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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Obrigações FC Porto SAD 2022-2025: tudo o que precisa de saber
Há um ano - 28 de março de 2022
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.

Vai ser possível também trocar as obrigações FC Porto SAD 2021-2023 pelos novos títulos.
As novas obrigações FC Porto SAD 2022-2025 pagam um juro de 5,25% (taxa anual bruta), que é equivalente a uma taxa anual efetiva líquida de impostos de 3,81%. O período de subscrição começa a 28 de março e termina a 8 de abril. Vai ser possível também trocar as obrigações FC Porto SAD 2021-2023 pelos novos títulos. Fique a saber as principais características da nova emissão.
Qual o mínimo para investir?
Cada obrigação tem um valor de 5 euros e o mínimo a investir são 500 obrigações, ou seja, 2500 euros.
Em que datas?
O período de subscrição vai desde 28 de março a 8 de abril. Os resultados da oferta, nomeadamente quantas obrigações serão atribuídas, são apurados no dia 11 de abril, e dois dias depois espera-se a emissão e a admissão à negociação na Euronext Lisboa.
Os investidores podem revogar as ordens de subscrição durante todo o prazo da oferta.
Qual o juro pago?
As obrigações pagam um juro de 5,25% (taxa anual bruta), que é equivalente a uma taxa anual efetiva líquida de impostos de 3,81%.
Recomendamos que peça ao seu banco ou corretora a simulação da taxa de rentabilidade do investimento considerando todos os custos e impostos. Note que deve considerar a comissão de guarda de títulos se ainda não possui uma conta de títulos no intermediário que vai usar.
Os juros (cupão) são pagos duas vezes ao ano, a 13 de abril e a 13 de outubro. Por cada obrigação que detiver, vai receber 0,095 euros líquidos de impostos (aos quais serão ainda deduzidos os custos da corretora), nestas datas.
Qual a duração do investimento?
As obrigações têm um prazo aproximado de 3 anos, devendo a FC Porto SAD reembolsar o capital investido a 13 de abril de 2025.
O que mais preciso de saber?
O código ISIN que vai identificar estas obrigações é PTFCPTOM0019.
Embora haja uma tendência natural para comparar as taxas de juro das obrigações com os depósitos, os riscos são bastante diferentes e em geral significativamente mais elevados no caso das obrigações, em particular tratando-se de obrigações alto rendimento / alto risco.
A nossa análise
A situação financeira da FC Porto SAD continua bastante complicada, não obstante algumas melhorias. Nos últimos semestres tem conseguido evitar prejuízos operacionais sem precisar das vendas de jogadores, algo que consideramos importante para o equilíbrio financeiro, e inclusivamente já não está sob ameaça de sanções pela UEFA pelo incumprimento das regras de “fair-play financeiro”.
De referir ainda que as últimas contas semestrais (reportadas a dezembro de 2021, já que as SAD fecham o exercício em junho, no final da época desportiva) não contemplam ainda a venda do passe do jogador Luis Diaz por um valor avultado (45 milhões de euros, a que podem ainda acrescer valores adicionais).
No entanto, a situação de base não se alterou significativamente. Os capitais próprios continuam profundamente no vermelho (-142,9 milhões de euros), a dívida é elevada (264,8 milhões de euros) e na sua maior parte consiste em factoring, que não é mais do que um adiantamento feito por uma entidade financeira por conta de valores a receber, como receitas futuras de direitos de transmissão televisiva ou vendas de jogadores.
A falta de margem de manobra, em termos financeiros, é bem visível nos rácios. Considerando os últimos resultados anuais, o rácio de liquidez corrente está em 0,4 (recomenda-se um mínimo de 1), os resultados operacionais (mesmo incluindo as voláteis vendas de jogadores) só cobrem 1,4 vezes os custos do financiamento (recomenda-se no mínimo 3 vezes). Quanto ao endividamento, a situação é grave e nem há discussão, dada a situação de “falência técnica”.
Portanto, continuamos a estimar que a situação financeira da FC Porto SAD seja comparável a ratings de CCC ou, quanto muito, B baixo. Ora, se esta emissão aumentou a remuneração em 0,5% para 5,25% (em termos brutos), a verdade é que as taxas de juro do mercado (em particular os spreads do risco de crédito) estão a subir rapidamente.
O índice de obrigações “CCC” usado como comparação, que estava nos 7% na nossa última análise, subiu para os 9%. E mesmo o índice de obrigações de rating “B” está em 5,75%, acima do rendimento oferecido.
Conselho: Não invista
Apesar da ligeira melhoria, a nossa conclusão mantém-se inalterada. Um emitente numa situação financeira frágil, no negócio do futebol, que é estruturalmente pouco interessante, principalmente em Portugal onde os riscos legais e reputacionais se acumulam.
O risco é muito elevado e para o compensar a remuneração teria de ser excecional, o que não é o caso. Como o “amor à camisola” não é um fator considerado na nossa análise, recomendamos que se mantenha afastado desta emissão.
Oferta de troca
Em simultâneo com a oferta de subscrição, a FC Porto SAD está a oferecer aos detentores de obrigações FCP 2021-2023 a possibilidade de trocarem esses títulos pelas novas obrigações.
Como contrapartida à troca, oferece um prémio de 1% sobre o valor nominal das obrigações, além dos juros corridos.
Isoladamente, a contrapartida é atrativa por comparação com a última cotação na Euronext à data, que foi de 100,22% (ou seja, cotada a prémio de 0,22%). As novas obrigações têm também uma taxa de juro superior (cupão bruto de 5,25% contra 4,75%).
Pelos mesmos motivos que nos levam a não recomendar as novas obrigações, não somos entusiastas desta troca, pois implica alongar no tempo a sua exposição ao risco da FC Porto SAD. No entanto, para quem já detém obrigações “azuis” e portanto decidiu que o risco elevado é adequado ao seu perfil, a troca parece vantajosa em termos comparativos à emissão anterior: grosso modo, é como se ganhassem mais 1,5% no primeiro ano comparativamente às obrigações que detêm (1% de prémio e +0.5% na taxa de juro) e depois tivessem um investimento a dois anos a 5,25% brutos ao ano.
Para quem quer continuar obrigacionista da FC Porto SAD, pode fazer sentido. Mas atenção ainda à inflação e subida dos juros no mercado que vai acarretar: no próximo ano e seguintes estes 5,25% podem já não parecer tão atrativos, se a tendência continuar.
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