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Cápsulas de café: nenhum sistema é inofensivo para o ambiente

Reduzir e reciclar

Especialistas

Chávena e grãos de café
iStock

As máquinas de cápsulas invadiram as bancadas das cozinhas portuguesas. Como consequência, gastam-se largos milhares de cápsulas por ano. Mas, uma vez descartadas, após o uso, qual o seu impacto no ambiente? A DECO PROteste analisou o impacto ambiental de 15 amostras de cápsulas do sistema Dolce Gusto e de outras 11 do sistema Delta Q.

Ao contrário do que se poderá pensar, o maior impacto ambiental no ato de se obter uma bica através de uma cápsula está do lado da produção do próprio café: 71 por cento. O impacto ambiental associado às cápsulas equivale a 16%, entre o total dos impactos, à frente do uso de eletricidade, necessário para fazer um café. A produção de café apresenta vários impactos ambientais. Por exemplo, a utilização incorreta de produtos químicos, como fertilizantes e pesticidas, pode causar graves danos ao ambiente. O excesso destes produtos químicos pode levar a um declínio da saúde do solo, bem como à contaminação das águas subterrâneas e à eutrofização. A desflorestação é também outro problema da agricultura em grande escala, uma vez que conduz a uma perda significativa de habitat para a vida selvagem local, podendo acelerar a desertificação das terras aráveis. Além disso, na fase de processamento do café, existem vários impactos ambientais, desde a quantidade de água utilizada para lavar o café, até às emissões de CO2 associadas à torrefação.

Sistema Dolce Gusto com mais impacto ambiental

Através da pesagem do material da embalagem, e da cápsula, e da quantidade de materiais e de café, para verificar quais as cápsulas que danificam menos o ambiente, a DECO PROteste avaliou 15 cápsulas do sistema Dolce Gusto e 11 do sistema Delta Q. Não há marcas perfeitas. Nenhuma é inócua para o ambiente. No sistema Delta Q, os cafés são praticamente todos aceitáveis. Exceto o Bicafé Azzurro, com duas estrelas. E porquê? Sobretudo porque contém uma embalagem interior em plástico, desnecessária, dado que o café já se encontra alojado em cápsulas. É também um pouco prejudicado por ter maior quantidade de café por cápsula do que outras opções, facto que não abona a favor da qualidade ou do sabor. Aliás, não existe relação direta entre o resultado da prova e a quantidade de café por cápsula, pelo que as marcas devem apostar em aumentar a qualidade do seu café, em vez de aumentar a quantidade do mesmo por cápsula. Assim, o ideal seria menos café por cápsula, mantendo todas as características de um bom café.

O pior exemplo, ao nível ambiental, dos cafés do sistema Dolce Gusto (todos com nota negativa) é o Nicola Intenso, por recorrer a uma mistura de materiais nas cápsulas. O plástico misto é o protagonista. A grande quantidade de café por cápsula, uma característica do sistema Dolce Gusto, também não ajuda. Mas nem tudo são más notícias. As cápsulas Continente Fortíssimo, do sistema Delta Q, e as Lavazza Espresso Intenso, do sistema Dolce Gusto, são exemplos a seguir por outros fabricantes, uma vez que não abusam da quantidade de embalagem, nem da mistura de materiais, o que facilita a posterior reciclagem.

O que ter em conta quando se compra café?

Como diferenciar um café com uma produção mais sustentável de outro? Há características a considerar.

  • Produção biológica: o rótulo da União Europeia certifica que a produção de café teve em conta um conjunto de fatores ambientais. Este rótulo significa que o produto cumpriu condições rigorosas durante a produção, a transformação, o transporte e o armazenamento. O rótulo só pode ser utilizado em produtos que contenham, pelo menos, 95% de ingredientes biológicos e que, para os restantes 5%, respeitem condições mais rigorosas.

  • Produção local: os cafés produzidos localmente têm um menor impacto ambiental associado ao transporte.

  • Política de sustentabilidade: as empresas preocupadas com o ambiente adotam políticas para reduzir os impactos ambientais da produção de café.

Onde se colocam as cápsulas de café?

Depois de utilizadas, coloque as cápsulas em locais específicos, indicados pelos fabricantes nas embalagens. Até à data, a reciclagem das cápsulas de café não passa pelo ecoponto amarelo, independentemente da marca ou do material. Existem marcas que disponibilizam sistemas de recolha próprios.

Tanto a Delta Q como a Dolce Gusto fornecem sacos recicláveis para acomodar as cápsulas em fim de vida, que deverão ser entregues nos pontos de recolha. Nas palavras das marcas, o plástico e a borra são separados. A borra é submetida a um processo de compostagem, dando origem a um composto orgânico usado como fertilizante na agricultura. O plástico pode ser utilizado para mobiliário urbano, e os filtros de papel para versões recicladas. Há também campanhas de hipermercados e de algumas câmaras municipais, com vista à recolha seletiva de cápsulas usadas. Se nenhuma destas hipóteses for viável, o último reduto é depositar as cápsulas no lixo indiferenciado.

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