Tromboembolismo venoso: o que é e como prevenir
O elevado sedentarismo e a ausência de movimento por longos períodos são dois fatores que podem aumentar o risco de sofrer um tromboembolismo venoso. Saiba o que é e como o prevenir.
- Especialista
- Susana Santos
- Editor
- Ana Rita Costa e Alda Mota

Recentemente, alguns países da União Europeia, incluindo Portugal, suspenderam temporariamente a utilização da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca. Esta medida de precaução foi uma resposta a alguns relatos de doenças raras de coagulação sanguínea em pessoas que receberam esta vacina. No entanto, não foi provada qualquer relação com a vacina, que voltou a ser administrada.
Estima-se que 104 a 183 pessoas, em cada 100 mil, sofram, anualmente, um tromboembolismo venoso, na Europa, de acordo com um estudo publicado em 2015 na revista científica JAMA Internal Medicine.
Com uma elevada taxa de morbilidade e mortalidade, o tromboembolismo venoso (TEV) é uma doença cardiovascular que engloba a trombose venosa profunda (ou TVP) e a embolia pulmonar (ou EP). A TVP ocorre quando um coágulo sanguíneo se forma numa veia profunda do corpo, restringindo o fluxo sanguíneo normal dessa veia, levando à acumulação de sangue. É mais frequente na parte inferior da perna, na coxa ou na região pélvica.
Parte do coágulo sanguíneo de uma trombose venosa profunda (TVP) pode ainda separar-se e deslocar-se até aos pulmões, causando uma embolia pulmonar (ou EP), uma condição bastante mais grave do que uma TVP e que pode ser fatal se não for diagnosticada e tratada de imediato.
Quais os fatores de risco para o tromboembolismo?
Existem vários fatores que podem aumentar o risco de desenvolvimento de um tromboembolismo venoso: por exemplo, lesões resultantes de traumatismo ou cirurgia, níveis elevados de sedentarismo e consumo de tabaco. Contudo, a condição resulta, frequentemente, da combinação de diversos fatores.
Fatores relacionados com uma intervenção cirúrgica
As intervenções cirúrgicas, e outros procedimentos associados, são um importante fator de risco para o desenvolvimento de tromboembolismo venoso:
- cirurgias com maior grau de complexidade;
- tipo de especialidade cirúrgica, como, por exemplo, ortopedia;
- tempo de permanência no bloco operatório superior a 150 minutos;
- procedimentos invasivos, como cateterismos venosos centrais;
- utilização de garrotes nos membros;
- posicionamento do paciente durante a cirurgia, sobretudo quando a posição envolve a disposição dos pés do paciente acima ou ao nível do quadril (por exemplo, litotomia);
- dispositivos de suporte ventricular.
Fatores relacionados com o paciente
Além das intervenções cirúrgicas, há ainda fatores de risco relacionados com o paciente e o seu estilo de vida:
- idade superior a 40 anos;
- internamento hospitalar superior a seis dias;
- imobilidade;
- patologias associadas, como acidente tromboembólico prévio, patologia maligna, obesidade, insuficiência cardíaca, enfarte do miocárdio recente, terapêutica com estrogénios, insuficiência venosa dos membros inferiores ou algumas doenças hematológicas hereditárias;
- viagens longas ou que impliquem estar sentado durante mais de quatro horas consecutivas;
- estilo de vida sedentário;
- tabagismo.
Trombose venosa profunda e embolia pulmonar: quais os sintomas?
No caso da trombose venosa profunda (TVP), podem não existir sintomas. Por outro lado, quando há sintomas, os sinais mais frequentes na perna são dor, aumento do volume da perna (tumefação), sensação de calor, sensibilidade e alterações na cor da pele (azul, vermelha ou roxa). Estes sintomas podem aparecer repentinamente ou lentamente ao longo de dias ou semanas. Como são inespecíficos, podem ser confundidos com dor muscular ou sensibilidade resultante de cãibras ou de sobre-esforço muscular, o que leva a que a TVP seja difícil de diagnosticar.

