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O aspirador avariou? Tente dar-lhe uma segunda vida

Reduzir e reciclar
reparações de electrodomésticos
iStock

O inquérito internacional sobre pequenos eletrodomésticos da DECO PROteste, que reuniu a experiência de mais de 58 mil consumidores europeus, revela que muitos aparelhos descartados poderiam ter sido reparados.

No caso dos aspiradores, por exemplo, apenas 17% dos aparelhos avariados não tinham conserto.

A falta de soluções acessíveis para reparação, a par com taxas de recolha e reciclagem claramente insuficientes, contribui decerto para o incessante aumento de resíduos elétricos e eletrónicos – um importante problema ambiental que urge combater, alerta a DECO PROteste.

A experiência de mais de 58 mil consumidores

Em fevereiro de 2025, decorreu o inquérito internacional online que a DECO PROteste realiza anualmente, junto dos subscritores, sobre fiabilidade de pequenos eletrodomésticos, como aspiradores, ferros de engomar, máquinas de café, entre outros.

Além da DECO PROteste e de outras associações de consumidores do grupo Euroconsumers (de Espanha, Itália e Bélgica), também participaram as da Áustria, Hungria, Países Baixos e Eslovénia.

O estudo reuniu 58 659 respostas válidas dos subscritores, 9320 das quais no nosso país.

Muitos eletrodomésticos descartados tinham conserto

O quadro mostra quantos inquiridos trocaram de eletrodoméstico em vez de reparar e que percentagem de equipamentos avariados não tinham conserto.

Veja, também, quanto dura, em média, cada tipo de eletrodoméstico, considerando os que foram descartados por motivos relacionados com avarias e/ou problemas de funcionamento.

RESULTADOS DO INQUÉRITO POR ELETRODOMÉSTICO

TROCA POR AVARIA OU PERDA DE EFICÁCIA

EQUIPAMENTO AVARIADO NÃO TINHA CONSERTO

DURABILIDADE MÉDIA

Aspiradores clássicos e verticais com cabo

58%

17%

10 ANOS E 7 MESES

Aspiradores verticais sem cabo

69%

17%

4 ANOS E 9 MESES

Aspiradores-robô

65%

17%

5 ANOS E 4 MESES

Ferros de engomar clássicos

69%

27%

8 ANOS E 4 MESES

Ferros com gerador de vapor separado

82%

31%

8 ANOS E 5 MESES

Micro-ondas

60%

25%

10 ANOS E 5 MESES

Máquinas de café expresso

73%

24%

8 ANOS E 8 MESES

Máquinas de café de cápsula

63%

23%

6 ANOS E 2 MESES

Robôs de cozinha (processadores)

46%

16%

11 ANOS E 11 MESES

Fritadeiras elétricas a óleo

40%

14%

9 ANOS E 4 MESES

Air fryers

43%

13%

5 ANOS E 3 MESES

Comprar novo em vez de arranjar é frequente

Muitos inquiridos compraram um eletrodoméstico novo porque o anterior avariou:

  • 8 em cada 10 no que se refere a ferros com gerador de vapor à parte;

  • 7 em cada 10 no que toca a máquinas de café expresso;

  • 6 em cada 10 no caso de aspiradores verticais e robôs, ferros de engomar clássicos, máquinas de café de cápsula e micro-ondas.

Menos de um terço dos aparelhos avariados que foram substituídos não tinham conserto.

Esta situação é mais frequente com alguns eletrodomésticos. Não tinham mesmo conserto só:

  • 13% das air fryers e 14% das fritadeiras elétricas a óleo;

  • 16% dos robôs de cozinha;

  • 17% dos aspiradores, independentemente do tipo.

Conclusão do inquérito: muitos eletrodomésticos avariados, com peças danificadas ou outro tipo de problemas tinham solução.

Em busca de modelos mais recentes e com melhor desempenho

As principais razões apontadas para substituir o eletrodoméstico anterior diferem de aparelho para aparelho.

No caso dos aspiradores, por exemplo, 24% referiram querer um novo modelo, e a mesma percentagem afirmou que o aparelho estava desatualizado, com um desempenho inferior ao que costumava ter.

