
A transição energética esteve em foco no 4.º painel da conferência Visões do Futuro. As virtudes e inconveniências da posição geoestratégica de Portugal estiveram em debate, com a mobilidade elétrica a merecer especial destaque.
A literacia sobre gases renováveis chegará em breve às escolas, revelou Joana Appleton, head of investor relations & ESG da Floene no painel que a conferência Visões do Futuro dedicou a combustíveis e energia. A mesma responsável confirma que a maior rede de distribuição de gás em Portugal está a preparar-se para a distribuição de gases renováveis (hidrogénio verde e biometano), tendo já “14 mil quilómetros de redes preparados”, tendo em vista o cumprimento das metas de 2050 para substituição das energias fósseis por alternativas mais sustentáveis.
Carlos Lobo: qual é o objetivo do País?
Carlos Lobo, professor e comentador político, apontou para a necessidade de uma visão estratégica, sublinhando que é difícil cumprir objetivos se estivermos sempre a levantar obstáculos a projetos com potencial de contribuir para a transição energética em curso. O professou classificou como desafio para o País “o crescimento sustentável” e deixou críticas: “Somos um país abençoado, temos posição geopolítica relevante e estamos afastados dos riscos que se conhecem. Mas qual é o objetivo do País?”
O centro de dados alimentados por energias renováveis, em Sines, ou a exploração de lítio em Montalegre foram identificados por Carlos Lobo como dois importantes projetos para a transição energética e que “foram vítimas de entraves, contribuindo para a retração do mercado”.
“Portugal é um país abençoado, mas não sabemos qual é o nosso desígnio nacional de crescimento”, refere o comentador. Para Carlos Lobo, este desígnio deveria ser o “crescimento económico, ambientalmente sustentável”, lamentando que a principal barreira ao crescimento seja a burocracia.
Miguel Morgado: é preciso resolver desafios demográficos
“Portugal perde oportunidades atrás de oportunidades. Temos desafios muito grandes pela frente”, disse, por seu turno, Miguel Morgado, professor universitário e ex-deputado. “Nada é viável se os propósitos de sustentabilidade ambiental não forem também sustentáveis social e economicamente”, ressalva.
O comentador político recorda ainda que Portugal enfrenta grandes desafios relacionados com a situação geopolítica internacional. “As decisões, em Portugal, dependem da União Europeia”, desde a defesa à energia, passando pela mobilização de meios financeiros para a transição digital. Internamente “é preciso resolver os desafios demográficos”, sustenta Miguel Morgado.
Rui Romano: montar um posto de abastecimento elétrico na rua é extremamente complexo
Rui Romano, diretor de rede da Cepsa, não tem dúvidas de que Portugal tem uma posição geoestratégica única, que deve ser aproveitada: “Estamos perto dos EUA e longe da Rússia”, e “temos Sol”, o que é uma vantagem quando se fala de eficiência energética, defende. Apenas 2% do parque automóvel português é elétrico, constata o responsável da Cepsa, explicando que é “preciso criar condições para a mobilidade elétrica, mas é extremamente complexo conseguir montar um posto de abastecimento elétrico na rua”. Rui Romano aproveitou ainda a ocasião para revelar que a Cepsa está a construir uma fábrica de hidrogénio verde na Andaluzia e uma fábrica de biocombustível, fundamental para a descarbonização dos atuais motores de combustão, mas que, para já, apenas é possível ser vendido a veículos profissionais, ou seja, não se destina a particulares.
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