No caso da embolia pulmonar, à semelhança do que acontece com a trombose venosa profunda, os sintomas são inespecíficos e dependem da gravidade do bloqueio sanguíneo nos pulmões. Os sinais mais frequentes podem incluir falta de ar, desconforto ou dor no peito, tonturas e batimento cardíaco mais rápido do que o normal ou irregular. Além destes, os restantes sintomas podem ser semelhantes aos de outros problemas de saúde como uma pneumonia ou um enfarte agudo do miocárdio (ataque cardíaco).
Qual o tratamento para o tromboembolismo venoso?
Caso lhe seja diagnosticado um tromboembolismo venoso ou esteja em risco de sofrer um, poderão ser-lhe prescritos anticoagulantes. Além disso, em algumas cirurgias, pelo risco associado, pode ser feito um tratamento preventivo.
Como prevenir um tromboembolismo venoso?
Para prevenir a ocorrência de um tromboembolismo venoso é importante manter uma dieta equilibrada e saudável, não fumar, fazer exercício físico regular e avaliar o risco antes de intervenção cirúrgica.
O sedentarismo e a prolongada falta de movimento dos membros inferiores, em particular, são fatores de risco para o desenvolvimento de um tromboembolismo venoso. Em altura de confinamento e teletrabalho, fazer alguns minutos de exercício físico diário pode diminuir substancialmente esse risco.
Como se manter ativo em teletrabalho
- Faça várias pausas ao longo do dia. Criar alertas no telemóvel para o lembrar de que se deve levantar pode ser uma boa estratégia.
- Não trabalhe além do seu horário de trabalho. Manter o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é essencial não só para a saúde física como para a saúde mental.
- Faça alguns minutos de exercício físico todos os dias. Uma caminhada ou corrida antes do trabalho ou um pequeno treino em casa à hora de almoço são uma boa forma de incluir o exercício físico na sua rotina.
- Faça alguns alongamentos enquanto espera que a água do chá ferva ou depois de uma reunião.
- Comprometa-se com uma rotina de exercício físico. Há vários sites e apps que oferecem aulas e planos de treino gratuitos.
Há alguma ligação entre a vacina contra a covid-19 da AstraZeneca e o desenvolvimento de tromboembolismo venoso?
O Comité de Segurança da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) avaliou os eventos tromboembólicos graves recentemente relatados em pessoas vacinadas com a vacina da AstraZeneca e concluiu que os benefícios da vacina na prevenção da hospitalização e morte por covid-19 são superiores ao risco de desenvolvimento de tromboembolismo venoso.
A EMA já esclareceu que as doenças de coagulação sanguínea em pessoas que receberam a vacina da AstraZeneca são muito raras — sete casos de coagulação intravascular disseminada (CID) e 18 casos de trombose dos seios venosos cerebrais (TSVC) — face ao número de vacinados, de cerca de 20 milhões no Reino Unido e no Espaço Económico Europeu, até 16 de março, não tendo sido provada qualquer relação com a vacina.
O Comité de Segurança da Agência Europeia de Medicamentos recomendou, porém, que o resumo das características do medicamento e o folheto informativo desta vacina da AstraZeneca sejam atualizados para incluir mais informação sobre estes riscos. Além disso, foi aconselhada a distribuição de uma comunicação aos profissionais de saúde para os alertar para a possibilidade remota de ocorrência de alterações da coagulação.
A EMA e o Infarmed estão ainda a recomendar às pessoas que procurem de imediato um médico e informem as autoridades de saúde caso detetem um dos seguintes sintomas após a vacinação com esta vacina:
- falta de ar;
- dor no peito ou estômago;
- inchaço ou frio nos braços ou pernas;
- dor de cabeça intensa ou que se agrava ou visão turva;
- hemorragia persistente;
- múltiplos e pequenos hematomas, manchas avermelhadas ou arroxeadas ou vesículas com sangue sob a pele.
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