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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Obrigações Mota-Engil 2021-2026 com meta sustentável
Há um ano - 17 de novembro de 2021
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.

As obrigações vão ser reembolsadas em duas prestações: metade (250 euros por cada obrigação) a 2 de dezembro de 2025 e a outra metade um ano depois.
A Mota-Engil está a emitir 150 mil obrigações com valor de 500 euros cada uma, podendo ainda decidir ampliar o montante da emissão. Foi atribuído o código ISIN PTMENYOM0005. As obrigações Mota-Engil 2021-2026 têm uma maturidade de cinco anos e uma taxa de cupão bruta de 4,25% - mas com algumas nuances a ter em atenção.
Obrigações Mota-Engil 2021-2026 4,25%: principais dados
- Datas de Reembolsos: 2 de dezembro de 2025 e 2026
- Taxa Anual Nominal Bruta (Taxa de cupão)*: 4,25%
- Taxa Anual Efetiva Líquida (após impostos)*: 3,08%
- Valor Nominal de 1 obrigação: 500 euros
- Mínimo a subscrever (5 títulos): 2500 euros
- Pagamento dos juros: semestral, a 2 de junho e 2 de dezembro
- Cupão bruto (por cada obrigação): 10,63 euros
- Cupão líquido (valor a receber na data de pagamento, deduzido de impostos, por cada obrigação)*: 7,65 euros
- Notação de risco: não tem
- ISIN: PTMENYOM0005
* não inclui remuneração adicional
Meta sustentável
Estas obrigações têm algumas características invulgares no nosso mercado. A primeira é que as obrigações vão ser reembolsadas em duas prestações. Metade (250 euros por cada obrigação) a 2 de dezembro de 2025 e a outra metade um ano depois.
A segunda é mais complexa e mais interessante. À taxa de juro (4,25% anual bruta), pode acrescer uma remuneração adicional de 1,25 euros por obrigação, paga na maturidade, caso a Mota-Engil não cumpra uma meta de sustentabilidade a que se está a vincular. Essa meta consiste num rácio de segurança no trabalho, que relaciona o número de acidentes não mortais com baixa com o número de horas trabalhadas pelos colaboradores (com vínculo contratual). Partindo do valor de 5,51 (valor de índice) no final de 2020, a empresa propõe-se atingir o valor de 3,30 no final de 2025.
Antes da última data de reembolso, haverá lugar à nomeação de uma entidade externa para verificar o cumprimento ou não da regra (caso a verificação não ocorra ou seja inconclusiva, a remuneração adicional será paga). É um conceito interessante, mas o efeito em termos de rentabilidade é mínimo.
Rendimento e Risco
A taxa de cupão bruta de 4,25% traduz-se numa taxa anual efetiva líquida de impostos de 3,08%. Caso seja paga a remuneração adicional, esta taxa cresce para 3,13%.
Como sempre, é necessário levar em conta os custos do intermediário financeiro, que dependem do preçário deste e do valor a investir. Por exemplo, com um investimento de 5000 euros pode esperar um impacto no rendimento líquido em torno de 0,3% - muito mais do que isso, e deve ponderar utilizar outro intermediário.
Risco elevado
Apesar de algumas melhorias operacionais, os últimos dois anos não foram benéficos para a Mota-Engil, o que é visível nos seus rácios de endividamento. Entre 2018 e 2020, a dívida financeira líquida aumentou 25% e terminou 2020 com capitais próprios (atribuíveis ao grupo) negativos!
Entretanto, o aumento de capital que levou a cabo já em 2021 ano permitiu repor os capitais próprios mas, mesmo usando a nossa estimativa para 2021, a autonomia financeira (proporção do ativo financiado por capitais próprios) será de apenas 1%, bastante aquém do mínimo geralmente aconselhado que são 15%.
Ainda com 2020 como referência, a dívida financeira líquida excedia o limite máximo recomendado de 3 vezes o EBITDA (3.3). O rácio de liquidez corrente (relação entre o ativo corrente e o passivo corrente) era inferior a 1, cifrando-se em apenas 0,8. As nossas estimativas para 2021 não indicam nenhuma alteração material.
Um dado relativamente positivo: o lucro operacional cobre 1,5 vezes a despesa líquida com juros, é o valor máximo recomendado (embora as nossas estimativas indiquem que o limite poderá ser ultrapassado em 2021).
São valores globalmente fracos, e continuam a deixar a Mota-Engil em território high yield / alto risco. Apesar de não possuir notação de risco, consideramos que o mais provável seria uma notação em torno de B (escala S&P), o que equivale a 15 numa escala de 22, ou seja, “altamente especulativa”.
Deve dizer-se contudo que há perspetivas de melhoria nos próximos anos, após a parceria firmada com a construtora chinesa CCCC (com um recente aumento de capital), bons indicadores operacionais recentes e a empresa anunciou um novo plano estratégico.
Mota-Engil e o mercado
Nos índices que usamos como referência, as obrigações de rating B estão a oferecer uma taxa de rendimento (“yield to maturity” YTM) de 4,13% (bruta, média dos últimos cinco dias), tendo as taxas vindo a descer ao longo do ano.
Portanto os 4,25% da Mota-Engil estão em linha com o mercado para títulos que consideramos terem um risco comparável.
No entanto, a Duration (medida de sensibilidade às taxas de juro, relacionada com o prazo) das obrigações é 4,6, superior à do índice (4,1), o que exigiria à partida um rendimento um pouco superior. Esta medida indica que, caso as taxas de juro do mercado subissem 1% em todos os prazos, a cotação da obrigação iria desvalorizar cerca de 4,4% (ignorando outros efeitos), o que é relevante em caso de venda dos títulos.
