
Os sacos de papel são usualmente vistos como mais sustentáveis, mas têm mais impacto ambiental do que os sacos de plástico. A reutilização deve ser privilegiada. Veja aqui o que se adequa mais ao seu perfil de consumo.
Qual é o impacto ambiental dos sacos de compras? Em função disso, qual é a melhor opção para o consumidor? Foi o que procurámos responder no teste realizado em 2021, com as organizações de defesa do consumidor nossas congéneres na Bélgica, em Itália e em Espanha. Avaliámos:
os materiais usados na confeção dos sacos;
a incorporação de materiais reciclados;
o uso de tinta e corantes (para pintar logótipos, por exemplo, ou outros motivos que tornem o saco apelativo ou divulguem uma marca);
a forma como os componentes foram ligados (se foram colados ou cosidos, por exemplo);
se são biodegradáveis ou compostáveis;
as certificações (rótulo ecológico, por exemplo);
o país de origem do produtor;
o peso e o volume do saco, entre outros tópicos.
Como testámos os sacos de compras
Submetemos 96 amostras de sacos à prova da capacidade e do número de usos para compensar o impacto ambiental. Avaliámos o ciclo de vida, conjugando-o com o volume máximo de cada saco. O objetivo era responder à pergunta “quantos sacos de cada categoria são necessários para transportar produtos de mercearia com um volume de 20 litros e um peso de 10 quilos, numa só ida às compras”? Foi necessário enchê-los com esferovite para medir o seu volume máximo. Consoante os tamanhos dos exemplares do nosso teste, a resposta oscilou entre um e dois sacos.
Quanto mais impacto tiver sobre o ambiente, maior o número de vezes que teremos de reutilizar um saco para compensar o estrago.
Qual o saco mais amigo do ambiente?
A Dona Arminda que não dispensa o seu trolley para as compras há mais de dez anos.
O António que se esquece sempre do saco reutilizável e tem de comprar um saco de plástico.
A Joana que usa um saco de algodão biológico com uma inscrição estampada.
A Maria que prefere o saco de poliéster com florinhas pintadas pela filha.
Escolhemos estes cenários para explicar os impactos ambientais. Quem tem a melhor prática ambiental na relação com os sacos de compras? Se escolheu o trolley usado para as compras há mais de dez anos, tem razão. A Dona Arminda tem poupado ao ambiente consideráveis quilos de plástico e de papel. Mas se escolheu o António também acertou. Se o cliente compra sacos de plástico a cada ida à mercearia, não estará a prejudicar o ambiente? A resposta é “sim”, com um “depende”: se o consumidor se esquece com frequência dos sacos reutilizáveis em casa, tem de considerar a melhor opção. É melhor que compre sacos de plástico do que sacos de algodão, partindo do princípio de que se irá esquecer dos últimos em casa. E se António voltar a usar esses mesmos sacos de plástico noutras compras ou para depositar o lixo está a reutilizá-los, de alguma forma. Vamos supor que o faz.
Trolley exige 742 reutilizações para compensar
Agora, imaginemos que António usava de vez em quando o trolley. Umas vezes, levava-o à mercearia e, noutras, fatalmente, esquecia-se do carrinho em casa. Para compensar o que a produção daquele trolley custou em termos de impactos ambientais, teria de mantê-lo durante muito mais tempo do que a Dona Arminda. Em geral, um saco deste género precisa de 742 utilizações para compensar o que custou em recursos naturais e transporte, entre a produção, a distribuição e a utilização pelo consumidor.
Esta comparação é feita respondendo à pergunta do nosso cenário-base: quantas vezes tenho de utilizar cada alternativa, para que esta tenha menos impactos ambientais do que comprar sacos de plástico a cada ida às compras?
O saco de algodão biológico da Joana exige ser usado, pelo menos, 149 vezes para contrabalançar o seu impacto ambiental. Esse impacto, aliás, é maior no caso do algodão biológico, quando o comparamos ao “convencional”: para produzirmos um quilo de algodão orgânico, necessitamos de mais espaço, ou seja, 30% de solo adicional, porque a sua produção não é tão eficiente quanto o do seu congénere. É verdade que não se utilizam pesticidas nem fertilizantes, mas este ganho ambiental não é assim tão significativo quanto se poderia pensar — a utilização do solo tem mais impactos.
Mesmo assim, as coisas não são tão simples, e o plástico não foi “absolvido” pelo nosso estudo. Afinal, a própria lei desencoraja o seu uso, taxando cada saco de plástico que compramos. Se o consumidor tiver à escolha um saco de plástico com uma percentagem de material reciclado, por exemplo, estará a seguir uma opção melhor para o ambiente. Dentro de cada categoria, há diferenças que vão ter efeito, se mudarmos o nosso comportamento no ato de transportar as compras.
Outro exemplo, de novo em categorias diferentes. Imagine que hesita entre o saco de plástico e o de papel, independentemente de terem componentes mais sustentáveis ou não. Deve ter em mente que precisa de usar o de papel nove vezes para igualar a performance do de plástico, caso este só vá uma vez às compras.
