
A educação é o segredo para mitigar o desperdício alimentar. O grande desafio é saber passar a mensagem sustentável às famílias, nas famílias, nas comunidades. Este é uma das conclusões retiradas da conferência destinada a assinalar o primeiro Dia Nacional da Sustentabilidade.
Ensinar com o exemplo, em casa, na comunidade, na participação em iniciativas de combate ao desperdício alimentar são apenas algumas das formas apresentadas no painel Desperdício Alimentar, na conferência “Visões do Futuro”, onde se comemorou o primeiro Dia Nacional da Sustentabilidade, 25 de setembro. A educação é o segredo para mitigar o desperdício alimentar.
Não desperdiçar é complexo, "precisa de planeamento"
“Falta educação para a gestão do que comemos”, começou por dizer o padre Eduardo Neto, lamentando constatar que “até em famílias carenciadas se desperdiça”. A nutricionista Ágata Roquette acrescentou que “falta planeamento”. Em casa, “poderíamos programar [as refeições], mas nesta vida cada vez mais agitada falta também, por vezes, disponibilidade para esta organização”. Mas lançou algumas dicas para o consumidor: “Os vegetais congelados são bons (mais vale congelado do que desperdiçado), o pão pode ser congelado e deve aproveitar-se fruta e vegetais mais maduros para fazer sumo.” Ágata recordou a avó, que ia todos os dias comprar o essencial para as refeições do dia, algo que hoje não é possível fazer, reforçando a importância do planeamento, da lista, da agenda.
Era preciso um gestor "em cada casa"
O chef Kiko apelou também à mudança comportamental, que, sendo complexo e pouco evidente, é um facto. “A maioria das pessoas não é gestora por definição. No entanto, têm de ser gestoras no dia-a-dia: gerir, planear”, sendo ainda bombardeados por publicidade que as desvia dos seus objetivos. Para evitar o desperdício, o chefrecomenda, tal como Ágata Roquette, fazer o planeamento das refeições a partir do qual se faz a lista de compras.
Uma vez que hoje não é possível, para a generalidade das pessoas, manter os hábitos da avó de Roquette, Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, apresenta algumas pistas para a sustentabilidade. Desafia a novos olhares sobre os recursos. “O desperdício nas casas é mínimo, mas a soma de todas as casas representa um grande desperdício.” E por vezes nem damos por isso.
Quem já passou pela mudança comportamental foi o padre Eduardo Neto, que, durante a pandemia, se viu obrigado, com outros padres, a aprender a cozinhar e a aproveitar melhor o que compra ou lhe é dado.
Este é o ponto de partida do episódio dedicado ao tema do POD Pensar, o podcast com ideias para consumir da DECO PROTeste. O jornalista Aurélio Gomes modera o debate entre Isabel Jonet, a presidente da Federação dos Bancos Alimentares contra a Fome; Francisco Martins ou chef Kiko, como é mais conhecido, chef de cozinha de autor em alguns restaurantes lisboetas e profissional bastante empenhado no combate ao desperdício alimentar; e Dulce Ricardo, coordenadora da área de estudos de Alimentação da DECO PROTeste.
Grandes quantidades de embalagens são também desperdiçadas
Isabel Jonet apontou para o duplo desperdício de alimentos e recursos. “É o maior absurdo económico, com impactos ambientais incríveis.” Referia-se à produção e distribuição de bens que acabam por chegar intactos aos armazéns da organização humanitária. Isabel Jonet exemplificou que só naquela semana haviam chegado ao Banco Alimentar quatro toneladas de bananas embaladas que não puderam ser comercializadas por algum motivo. A fruta foi distribuída, mas toda a embalagem foi desperdício. “É o duplo desperdício”, recorda a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome.
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