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Serviços de televisão recolhem os dados dos utilizadores por defeito

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Poucas ou nenhumas opções de gestão da privacidade e elevado consumo dos equipamentos, sobretudo em standby, continuam a ser os principais problemas dos serviços de televisão. A Vodafone mantém a dianteira no ranking.

18 maio 2022
Mulher sentada num sofá, vista de costas, com um telecomando na mão para usar um televisor

iStock

O router e a box da Vodafone consomem mais de 44 euros em eletricidade num ano, valor que contrasta com os cerca de 23 euros dissipados pelos aparelhos necessários para usufruir da NOWO. Aliás, as caixas descodificadoras da Vodafone e da MEO gastam quase tanto em standby como em funcionamento.

Um ano depois do último estudo, o consumo persiste como um dos principais problemas dos serviços de televisão. Também as opções de gestão da privacidade se mantêm limitadas. Eis as principais conclusões a que chegou o painel de utilizadores, de várias faixas etárias e níveis de experiência, que testou os serviços por cerca de um mês.

Neste teste à usabilidade dos serviços baseados em fibra ótica, da oferta de cada operador, selecionámos pacotes 3P (ou televisão e net, se possível) com box HD ou 4K e velocidades anunciadas de acesso à net tão próximas quanto possível. A partir de tais balizas, escolhemos as opções mais baratas. As boxes analisadas foram as fornecidas. E tivemos o cuidado de instalar os serviços no mesmo local, para chegarmos a resultados comparáveis. Veja os principais resultados do nosso estudo.

Boxes Android TV e Apple TV com poucas vantagens

Os operadores já começam a propor boxes assentes no Android TV e Apple TV – a MEO e a NOWO incluem-nas nas opções de base, que testámos. No serviço da NOS analisado, também é possível optar por uma box Android TV ou Apple TV, por 4,99 euros mensais. E o que acrescenta a novidade? Além do acesso ao serviço, permite instalar apps como Netflix, YouTube e Spotify. Ajuda ainda a ultrapassar incompatibilidades entre estas apps e o televisor. Por exemplo, a RTP Play, aceite num televisor Android TV, não o é num modelo LG ou Samsung, que usam outros sistemas operativos. Descontada esta exceção, não vemos vantagens face às boxes clássicas – aliás, os serviços com melhor avaliação usam caixas descodificadoras "normais".

Os operadores já facultam apps de acesso ao serviço, compatíveis com Android TV e Apple TV, para instalar num leitor multimédia ou smartTV, e que replicam as funções da box. Podem ser usadas como complemento à caixa (por exemplo, em televisões secundárias). Em teoria, estas apps poderiam substituir a box, mas há pouca oferta. A MEO, a NOS e a Vodafone têm pacotes com características mais modestas em troca de mensalidades de 30,90 a 30,99 euros. Porém, nem sempre é possível usar a app para fazer as vezes da box. Alguns operadores bloqueiam tal possibilidade, para os utilizadores não poderem livrar-se da caixa.

Há outras regras para descartar a box: o serviço tem de assentar em fibra ótica ou cabo coaxial, como os analisados. Nesse caso, basta ligar um cabo coaxial (RF) entre a saída do modem ótico (a maioria está integrada no router) e uma tomada de antena da rede doméstica. O sinal fica disponível em todas as tomadas da habitação, pelo que é possível aceder aos canais por cabo de antena.

A rejeição da box implica, porém, a perda de certas funções, a mais relevante será o recuo de sete dias na programação – algumas apps de acesso ao serviço ajudam a recuperá-la. E funções como agendar gravações pelo guia eletrónico de programas e pausar a emissão podem ser usadas em televisores recentes.

As apps de acesso ao serviço foram também sujeitas ao juízo do nosso painel. A solução da NOS foi a preferida, mas todas permitem usar o repositório de conteúdos e navegar nos guias eletrónicos de programas.

Box 4K revela interesse residual

Todas as boxes incluídas nos serviços que analisámos são compatíveis com o 4K. Contudo, no âmbito da nossa investigação, encontrámos apenas um canal UHD 4K acessível através da caixa, sendo que, na NOWO, não detetámos mesmo nenhum. As diferenças ao nível da qualidade, entre uma imagem com resolução full-HD e outra 4K, são muito discretas. Para serem realmente percetíveis, é preciso um televisor 4K com uma dimensão de ecrã generosa, como 55 polegadas ou mais.

Para os restantes canais, em resolução SD ou HD, o que a box pode fazer é a conversão (upscalling) do sinal para 4K, o qual é depois injetado no televisor. Mas isto não traz qualquer vantagem, dado que um televisor 4K faz sempre a mesma tarefa, quando recebe sinais de vídeo de resolução inferior. Provavelmente, se tiver um televisor 4K de qualidade, até o fará bem melhor do que as caixas descodificadoras. Ainda assim, não deixa de ser surpreendente que um serviço que anuncie uma box compatível com conteúdos 4K se limite à oferta, de origem, de um único canal nessa resolução.

Vodafone destaca‑se da concorrência

Ao ligar a box pela primeira vez, além dos termos e condições, há que acertar outras questões com impacto no uso. Só na Vodafone é possível ordenar canais manualmente. Este serviço tem ainda o mais intuitivo processo para definir listas de canais favoritos. Sem configuração inicial, a MEO está nos antípodas: não deixa definir listas de canais, programas e séries como favoritos. Tão-pouco aceita ordenar canais.

Os comandos, elos de ligação entre utilizador e televisor, agradaram bastante. Só o da NOS inclui microfone e, assim, pesquisas por voz. O da Vodafone, apesar das teclas para as funções mais comuns, é comprido, o que penaliza a adaptação a algumas mãos. Já o da MEO é o oposto: ergonómico e pequeno, e parco em teclas dedicadas.

O acesso às gravações automáticas também satisfaz em todos os serviços, ainda que o da NOS tenha nota máxima. Facilmente recua sete dias, retoma programas interrompidos e localiza conteúdos no guia eletrónico de programas. Dá, por fim, a possibilidade de gravar na cloud programas que estejam nas gravações automáticas.

A Vodafone recupera a dianteira a agendar e gerir gravações. Para iniciá-las, há um botão no comando. Também é muito simples agendá-las no guia eletrónico de programas e depois localizá-las. Outra hipótese é bloquear gravações, por exemplo, para não serem descartadas pelo serviço após algum tempo. A MEO, apenas aceitável, não deixa bloquear gravações, nem tem botão para o seu início, ação que exige várias etapas: explorar, escolher a categoria e a subcategoria e eleger o conteúdo. Mesmo pelo guia eletrónico de programas, exige múltiplos passos.

Pausar a emissão é outra função central. O processo é simples na NOS e na Vodafone, graças a botões no comando. Já na NOWO e na MEO, é preciso navegar num menu.
A Vodafone tem o mais rápido dos zappings: 15 segundos é o que demora alternar entre 15 canais. Na NOWO, gastámos o triplo do tempo.

Consumidor sem opções para gerir os dados que partilha

Os serviços de recomendações implicam recolha de dados, com que são construídos perfis. O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) diz que recolher e tratar dados pessoais depende de consentimento explícito do utilizador – que deve ter uma forma expedita de consultar e gerir opções de privacidade.

NOWO, MEO e NOS deixam a desejar. Com o consentimento exigido na assinatura do contrato e sem menus para rever as opções, os dados ficam à mercê dos operadores ou de entidades com que entendam partilhá-los. Não é à toa que os dados pessoais são tidos como o novo petróleo...

 

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