A cada consumidor, o seu saco de compras
Como é possível, por exemplo, termos de usar um trolley mais de 700 vezes — uns sete anos, se o levarmos duas vezes por semana às compras — para compensar o que exigiu em recursos? Apesar de o trolley exigir mais ao nível de matérias-primas e de energia no fabrico — e transporte —, esta opção é mais robusta e resistente. É ideal para quem tem limitações de mobilidade, escolhe estabelecimentos mais próximos de casa e não compra sacos há anos, já que nunca se separa do trolley quando vai às compras. Em que ficamos? Escolha o saco mais adequado ao seu perfil, desde que não lhe dê mesmo um só uso. E evite os de algodão e juta. A propósito do algodão, se der a utilização correta ao saco de algodão biológico — que, como já vimos, tem maior impacto do que o de algodão convencional, por exigir mais uso de solo —, vai ter de o levar às compras, no mínimo, 149 vezes. Se se esquecer, com frequência, de levar o saco reutilizável para as compras, mais vale seguir o exemplo de António. No caso de o esquecimento ser esporádico, deve inspirar-se em Maria: o seu saco de poliéster com florinhas pintadas é mais compensador, pois só vai necessitar de duas a três utilizações. Quando o saco de algodão deixar de servir, Joana poderá melhorar ainda mais o seu desempenho ambiental e declarar fidelidade à versão de poliéster ou de ráfia.
No caso de António, o senso comum mais básico recomendaria que não se esquecesse dos sacos reutilizáveis em casa. Evitava comprar constantemente. Mas, se conseguir usar aquele saco mais do que duas vezes, mesmo para outras funções (guardar coisas em casa ou transformá-lo num saco do lixo, por exemplo), poderá apaziguar a sua consciência ambiental.
Por vezes, um mero detalhe pode fazer disparar o número de utilizações. Já falámos da diferença entre escolher sacos de algodão biológico e convencional e do resultado pouco convencional que tiveram no nosso teste... o simples facto de um saco estar pintado, ou usar material reciclado na composição, pode fazer a diferença. Os sacos de juta também devem ser usados muitas vezes, até 66, se forem compósitos. Neste caso, a amostra a que recorremos incluía sacos de juta compósitos mais pequenos, pelo que era necessário juntar dois para perfazer a quantidade suficiente para a nossa ida às compras. Os de ráfia exigem três a quatro usos. São, por isso, uma boa opção para quem leva sempre o saco quando vai às compras.
Conclusão: deve reutilizar o mais possível, de acordo com as suas conveniências. Ninguém é um vilão, se usar um saco de plástico. Desde que não o faça apenas uma vez. Ao dar-lhe muita serventia e depois depositá-lo no ecoponto amarelo, para reciclar, cumpre o seu papel.
Por outro lado, ninguém é um herói que vai salvar o mundo, caso adquira um saco de compras reutilizável, de ráfia, juta ou algodão, ou ainda um trolley, se não fizer um uso conveniente. Basta esquecer-se deles permanentemente em casa e ter de comprar novos sacos, dos quais faça um uso único, para se perder a bondade do gesto. Aqueles sacos têm mais impacto ambiental, quando analisamos o seu fabrico e o circuito que atravessam até nos chegarem às mãos, mas esse custo pode (e deve) revelar-se um benefício se seguirmos a máxima “use e abuse”. Não os deve lavar à mão ou na máquina, para que não libertem microplásticos. Um paninho húmido é suficiente para uma higiene sustentável.
Sacos para fruta, legumes e pão: qual usar?
Também avaliámos no nosso teste as chamadas embalagens de serviço, ou seja, os sacos que estão à nossa disposição nos estabelecimentos, para transportarmos fruta e legumes. E os resultados são coerentes com os dos seus “primos” que trazemos de casa.
O algodão volta a enganar: os sacos de rede comprados em grupo nas grandes superfícies, também para reutilização, exigem que os voltemos a usar para embalar os nossos frescos 952 vezes, para compensar o impacto do cenário-base que descrevemos atrás. Leu bem. Esta quantidade exorbitante reflete o valor máximo de impacto ambiental das variáveis que analisámos, para a sua produção. Os de poliéster, pelo simples facto de terem uma fita vermelha para os fechar, traduzem-se em 98 utilizações... ou, sem a fita pintada, em dez.
Se formos comprar pão, em muitas grandes superfícies, a solução é uma embalagem que mistura plástico e papel. Aí, já vemos a frequência de uso necessária para compensarmos os males ambientais subirem para 16 vezes. Tendo em conta que, à partida, não estaremos muito voltados para reutilizar este tipo de embalagens, o preço ambiental a pagar é considerável.
O mais sustentável é mesmo não utilizar nenhuma embalagem. Caso seja necessário utilizar embalagem, o melhor é optar por um saco de poliéster reutilizável que não tenha tintas.
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