
A manhã do 2.º dia da 4.ª edição da conferência “Visões do Futuro”, organizada no âmbito do Dia Nacional da Sustentabilidade, começou com o debate “reciclagem, bioresíduos e economia circular”.
João Dias, administrador-executivo da Tratolixo, Rosa Monforte, country general manager da European Recycling Platform (ERP), Ana Carreto, diretora de relações externas da Mercadona, e Guilherme Tavares, diretor corporativo de certificação, ambiente e segurança do Grupo ETE, no debate moderado por Elsa Agante, responsável de sustentabilidade da DECO PROteste, demonstraram, no conjunto, como funciona um sistema sustentável circular, que começa na produção, passando pelo embalamento e rotulagem, para chegar ao consumidor e voltar ao sistema através da reciclagem ou dos biorresíduos.
João Dias descreveu o sistema de tratamento de resíduos urbanos de Oeiras, Cascais, Sintra e Mafra, referindo que “já se separam milhares de toneladas de lixo orgânico, incluindo restos de comida, sobras de refeições ou guardanapos de papel”, que, depois de tratados, “são utilizados para a produção de 10 milhões de metros cúbicos de biogás”. Este valor permite a produção de eletricidade suficiente para fornecer continuamente o equivalente às necessidades de energia de cerca de 15 mil pessoas. No final, estas pessoas deixam de produzir 150 mil toneladas de CO2. A circularidade faz parte de todo o sistema.
Rosa Monforte acrescentou ainda a informação sobre a recolha de lixo elétrico e eletrónico, apontando para 2030 como a data em que se produzirão 200 mil toneladas deste tipo de resíduos. A sua recolha está hoje num valor abaixo de metade da média europeia. A responsável da ERP lamenta que se registe um nível de reciclagem tão baixo neste tipo de produtos, entre os quais estão incluídas as pilhas e baterias. Rosa Monforte justifica o nível baixo de reciclagem com motivos como a inércia do consumidor e o desvio de muitos destes resíduos para o mercado paralelo e ilegal, devido ao valor económico de muitos dos componentes destes resíduos. A responsável recorda ainda que as lojas da especialidade têm a obrigação de aceitar os artigos velhos ou avariados aquando da compra de equipamentos novos e que todos os consumidores podem saber onde colocar os resíduos elétricos e eletrónicos e pilhas através do site da ERP “eu reciclo".
“Equipamentos de grande dimensão não devem ser postos na rua. Em cinco minutos desaparecem. As componentes são valiosas para o mercado paralelo e o que acaba por ficar na rua são apenas carcaças sem gases com efeito de estufa, metais pesados, pedras raras ou componentes eletrónicos”, explicou Rosa Monforte.
João Dias lembrou que existem linhas de ambiente especificamente criadas para as pessoas poderem chamar o serviço de recolha de equipamentos grandes.
A quantidade de alimentos desperdiçados e que diariamente terminam no lixo é um problema em Portugal. Na discussão sobre este tema, Ana Carreto afirmou que a estratégia da Mercadona para a redução do desperdício passa por manter os preços sempre baixos, dispensando as promoções, para que os consumidores não se sintam tentados a comprar produtos que não precisam ou em quantidades superiores ao necessário, que acabam por desperdiçar. A Mercadona tem ainda sistemas de etiquetagem para produtos em fim de validade, com preços mais baixos. Ainda assim, há desperdícios nas lojas diariamente, pelo que a Mercadona tem parcerias com IPSS locais, ou seja, alocadas a cada uma das lojas, a quem entregam os excedentes de alimentos, mas também produtos de higiene, produtos e alimentos para animais, entre outros.
Guilherme Tavares, do Grupo ETE, uma referência na economia do mar em Portugal, grupo que integra as principais áreas de atividade do setor marítimo e portuário, destacou a importância das estratégias de sustentabilidade no setor do transporte marítimo, que transporta cerca de 90% do comércio mundial e continua a ser um problema ao nível de produção de resíduos e emissões de gases de efeito de estufa. Indicou ainda que as poupanças podem estar, de facto, em pequenos gestos, ou não tivesse o grupo ETE poupado toneladas de combustível por ter pintado os cascos dos navios com uma tinta especial que permite criar menos atrito na deslocação. Frisou ainda que as novas exigências regulamentares em matéria de reporte não financeiro tem impactos elevados num grupo de grande dimensão, mas considera que os relatórios de sustentabilidade são fundamentais para se compreender o que cada empresa faz nesta matéria.
João Dias, da Tratolixo, alertou ainda para a necessidade de atribuição de terras para a criação de novos aterros, cuja capacidade deverá esgotar-se em dois ou três anos ao nível nacional. Mas, sem financiamento para os mesmos, o País está num impasse.
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