
Não invista em sistemas fotovoltaicos sem antes perceber o seu perfil de consumo e dimensionar a produção de eletricidade. Pode estar a deitar dinheiro à rua, em vez de poupar.
Diminuir a pegada ambiental e, ao mesmo tempo, aumentar a independência da rede elétrica, poupando a carteira ao final do mês são os objetivos da maioria dos consumidores que decidem investir num sistema fotovoltaico de autoconsumo.
Mas escolher a solução certa para um caso específico nem sempre é tarefa fácil. Conhecemos muitos casos em que os conjuntos fotovoltaicos estão completamente desajustados e nunca serão rentáveis.
Para garantir o menor investimento e a maior rentabilidade, deve conhecer o seu perfil de consumo e adequar o sistema em conformidade. É importante que o processo decorra de forma correta e eficaz, pelo que recomendamos o contacto com empresas especializadas na instalação (lista completa no site da DGEG). Exigir sempre uma solução chave na mão é muito importante.
Nos últimos anos, o preço destes sistemas de autoconsumo tem descido de forma significativa. Ainda assim, o custo continua a ser o maior entrave à compra.
O que fazer antes de investir num sistema fotovoltaico
Se já decidiu tirar partido do sol e investir num sistema fotovoltaico para autoconsumo, existem alguns aspetos essenciais a ter em conta. Mesmo nos casos que estão mais otimizados para o seu perfil de consumo, a rede elétrica deve ser mantida como backup. Isto implica que irá ter sempre uma fatura de eletricidade mensal, embora mais reduzida. Tem também de garantir que a energia produzida diariamente é quase toda utilizada em casa. Evita, assim, injetar eletricidade na rede de forma gratuita.
Cada caso é um caso, e o dimensionamento de um sistema fotovoltaico deve ser feito tendo em conta todos os parâmetros possíveis, nomeadamente o fim a que se destina. Se o objetivo for diminuir substancialmente a pegada ambiental e obter a maior independência possível da rede, a solução pode passar por investir num conjunto de painéis e inversor com armazenamento (baterias ou bombas de calor para aquecimento de águas sanitárias, por exemplo), de modo a guardar o excesso de produção para mais tarde utilizar (isto, se existir consumo noutro período que o justifique). Mas, se procurar apenas uma redução ligeira do impacto ambiental, se existirem limitações financeiras ou se o consumo for essencialmente diurno, deve apenas considerar uma solução de autoconsumo puro (sem armazenamento).
Simulámos o cenário de uma família de duas pessoas com uma moradia de um piso e quatro assoalhadas, na zona do Porto, renovada em 2005 e com um nível baixo de isolamento térmico. O casal encontra-se em teletrabalho, e todos os equipamentos que possuem são elétricos, já com alguns anos. Por estarem em casa todo o dia, têm dois picos de consumo, à hora do almoço e à noite.
A nossa simulação com soluções fotovoltaicas com e sem bateria demonstra que não é por comprar a opção mais cara e com maior capacidade de produção que vai aumentar as poupanças, ambientais ou financeiras. O sistema para autoconsumo pode produzir muito durante as horas de sol, mas, se ninguém consumir, está a desperdiçar.
Resultados da simulação com sistemas fotovoltaicos com e sem bateria
Foram simulados 12 conjuntos de sistemas fotovoltaicos para um cenário (família de duas pessoas com uma moradia de um piso e quatro assoalhadas, na zona do Porto, renovada em 2005 e com um nível baixo de isolamento térmico; casal encontra-se em teletrabalho, e todos os equipamentos que possuem são elétricos, já com alguns anos; têm dois picos de consumo, à hora do almoço e à noite), com e sem baterias, em combinações de dois a 12 painéis com diferentes inversores e baterias. Em nenhum foi considerada a venda de excedente à rede.
Para uma opção de autoconsumo puro, a nossa recomendação recai sobre o segundo sistema de menor dimensão, com quatro painéis, dois microinversores e 1200 watts. Apesar de ter um desperdício um pouco maior, quando comparado com a opção menos potente (28% da eletricidade anual injetada na rede, sem remuneração) e um prazo de retorno do investimento cerca de dois meses superior, acaba por permitir poupanças anuais mais vantajosas. A economia de eletricidade é superior e, acima de tudo, há um incremento de 57% na poupança de emissões de dióxido de carbono.
