
Tiago Lagoa tem 29 anos e faz parte de uma comunidade no Instagram que se assume como “influencer” na difícil e pouco “sexy” área da sustentabilidade. Alia a produção de conteúdos nas redes sociais ao trabalho numa empresa enquanto engenheiro do Ambiente.
Marcámos encontro num jardim em Benfica, Lisboa, que Tiago indicou como um dos seus “refúgios climáticos” preferidos, “um local onde é possível abrigar-se de ondas de calor ou dias mais quentes”. Em entrevista à DECO PROteste, partilhou o seu percurso e anseios na luta contra as alterações climáticas.

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Quando surgiu a dedicação à sustentabilidade?
Sou natural dos Açores, de São Miguel, e acho que já nasci virado para a causa ambiental. Fui escuteiro durante 11 ou 12 anos, o que também me permitiu o contacto com a natureza. Nos Açores, tínhamos um campismo mais selvagem, e fui sempre muito incutido a preservar o ambiente. Em criança, lembro-me de ouvir falar de alterações climáticas nos documentários "BBC Vida Selvagem", que via religiosamente com a minha mãe ao domingo, e perceber que era algo preocupante. Aos 18 anos fui estudar Engenharia do Ambiente para o Porto, mas só depois de ver o documentário "Cowspiracy", sobre o impacto ambiental da indústria pecuária, comecei a pensar em mudar o meu estilo de vida, a começar pela alimentação. Vivi alguns anos com a chamada "ecoansiedade". Em 2018, num jantar de amigos, tomei a decisão de deixar a carne e, ao longo do tempo, fui fazendo várias mudanças.
O Instagram pode fazer a diferença na luta pela sustentabilidade?
Criei a página do Instagram em 2020. Sentia que já fazia tanto, mas não via propriamente mudança, e precisava de influenciar e sensibilizar mais pessoas. Neste momento, tenho uma comunidade de perto de 23 mil pessoas e gosto de pensar que já impactei essas 23 mil pessoas ou mais, se falarmos de uma forma indireta. O Instagram permite-me também dar apoio a pessoas que têm dúvidas na sustentabilidade, porque, no fundo, a minha página também é uma página de literacia ambiental.
Claro que quando falamos em alterações climáticas e sustentabilidade é muito frustrante. Para já, não é um assunto propriamente sexy e não é muito cativante, porque mexe muito com aquilo que somos, com a nossa rotina e, às vezes, são mudanças que não vemos no imediato. Mas a verdade é que, apesar das más notícias de anos a bater recordes em temperaturas, há muita coisa a acontecer. Eu não sou o único influenciador de sustentabilidade no Instagram, criamos todos uma comunidade dedicada, e acho que isso é inspirador. Também há marcas e empresas a quererem fazer melhor, e isso começou porque nós consumidores estamos mais interessados.
O que dizer a quem quer ser mais sustentável?
Para quem está a começar, deve focar-se numa área da sua rotina. Começar a fazer reciclagem já é os mínimos olímpicos. Pode ser reduzir o consumo da proteína animal, começar a compostar ou participar numa iniciativa da junta de freguesia. Se achar que não faz a diferença, podemos sempre fazer cálculos. Por exemplo, na poupança de água em casa. Se é uma pessoa que toma banho todos os dias, o caudal médio das nossas torneiras é cerca de 10 litros por minuto. Geralmente, as pessoas desperdiçam aquela água inicial. Portanto, se todos os dias tomarmos banho, numa família de 3 pessoas, e considerando que a água aquece mais ou menos num minuto, são 30 litros de água por dia que se está a desperdiçar. Ao final do mês, são 900 litros. Ao fim de um ano, o nosso impacto é enorme, e será ainda maior com mais pessoas a fazer o mesmo.
Que mudança faria mesmo a diferença na luta contra alterações climáticas?
Precisamos de empresas mais honestas e motivadas e um Governo mais dedicado à sustentabilidade para também motivar os cidadãos. Quando não vemos os superiores, os de cima, a fazerem, dificilmente nos sentimos motivados. Gostava de ver Portugal mais comprometido e não a encarar a sustentabilidade como uma competição. Ao nível do mix energético das energias renováveis, estamos muito acima da média europeia, mas a nossa média de reciclagem está abaixo. Mas não ganhamos nada com a comparação ou competição com outros países da União Europeia. Todos temos de chegar à meta, todos estamos a batalhar para ela. Enquanto for aquele o foco, acho que não temos empresas, nem um Governo, que sejam genuínas na luta climática.
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