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Temos de parar de destruir riqueza: a opinião de Antonieta Duarte

Reduzir e reciclar
Antonieta Duarte

Antonieta Duarte, especialista da DECO PROteste em sustentabilidade, comenta os números divulgados pelo mais recente relatório da Agência Portuguesa do Ambiente, que mostram que Portugal está longe de cumprir as metas de reciclagem, e aponta as consequências sociais, ambientais e económicas para o País.

Todos os dias, cada português produz uma média de 1,42 quilos de resíduos. Mas o que acontece ao "lixo" que descarta? Dados de 2024, publicados recentemente pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), dizem que, dos 5,27 milhões de toneladas de resíduos urbanos produzidos em Portugal Continental nesse ano, 75% não foram recolhidos separadamente, mas misturados e deixados no contentor do lixo comum. Consequência? Mais de metade dos resíduos acabaram em aterros (54%) e 17% foram alvo de baixa valorização energética. Fazendo as contas, 71% não foram reciclados.

Temos de parar de destruir material com valor ambiental, social e económico. A lei diz que, daqui a dez anos, apenas poderão ser depositados em aterro 10% dos resíduos produzidos no País. Mas como, se nem todas as famílias contam com contentores junto das suas habitações, onde possam depositar papel, vidro, plástico e biorresíduos? Trata‑se de uma forte barreira ao cumprimento do objetivo de reciclar e valorizar 90% dos resíduos.

Que vantagens traria o respeito por esta meta? Evitaríamos extrair e esgotar recursos naturais, pois esses resíduos seriam transformados em nova matéria‑prima. Evitaríamos encher os aterros ou construir mais destas infraestruturas, o que tanto desagrada às populações. Evitaríamos ainda que as entidades gestoras pagassem, à APA, 35 euros por cada tonelada de resíduos não reciclados que encaminham para aterro, um custo que acaba imputado às famílias. Evitaríamos, por fim, o espectro de coimas castigadoras, impostas pela União Europeia.

E que resíduos mais produzimos? Os dados da APA para 2024 indicam que 38% correspondem a biorresíduos, os que mais podem contribuir para cumprir as metas. Restos da preparação de refeições, como cascas de batata, cenoura e fruta, além de verduras e aparas de jardim, entre outros, se separados em casa e recolhidos em contentores próprios, podem dar origem a um fertilizante valiosíssimo para a agricultura ou até ao biogás.

O que acontece, na prática, aos biorresíduos? Desde 1 de janeiro de 2024 que é obrigatória a sua recolha seletiva, mas 86% vão para o lixo comum, um fardo que corresponde a 1,84 milhões de toneladas. A taxa de recolha é muito baixa na maioria dos municípios.

O cidadão pode contribuir para inverter os números. Veja na fatura mensal das águas e dos resíduos que destino é dado a estes no seu concelho. E conheça as opções para depositar biorresíduos no mapa interativo desenvolvido pela DECO PROteste. Não há contentores junto de casa? Reclame melhor serviço. Saiba como na plataforma Reclamar Compensa.

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