
A minha televisão passou a fazer parte da família ainda no século passado e, desde então, foi presença inseparável à mesa de jantar. Interrompia, sem cerimónia, as conversas sobre a escola ou o trabalho para chamar a atenção para as notícias do País e do mundo. Sobreviveu a mudanças de casa, a pequenas avarias e às críticas impiedosas de dois adolescentes nativos digitais que não perdoavam a falta de definição da imagem. A minha tv-zinha resistiu durante 27 anos. Há três meses, desligou-se para sempre. E não é raro ouvir: "Já não se fazem eletrodomésticos assim."
De facto, muitos dos aparelhos atuais parecem concebidos para durar pouco mais do que o tempo da garantia. Segundo o Global E-waste Monitor 2024, publicado pelas Nações Unidas, em 2022 foram geradas 62 milhões de toneladas de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE) em todo o mundo – um aumento de 82% desde 2010, e 24% abaixo das projeções para 2030. É o fluxo de resíduos com crescimento mais rápido ao nível global. O motivo? Maior consumo, ciclos de vida mais curtos e raras opções de reparação.
Do total, só 20% foram recolhidos e reciclados adequadamente – há muitos desvios, para o mercado paralelo e para exportação para outros países sob a forma de produtos, além de que os consumidores não põem os REEE no local correto.
Gerir eficazmente estes resíduos é fundamental, para proteger o ambiente e a saúde pública, e para recuperar materiais valiosos, cuja perda representa, todos os anos, entre 800 milhões e 1,7 mil milhões de euros. Em Portugal, em 2021, recolheram-se 54 mil toneladas de REEE, apenas 27% da meta europeia.
Mas nós podemos fazer a diferença. Na plataforma Reparar, encontra dicas para resolver pequenas avarias, procurar peças ou saber o que fazer antes de chamar um técnico. Ao reparar, não só prolonga a vida dos aparelhos, como contribui para a nova diretiva europeia sobre o "direito à reparação", que deverá ser transposta para a lei nacional até 31 de julho de 2026. Cada gesto conta para tornar esse direito uma realidade.
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