Legionela: o que é, como se transmite e como prevenir a infeção

A doença transmite-se por via aérea (respiratória): a pessoa inala gotículas de água (aerossóis) contaminadas com Legionella pneumophila, e esta atinge os pulmões. A infeção criada, embora não seja contagiosa, pode ser mortal em casos graves.
O regresso das auditorias à qualidade do ar obrigatórias para todos os edifícios de uso público está a ser estudado. A lei não o impõe. As auditorias periódicas obrigatórias à qualidade do ar interior foram eliminadas pelo Decreto-Lei n.º 118/2013, de 20 de agosto, mas só através destas podem ser detetadas deficiências nos sistemas de climatização. O facto de legalmente ser obrigatório o cumprimento dos valores-limite não é suficiente, porque esse requisito só é verificado em caso de denúncia que obrigue a uma inspeção. Só uma inspeção periódica obrigatória contribui para uma adequada política de salvaguarda da saúde pública e de prevenção de transmissão de legionela.
A lei anterior obrigava a inspeções, com uma periodicidade que nos parece adequada:
- de dois em dois anos, nos edifícios ou locais que funcionem como estabelecimentos de ensino ou de qualquer tipo de formação, desportivos e centros de lazer, creches, infantários ou instituições e estabelecimentos para permanência de crianças, centros de idosos, lares e equiparados, hospitais, clínicas e similares;
- de três em três anos, nos edifícios ou locais que alberguem atividades comerciais, de serviços, de turismo, de transportes, atividades culturais, escritórios e similares;
- e seis em seis anos, nos restantes casos.
Como se transmite a legionela
A doença não se transmite através da ingestão de água, pelo que consumir água da rede ou usá-la para cozinhar não é prejudicial. A legionela não passa de pessoa para pessoa. Pode ser contraída a tomar duche, a usar os lavabos ou a frequentar, por exemplo, piscinas públicas ou até através do ar vindo dos aparelhos de ar condicionado centralizados. A infeção transmite-se por via aérea (respiratória): a pessoa inala gotículas de água (aerossóis) contaminadas com legionela, e esta atinge os pulmões. A infeção criada, embora não seja contagiosa, pode ser mortal em casos graves. O vapor das panelas não é perigoso, porque a bactéria morre a mais de 70ºC. Passar a ferro também é seguro.
A legionela está presente um pouco por toda a natureza, nomeadamente nos rios e nos locais que contêm água doce (lagoas, lagos, pântanos, etc.). Depois de tratada e antes de ser distribuída, a água da rede pública não contém legionela detetável. Esta encontra-se, em estado latente, na água das canalizações.
Esta bactéria também habita em reservatórios artificiais, como sistemas de água doméstica, quente e fria, humidificadores e torres de arrefecimento de sistemas de ar condicionado ou de unidades fabris, piscinas, jacuzzis, instalações termais, equipamentos de terapia respiratória em hospitais, sistemas de rega por aspersão, aparelhos de limpeza com pressão de água, entre outros. Isto é, a bactéria dissemina-se com facilidade em locais onde se libertam aerossóis.
Como se proteger da infeção
Na eventual ocorrência de colónias de legionela na água da rede doméstica, é fundamental evitar a inalação de aerossóis que se formam, essencialmente, quando a água atinge determinada pressão. A cabeça do chuveiro pode conter legionela no seu interior, por isso, retire os filtros arejadores das torneiras e as cabeças dos chuveiros: pode assim servir-se destes dispositivos minimizando a formação de gotículas. Estas extremidades devem ser mergulhadas numa solução de água e lixívia (metade de cada) durante uma hora. Faça o mesmo à mangueira do duche.
Se tem aparelhos de desumidificação, remova a estrutura exterior do equipamento e deixe escoar toda a água acumulada. Limpe o reservatório onde a água condensa, a válvula de descarga e os filtros com um pano embebido numa solução de lixívia.