Já no que toca a micro-ondas, 25% afirmaram que o aparelho estava avariado, sem possibilidade de reparação, e 16% trocaram porque queriam um novo modelo.

A falta de soluções, como reparações caras ou impossíveis – quando já não existem peças de substituição – pode ser um entrave para a reparação.

Mas o constante apelo ao consumismo faz também parte do problema. Quando um eletrodoméstico ou dispositivo eletrónico ainda cumpre a sua função, há que resistir à tentação de comprar modelos novos que acabam de ser lançados, só porque anunciam ser de última geração.

Caso ainda funcione, em vez de descartar aparelhos, existem soluções, como doar e vender em segunda mão. Urge promover a economia circular, para combater o excesso de resíduos elétricos e eletrónicos.

Portugal na cauda da Europa na gestão de resíduos elétricos e eletrónicos

Ao nível da União Europeia, segundo o Eurostat, entre 2015 e 2023:

  • os resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE) aumentaram 78%;

  • passaram de 18,1 quilos por pessoa, em 2015, para 32,2 quilos por habitante, em 2023.

A recolha de REEE para reciclagem e valorização é insuficiente:

  • na União Europeia, representa só 38% dos equipamentos colocados no mercado – equivalente a 11,6 quilos por europeu, em média;

  • em Portugal, apenas 28% dos REEE são recolhidos. Com uma média de 5,8 quilos por pessoa (quase metade da média europeia), somos o terceiro pior país da União Europeia em matéria de reciclagem e valorização de resíduos elétricos e eletrónicos.

Estes dados mostram que é urgente implementar medidas para atingir a ambiciosa meta europeia de 65%, para a recolha de REEE, no Velho Continente em geral, mas sobretudo em alguns Estados-membros, como Portugal.

Reciclar, sim, mas não chega

Ao nível mundial, a situação é ainda mais preocupante.

No relatório "Global E-waste Monitor 2024", a Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que, em 2022:

  • 96 milhões de toneladas de equipamentos elétricos e eletrónicos foram colocados no mercado;

  • 62 milhões de toneladas de REEE foram gerados (o dobro face a 2020);

  • mas só 22% seguiram para reciclagem e valorização.

A ONU alerta ainda que a produção mundial destes equipamentos está a crescer cinco vezes mais rápido do que a taxa de reciclagem.

As fileiras destinadas ao desmantelamento de eletrodomésticos – e ao aproveitamento de materiais para construir novos produtos – não conseguem acompanhar o ritmo para fazer face ao aumento acelerado de equipamentos elétricos e eletrónicos que entram no mercado – e de resíduos que daí resultam, no fim do seu ciclo de vida.

Reparar como parte da solução

Os dados alarmantes sobre a montanha de resíduos elétricos e eletrónicos exigem um travão.

Os resultados do inquérito reforçam a urgência de implementar a diretiva europeia “Direito à Reparação”. Aprovada em 2024, os Estados-membros têm até fim de julho de 2026 para a sua implementação.

Entre outras medidas, as novas regras visam dar primazia à reparação e prolongar o tempo de vida dos equipamentos elétricos e eletrónicos. Os fabricantes terão de disponibilizar peças e instruções para reparação, a custos razoáveis, incentivando um modelo de economia circular.

Em 2030, a União Europeia fará um balanço da situação. A ver vamos o que vai ser feito em Portugal para reduzir o volume de resíduos elétricos e eletrónicos.

Independentemente dos contornos que a nova legislação venha a traçar – e cujos detalhes não foram ainda divulgados -, todos podemos (e devemos) contribuir, desde já, para um modelo de economia que se quer cada vez mais circular e sustentável.

Se um eletrodoméstico ou qualquer outro dispositivo elétrico e eletrónico avariar ou já não tiver utilidade, sempre que for possível, dê-lhe uma segunda vida. Saiba o que fazer na nova plataforma Reparar, da DECO PROteste.

Integrada no projeto europeu REP.per (REPair PERspective), esta iniciativa pretende ajudar os consumidores a encontrar soluções, antes de descartarem equipamentos elétricos e eletrónicos.

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