Conselho: só para os mais ousados
Estamos perante títulos com um risco bastante elevado para o contexto das obrigações, mas para os investidores cujo perfil se coadune com este risco, estas obrigações são uma opção aceitável: pagam um rendimento em linha com obrigações de risco comparável (e admitidamente é mais fácil subscrever estes títulos do que do que comprar obrigações estrangeiras). Os indicadores financeiros são fracos, mas as perspetivas até são de melhoria.
Se decidir investir, devido ao risco elevado, deve limitar o peso deste investimento na sua carteira. Aconselhamos um máximo de 5%.
Não se esqueça de pedir ao seu intermediário a simulação com os custos incluídos, os quais podem reduzir significativamente a rentabilidade, e pondere bem antes de investir.
Nota final para a meta ESG de segurança no trabalho, que é uma ideia interessante, mas acaba por não ter grande impacto na avaliação da obrigação.
Rateio: ganha quem chegar primeiro
Perante a relativa escassez de obrigações é frequente que nas operações públicas a procura exceda a oferta. É importante ver portanto as chamadas regras de rateio.
Supondo que não há obrigações suficientes para satisfazer todas as ordens, para subscrições do público em geral, as regras preveem atribuir um mínimo de 10 obrigações / 5000 euros (ou o montante solicitado, se for menor), a cada participante. Se não houver obrigações suficientes para atribuir este mínimo a todas as ordens, estas serão satisfeitas por ordem de entrada no sistema (estando em igualdade de circunstâncias todas as ordens que entrarem no mesmo dia útil).
Caso seja possível atribuir o mínimo a todos os participantes e ainda sobrem obrigações, o remanescente será distribuído mais uma vez por ordem de entrada dos pedidos no sistema.
Em conclusão: é muito vantajoso dar as ordens o mais cedo possível. No caso dos investidores mais indecisos, há uma estratégia que podem usar: colocar a ordem nos primeiros dias e posteriormente revogá-la se decidir não avançar com a subscrição. As ordens podem ser revogadas até ao final do período de subscrição (26 de novembro). Contudo, o seu intermediário poderá exigir que o montante esteja disponível na conta à ordem.
Datas Chave
- 15 de novembro (8h30): início do período de subscrição
- 23 de novembro: data-limite para a ampliação da Oferta pelo emitente
- 26 de novembro (15h00): final do período de subscrição
- 29 de novembro: apuramento dos resultados e divulgação do número de obrigações a atribuir
- 2 de dezembro: subscrição e admissão à negociação das obrigações
Operações de troca
Como contrapartida por cada obrigação Mota-Engil 2022 dada em troca, o investidor receberá uma obrigação 2026 e um prémio em numerário de 11,44 euros (correspondente a rendimento adicional de 2,29%), além dos juros proporcionais ao tempo decorrido (0,25 euros de juros corridos).
As novas obrigações têm uma maturidade e duration superior às que podem ser trocadas. Para o investidor que aceite a troca, corresponde a aumentar o prazo do investimento por mais cinco anos aproximadamente, com uma taxa ligeiramente inferior (4,25% VS 4,50%) mas que é compensada pelo prémio recebido.
Na Euronext Lisboa, à data em que escrevemos, a última cotação corresponde a um negócio feito no dia 11 de novembro a 101,5% do valor nominal, um valor inferior ao implícito na oferta de troca (102,29%). Tomando este valor como representativo, é preferível a troca à venda em mercado.
Devo trocar? Depende
Outro fator a favor da troca: há sempre o risco de a liquidez das obrigações que não forem trocadas se torne praticamente inexistente (já é baixa nas condições atuais), o que dificulta uma eventual venda das mesmas, embora o facto de estarem perto da maturidade reduza muito este risco.
No entanto, não podemos dizer que uma opção seja melhor do que outra em todos os cenários, porque os prazos diferentes fazem com que não sejam comparáveis, a menos que se assumam diversos pressupostos sobre o que o investidor pretende fazer e como vão evoluir as taxas de juro.
A grande questão da qual depende a sua decisão é: na maturidade das obrigações que já detém (2022), planeia reinvestir por mais cinco anos em obrigações com o nível de risco elevado acima descrito?
Se não pensava fazê-lo, não é pelo incentivo que deve avançar e nesse caso não deverá mesmo aceitar a troca.
Se pensava fazê-lo, então é uma opção com uma remuneração aceitável face ao mercado, mas há outros fatores individuais que o obrigacionista deve ponderar na sua decisão:
-Quer prolongar um investimento de taxa fixa por mais cinco anos? A taxa é atrativa neste momento, mas a troca volta a introduzir um risco relativamente aos juros que nas obrigações 2022 já é praticamente inexistente dado estarem muito próximas do vencimento. Além disso, convém não esquecer que nestas obrigações o risco de crédito é elevado.
-Qual a exposição total à Mota-Engil da sua carteira de investimentos (incluindo ações e outras obrigações)? É mais de 5%? Pode ser preferível trocar em vez de fazer uma subscrição adicional para evitar aumentar a exposição à dívida da empresa.
-Como está o saldo anual de mais ou menos-valias? Tanto os juros como as mais-valias estão sujeitas a uma taxa de 28%, mas o prémio pago na troca será considerado uma mais-valia, portanto para um investidor que prevê acabar o ano com um saldo negativo neste capítulo, este ganho estará na prática livre de impostos. Já a tributação sobre os juros, caso mantenha até ao final, só em situações muito excecionais pode ser reduzida.
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