 euros)
- Pagamento dos juros: Semestral, a 26 de maio e 26 de novembro de cada ano
- ISIN: PTFCPSOM0010
Situação financeira muito complicada
Nenhuma das SAD (Sociedades Anónimas Desportivas) dos 3 grandes tem uma situação financeira invejável, mas as contas da FC Porto SAD têm estado numa trajetória preocupante na perspetiva de um obrigacionista. A covid-19 veio agravar os problemas das contas, mas estes já vinham de trás, como demos conta em análises anteriores.
No final do exercício 2019/2020 (as SAD fecham as contas em junho), os capitais próprios atribuíveis à FC Porto SAD ultrapassavam os 200 milhões de euros negativos. Para comparação, não chegavam a 100 milhões de euros negativos aquando do lançamento da emissão anterior, no final da época 2017/2018.
Considerando os dados semestrais (à data de 31 de dezembro de 2020), a dívida financeira estava no nível mais elevado desde que acompanhamos as emissões de obrigação da SAD “azul e branca”, em quase 300 milhões de euros (297,3). Tem vindo a recorrer de forma crescente ao factoring, que já representa a maior parte da dívida financeira (cerca de 70% do total) A antecipação de receitas futuras permite ir solucionando a falta de liquidez mas limita ainda mais a margem de manobra no futuro.
A estrutura do financiamento é, portanto, preocupante. E quanto à capacidade de fazer face às responsabilidades a curto prazo? O rácio de liquidez corrente estava em 0,44, quando se querem valores superiores a 1, e os resultados operacionais continuam a ser insuficientes para pagar os juros sem vender jogadores.
No entanto, admitimos que a previsível presença na Liga dos Campeões e vendas de jogadores (obrigatórias) sejam “balões de oxigénio” financeiros a curto prazo.
Neste cenário, a remuneração de 4,75% brutos, a mesma que foi oferecida em 2018 quando a situação era relativamente melhor, parece-nos muito baixa. O índice de obrigações high yield com ratings de CCC ou menos, que usamos como termo de comparação, está com um rendimento de cerca de 7% brutos.
Recordamos que não faz sentido nenhum comparar os juros oferecidos nestas obrigações com os juros dos depósitos bancários (com dupla garantia do banco e do Estado) ou Certificados de dívida pública, cujo risco é praticamente nulo.
O nosso conselho
Os nossos leitores habituais sabem já que, em regr,a não temos recomendado o investimento em obrigações das SAD, por variadas razões. Desde logo o estado financeiro periclitante das sociedades, apenas ocasionalmente aliviado por vendas de jogadores ou um boa campanha na UEFA. Mas também os elevados riscos específicos do negócio futebol, e uma mentalidade onde a saúde financeira é sacrificada à pressão de obter resultados desportivos.
No contexto atual, em que a pandemia ainda condiciona bastante as receitas dos clubes europeus e o mercado de compra e venda de passes de jogadores, a margem de manobra da FC Porto SAD é cada vez mais estreita do ponto de vista financeiro. Recordamos que já ocorreu o adiamento de reembolso de uma emissão de obrigações da FC Porto SAD o ano passado (tendo o clube continuado a pagar juros, contudo).
Reforçamos o nosso conselho: não invista.
Datas a ter em conta
10 de maio: Início do período de subscrição
18 de maio: Data-limite para a FC Porto SAD decidir aumentar o montante da emissão
21 de maio: Data-limite para revogar ou cancelar ordens de subscrição
21 de maio: Final do período de subscrição
24 de maio: Apuramento dos resultados e divulgação do número de ações a atribuir
26 de maio: Subscrição e admissão à negociação na Euronext Lisboa
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