Alguns investidores acreditam que a mudança na política cambial de Pequim significa que a aterragem suave da economia está ameaçada e uma grave crise na China é uma possibilidade real. Embora consideremos improvável um cenário tão negativo, o facto é que a saúde da China tem consequências importantes para o resto do mundo. Os consumidores chineses podem não ser o principal motor de crescimento como se desejava, mas a sua procura tornou-se importante para os restantes mercados. Nesse contexto, as empresas ocidentais estão muito atentas aos desenrolar dos eventos na China, sendo que alguns setores estão claramente mais expostos.
Luxo em crise
De acordo com algumas estimativas, os chineses, considerando as compras efetuadas na China e no estrangeiro, representam cerca de 45% do consumo mundial no setor do luxo. Na Europa, onde conseguem escapar à elevada tributação aplicável dentro da China, representam mais de um terço das compras do setor. Para um grupo como a LVMH, a exposição direta à China (27% do volume de negócios) até subestima a importância do país.
Portanto, a desvalorização do yuan reduz o poder de compra dos chineses e, inevitavelmente, as vendas do setor. E quanto maior vier a ser o declínio no valor do yuan, maior será esse impacto. Além disso, há outros fatores desfavoráveis à atividade na China, como as recentes medidas anticorrupção que limitam os gastos discricionários. É certo que, para compensar, os grandes grupos de luxo podem equacionar uma redução dos preços em solo chinês para impulsionar as vendas, mas ainda assim pesará sobre os resultados.
Apesar da recente queda nas ações do setor, permanecemos cautelosos: venda a LVMH, mas também outros protagonistas como o Swatch Group, Richemont e Hermes.
Automóvel abranda
Os construtores automóveis também estão entre os setores mais expostos à China. Em poucos anos, este país tornou-se o maior mercado do mundo e é hoje o principal cliente de muitos fabricantes europeus, como a Volkswagen, Peugeot e BMW. Obviamente, estes fabricantes estão na linha da frente quando as vendas na China se ressentem.
O gigante alemão Volkswagen reviu recentemente em baixa as suas ambições de entregas globais para deste ano, em parte devido à desaceleração chinesa. A BMW, por seu lado, não exclui um reajustamento da sua previsão se o "desafio chinês" se tornar ainda maior. A PSA, que esperava no início deste ano um crescimento de cerca de 7%, prevê agora um aumento de apenas 3% para o mercado chinês. Claramente, apesar de a China manter um potencial significativo, os anos de crescimento acima de 10% são um fenómeno do passado.
No curto prazo, a desvalorização do yuan terá um impacto limitado sobre os resultados dos fabricantes europeus. Em primeiro lugar, porque o recuo (cerca de 4%) continua a ser limitado e perfeitamente controlável. E em segundo lugar, os fabricantes estão, em regra, cobertos contra flutuações cambiais. Por enquanto, mantemos as previsões de lucro. O setor caiu acentuadamente, mas não o suficiente para justificar um investimento nas ações dos construtores automóveis.
Matérias-primas em queda
Já enfraquecido por excesso de capacidade, o setor das matérias-primas, também foi fortemente afetado. O medo de uma nova queda na procura da China por minério de ferro, cobre, entre outros, tem feito cair os preços destas matérias. O elevado investimento dos últimos anos e a incerteza atual não levam a crer numa rápida recuperação das cotações. De facto, poderão até registar novas quedas. A médio prazo, no entanto, a procura continuará a ser sustentada e as restrições de produção terão um impacto positivo nos preços. Os protagonistas do setor compreenderam rapidamente a situação e suspenderam alguns projetos de exploração.
Em bolsa, a cotação da Rio Tinto caiu, mas a empresa está posicionada para recuperar. Por sua vez, o preço do aço caiu a pique provocando prejuízos à ArcelorMittal e à Schnitzer Steel. Apenas uma redução de custos irá permitir esperar por uma recuperação destas empresas.