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Índice de comportamento sustentável dos consumidores: Portugal abaixo da média

Reduzir e reciclar

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Mulher a colocar plástico no ecoponto
iStock

O Índice de Comportamento Sustentável dos Consumidores 2025 mostra que Portugal continua a valorizar a sustentabilidade, mas enfrenta obstáculos para transformar intenções em boas práticas. Entre oito países, os portugueses pontuaram abaixo da média do índice global.

Vontade não parece faltar: há muito que a sustentabilidade entrou no vocabulário dos portugueses. Palavras como reciclagem, eficiência energética, mobilidade verde ou consumo responsável estão cada vez mais presentes na linguagem ecológica que o País já interiorizou. Mas do discurso à ação ainda vai um longo caminho.

Pelo menos, é o que mostra o mais recente estudo sobre o Índice de Comportamento Sustentável dos Consumidores 2025 (Consumer Sustainable Behavior Index – CSBI). Desenvolvido pela DECO PROteste em conjunto com as associações de consumidores de outros sete países, o estudo confirma que os portugueses acreditam na importância da sustentabilidade, mas ainda não conseguem torná-la um hábito diário. Com 47 pontos num total de 100, Portugal fica abaixo da média internacional e desce face ao inquérito de 2021 (50 pontos).

Em 2021, um conjunto de associações de consumidores dos 14 países envolvidos nesse estudo constituiu um painel de especialistas que definiram os comportamentos que mais contribuem para a sustentabilidade, divididos por cinco grandes áreas: alimentação, viagens e mobilidade, água e energia para uso doméstico, compra de produtos não-alimentares e serviços e, ainda, gestão de resíduos. Esse painel atribuiu também um nível de importância a cada uma destas áreas, e foi com base nesta informação que se construiu o Índice de Comportamento Sustentável dos Consumidores.

Este ano repetiu-se o estudo, desta feita com oito países participantes: Áustria, Bélgica, Itália, Portugal, Canadá, Eslovénia, Espanha e EUA. Através de inquéritos representativos nos oito países participantes, enviados para a população em geral dos 18 aos 74 anos, em julho de 2025, a amostra foi ponderada por género, idade, região e nível de escolaridade, para refletir as diferentes realidades nacionais. No total, foram recebidas 7644 respostas válidas, das quais 884 com origem em Portugal. Os resultados espelham as opiniões e experiências dos inquiridos.

No geral, em Portugal, os resultados revelaram uma sociedade ecologicamente consciente, disposta a mudar, mas ainda condicionada por alguns desafios, como preços altos, falta de infraestruturas e de opções adequadas.

Com uma pontuação abaixo da média no índice global, assim como em todas as dimensões do CSBI, a idade e a situação financeira dos portugueses surgem como as variáveis que determinam as diferentes respostas entre os inquiridos nacionais: aqueles que têm mais de 44 anos e uma condição financeira confortável registaram as pontuações mais elevadas (54); os que têm 44 anos ou menos, com uma situação económica difícil, apresentaram as pontuações mais baixas (44).

Alimentação: mais atenção ao desperdício, menos carne no prato

Na área da alimentação, Portugal obteve 44 em 100 de classificação. Mais de metade dos inquiridos (55%) procura reduzir o consumo de carne e produtos de origem animal, e 64% dizem esforçar-se para evitar o desperdício alimentar. No entanto, 37% continuam a consumir carne sem procurar reduzir e apenas 2% são vegetarianos. Neste campo, a mudança de hábitos alimentares esbarra, muitas vezes, na realidade do orçamento familiar.

Mobilidade: boas intenções, mas o carro ainda reina

Com um índice parcial de 40 em 100, a mobilidade foi a área em que Portugal registou o valor mais baixo. Apenas 30% dos inquiridos dizem deslocar-se regularmente a pé, de bicicleta ou em transportes públicos, e só 27% afirmam evitar viajar de avião de forma significativa. No entanto, o preço é apontado como a principal barreira para um comportamento mais sustentável.

Energia e água: a sustentabilidade começa em casa

Nesta área, Portugal obteve uma classificação de 48 em 100. Mesmo assim, quando se trata de poupança de energia e água em casa, Portugal destaca-se pela positiva. Quase metade dos consumidores (48%) pratica, de forma significativa, hábitos regulares de poupança de energia, como desligar luzes ou evitar o desperdício de água. Contudo, apenas 21% vivem em casas bem isoladas. A transição energética é desejada, mas ainda inacessível para muitas famílias.

Consumo: entre comprar menos e melhor

Com um índice de 56 em 100, a consciência sobre o impacto do consumo está a crescer. Mais de metade dos portugueses (52%) prefere produtos duradouros e reparáveis, e 40% dizem evitar o consumo excessivo de forma significativa.

Resíduos: a reutilização e a reparação ganham terreno

Nesta área, Portugal obteve um índice de 54 em 100. Sessenta por cento dos consumidores prolongam a vida dos produtos o mais possível, e 35% optam por repará-los, em vez de os substituir. Ainda assim, a reciclagem e a redução de embalagens continuam aquém do potencial nacional.

Sustentabilidade: entre o ideal e o possível

Os inquiridos portugueses consideram água e energia como a dimensão mais importante, seguida de alimentação, gestão de resíduos, compra de produtos e serviços e viagens e mobilidade.

O estudo mostra uma distância clara entre intenção e prática. Cinquenta e quatro por cento dos portugueses sentem-se bem informados sobre a sustentabilidade, e 64% consideram muito importante viver de forma sustentável, mas apenas 52% acreditam realmente fazê-lo. Os principais obstáculos? Custos elevados, falta de opções sustentáveis e ausência de infraestruturas adequadas.

Portugal demonstra uma consciência ambiental sólida, mas enfrenta uma encruzilhada: ou transforma o discurso em prática, ou continuará a perder terreno neste “campeonato” global da sustentabilidade.

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