Soluções fotovoltaicas sem bateria
Recomendamos a opção com 4 painéis e 2 microinversores.
2 painéis 1 inversor 600 W | 4 painéis 2 inversores 1200 W | 8 painéis 4 inversores 2400 W | 12 painéis 6 inversores 3600 W | |
---|---|---|---|---|
Produção anual (kWh) | 965 | 1930 | 3861 | 5790 |
Consumo no local (kWh) | 892 | 1398 | 1824 | 1980 |
Desperdício (injeção na rede) | 8% | 28% | 53% | 66% |
Consumo fornecido pela rede (kWh) | 3952 (674 €) | 3447 (588 €) | 3020 (515 €) | 2870 (490 €) |
Preço do sistema | 968 € | 1560 € | 3006 € | 4156 € |
Poupança | 152 € | 239 € | 311 € | 378 € |
Poupança de dióxido de carbono (ano) | 173 kg | 271 kg | 354 kg | 384 kg |
Retorno do investimento (meses) | 76 | 79 | 116 | 148 |
Como parte do consumo desta família ocorre de noite, é normal que, caso decida investir em sistemas com mais produção, existam desperdícios significativos de energia (injeção não-remunerada na rede), o que pode ser verificado pelas elevadas percentagens de injeção na rede que o sistema de 8 e 12 painéis apresenta.
De modo a atenuar esse desperdício, também avaliámos a possibilidade de optar por uma solução com baterias. Seguindo a máxima do “menos é mais”, verificámos que cerca de 56% do consumo diário de eletricidade ocorria à noite. Se esta percentagem fosse inferior, a opção com armazenamento poderia já não se justificar.
Esta solução permite carregar as baterias durante o dia – podendo aproveitar todo o excesso de produção elétrica – e, mais tarde, usá-la (até à potência máxima de saída do inversor). Com isto, o potencial de redução de emissões de dióxido de carbono é muito superior, assim como as poupanças anuais associadas à fatura da eletricidade. A nossa recomendação, por exemplo, pode gerar uma poupança anual de 550 euros e uma redução anual de emissões de dióxido de carbono de cerca de 625 quilos.
Soluções fotovoltaicas com bateria
Neste caso, recomendamos a opção com 8 painéis e baterias com uma capacidade de 7,2 kWh.
8 painéis inversor 2000 W | 8 painéis inversor 2000 W | 10 painéis inversores 3000 W | 12 painéis inversores 3000 W | |
---|---|---|---|---|
Capacidade das baterias (kWh) | 7,2 | 9,6 | 14,4 | 14,4 |
Produção anual (kWh) | 3668 | 3630 | 4422 | 5380 |
Consumo no local (kWh) | 3221 | 3467 | 3927 | 4180 |
Desperdício (injeção na rede) | 12% | 4% | 11% | 22% |
Consumo fornecido pela rede (kWh) | 1624 (277 €) | 1377 (234 €) | 918 (157 €) | 670 (114 €) |
Preço do sistema | 5795 € | 6902 € | 10 271 € | 10 581 € |
Poupança | 550 € | 591 € | 670 € | 713 € |
Poupança de dióxido de carbono (ano) | 625 kg | 673 kg | 762 kg | 811 kg |
Retorno do investimento (meses) | 127 | 140 | 184 | 178 |
Qual é, então, o problema? O mesmo dos sistemas de autoconsumo puro, mas inflacionado: o preço do equipamento e da instalação. O investimento inicial é muito significativo, e o mesmo se aplica ao prazo de retorno do investimento. No caso da nossa recomendação, o preço indicativo do sistema é de 5795 euros, e o retorno do investimento acontecerá após os dez anos.
Devo recorrer às entidades instaladoras?
O nosso conselho é questionar e verificar o que lhe propõem antes de gastar qualquer cêntimo. A visita ao nosso simulador para comparar sistemas fotovoltaicos pode ajudar. Para tal, basta indicar a região onde vai instalar o sistema fotovoltaico, se tem orçamentos e qual o número de painéis. E alerta máximo: recorra sempre às entidades instaladoras que têm à disposição todas as ferramentas para dimensionar e validar qualquer sistema. Pode, assim, tirar proveito do sol com base numa escolha informada.
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