Os aparelhos de ar condicionado domésticos (splits murais, por exemplo) funcionam através da circulação de um gás refrigerante e não de água, pelo que a sua utilização não aumenta o risco de contrair a doença. As torres de arrefecimento, sempre localizadas ao ar livre, são equipamentos destinados a arrefecer água em diferentes processos industriais, como em sistemas de AVAC, entre outros. É essa água que, a partir de um tanque (ou piscina) instalado ao ar livre, as bombas fazem recircular quando o sistema funciona. É nesta mesma água – estagnada por tempo suficiente ou sem tratamento apropriado – que poderão formar-se colónias de legionela.
Outros conselhos importantes para prevenir
- Evite a estagnação de água nas canalizações de casas desabitadas há muito tempo. Nestes casos, deixe correr a água por uns momentos em todas as torneiras.
- Após a substituição de canalizações antigas ou de reparações na rede de distribuição, mande limpar e desinfetar as juntas e os filtros. Depois, deixe correr a água das torneiras por um certo tempo.
- Não falhe a manutenção dos equipamentos: limpe e elimine o tártaro com uma solução ácida e desinfete com lixívia, pelo menos, uma vez por ano. Substitua as juntas e os filtros.
- Tem um termoacumulador? A temperatura da água deve manter-se entre valores que dificultem a multiplicação destes microrganismos: água quente superior a 50ºC e água fria inferior a 20ºC.
Como se desenvolve a bactéria
A bactéria torna-se um risco para a saúde quando encontra um ambiente com a temperatura ideal para se desenvolver, e com sujidade para se alimentar.
A temperatura para a proliferação da bactéria situa-se entre os 20 e os 45ºC. Não sobrevive a mais de 70ºC. A bactéria gosta de água com um pH entre 5 e 8 e humidade relativa superior a 60 por cento. O seu alimento preferido são resíduos orgânicos acumulados nos reservatórios e nas tubagens, corrosão, incrustações, lodo, algas, vestígios de borracha ou populações numerosas de outras bactérias. O facto de a água circular pouco na canalização também favorece a sua multiplicação. Assim como a utilização de materiais porosos e de derivados de silicone nas redes prediais, que potenciam o crescimento bacteriano.
A bactéria aloja-se normalmente em reservatórios de água, torres de arrefecimento, tubagens de redes prediais, pontos de extremidade das redes pouco utilizadas, entre outros.
Legionela: quem está em risco?
A doença dos legionários é uma pneumonia grave causada por bactérias do género Legionella. A infeção depende do grau de contaminação da água por bactérias, das características de virulência destas, da eficácia da formação e disseminação de aerossóis, do tempo de exposição aos aerossóis e de fatores de risco inerentes ao próprio hospedeiro. Estão mais vulneráveis à ação desta bactéria:
- indivíduos com mais de 50 anos;
- homens (têm uma incidência três vezes superior comparativamente com as mulheres);
- pessoas com hábitos tabágicos e alcoólicos;
- doentes crónicos (doenças do foro respiratório, diabetes, cancro, entre outras);
- pessoas que apresentem deficiência imunitária devido a doença ou na sequência de uma operação.
As crianças raramente são afetadas por esta doença.
Sintomas e tratamento
Os sintomas são idênticos aos da gripe e, nos casos mais graves, aos da pneumonia. O período de incubação é de dois a dez dias, após o contacto, surgindo então um quadro de pneumonia de gravidade variável e que, frequentemente, justifica internamento hospitalar. Os sintomas mais frequentes são febre, arrepios, tosse não produtiva, cefaleias, mialgias (dores musculares), dispneia (falta de ar), diarreia e alterações da consciência.
A infeção pulmonar pode causar a morte se a bactéria responsável pertencer às espécies mais virais e se o estado de saúde do paciente estiver debilitado por outra doença ou, ainda, se a aplicação do tratamento demorar.
Para combater a legionela, recorre-se a um destes três antibióticos: eritromicina, azitromicina e levofloxacina.
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