Dicas

Dermatite atópica: hidrate bem a pele para minimizar crises

Hidratar bem a pele e reduzir a exposição aos fatores que podem levar a uma crise, como detergentes, perfumes ou pó, são gestos que contribuem para controlar a dermatite atópica.

08 agosto 2023
Homem sénior hidrata a pele em frente ao espelho - alusão a pele com dermatite atópica

iStock

Vermelhidão, inchaço, comichão, secura, fissuras, descamação, crostas e borbulhas com líquido podem ser sinais de uma pele com dermatite atópica. A doença é crónica e imunomediada. Quer isto dizer que espoleta uma resposta inflamatória anormal perante a exposição a um gatilho. Que pode ser um detergente, um perfume ou pó, por exemplo.

As manchas, por vezes, surgem por todo o corpo, mas existem locais mais sensíveis, como a parte de trás do pescoço, os ombros e as dobras dos cotovelos e dos joelhos. Nas crianças pequenas, as zonas mais atingidas são a cabeça (incluindo o rosto), as pernas, os braços e a barriga.

Distúrbios do sono e sequelas psicológicas, que podem ter impacto significativo na qualidade de vida, são consequências típicas. Vários estudos têm inclusive relacionado a dermatite atópica com depressão, ansiedade e aumento de pensamentos suicidas, tanto na população adulta, quanto na adolescente.

As lesões na pele, por vezes, tornam-se mais suaves ao longo da vida, ou desaparecem mesmo. Mas também é possível surgirem recaídas frequentes. Ainda assim, alguns cuidados com a pele, que passam por uma boa hidratação, podem reduzir a frequência das crises. Quando estas surgem, os tratamentos aliviam os sintomas.

Dermatite atópica é cada vez mais comum

A dermatite atópica pode surgir em qualquer idade, mas habitualmente é detetada na infância. E até pode desaparecer com a puberdade, ainda que cerca de 30% das crianças continuem a sofrer da doença na fase adulta.

Ora, se a dermatite atópica não faz distinção quanto a idades, também não tem preferência por cor de pele ou região da Terra, embora pareça haver maior incidência em áreas urbanas e países desenvolvidos, especialmente nas sociedades ocidentais.

O número de indivíduos afetados tem vindo a aumentar nas últimas décadas: trata-se, com efeito, de uma das doenças inflamatórias da pele mais comuns, manifestando-se em até 20% das crianças e até 10% dos adultos.

Muitas são as causas da dermatite, poucas as certezas

A dermatite atópica é uma doença complexa, cujos mecanismos ainda não estão devidamente compreendidos. Sabemos que algumas mutações genéticas podem alterar a constituição da derme e da epiderme, as camadas menos profundas da pele, e, com isso, perturbar a função de barreira.

Mas a doença também resulta da interação de fatores ambientais e imunológicos. Com a barreira danificada, a pele não consegue defender-se das agressões do exterior, que podem apresentar-se sob a forma de temperaturas elevadas, ou até resultar do uso de cosméticos com substâncias irritantes ou da exposição a alergénios como os pólenes.

Também já está estabelecido que o stresse não causa dermatite atópica, mesmo que possa agravar os sintomas.

Sabe-se ainda que, como existe uma raiz genética, se um dos progenitores sofrer de uma doença atópica, como dermatite, asma, rinite alérgica ou alergia alimentar, a probabilidade de os sintomas transitarem para a geração seguinte é superior a 50 por cento. Se ambos os pais apresentarem a condição, a predisposição dos filhos pode alcançar os 80 por cento.

Estima-se igualmente que mais de 60% dos adultos com dermatite atópica concentrem, pelo menos, mais um tipo de problema atópico. Também foi identificado risco acrescido de outros problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, patologias da pele, perturbações do sistema imunitário ou mesmo cancro. E o risco de sofrer de infeções cutâneas graves é real.

Dicas para cuidar bem da pele

O diagnóstico da dermatite atópica baseia-se em critérios simples, como a observação dos sintomas, o historial clínico do doente e as suas respostas às questões do médico.
Como ainda não foi encontrada nenhuma cura, a abordagem envolve restaurar e manter a função de barreira da pele, sobretudo através de uma boa hidratação e eliminar os fatores que servem de gatilho às crises.

Uma pele hidratada não perde líquidos, nem ostenta fissuras. Dê preferência a emolientes (cremes hidratantes) específicos para pele atópica. Aplique-os, pelo menos, duas vezes por dia, uma delas logo após o duche. Na escolha, atente nos ingredientes que deve evitar.

Tenha ainda o cuidado de fazer duches rápidos, com água corrente e morna, durante não mais de cinco minutos, para evitar que a pele fique ressequida.

Detergentes, produtos de higiene com ingredientes agressivos, perfumes, maquilhagem, certas fibras têxteis (por exemplo, náilon), pó, pelos de animais, fumo de tabaco, fortes variações de temperatura, ovos, amendoins e leite podem desencadear crises. Procure minimizar a exposição a estas substâncias.

Quando a prevenção não é suficiente para afastar as crises, a solução é bater à porta do médico, o qual irá avaliar a severidade dos sintomas e prescrever um tratamento, que recorre quase sempre a medicamentos aplicados na pele, como corticosteroides e inibidores da calcineurina. Nos casos mais complexos, podem ser consideradas outras opções, como fototerapia (terapia que usa raios UV) e medicamentos como a ciclosporina A (imunossupressor) ou o dupilumab (imunomodulador). Mas estes tratamentos também têm efeitos adversos: consoante os casos, pele fina e atrofiada, descamação, dermatite de contacto, infeção por fungos, calor e irritação na zona onde são aplicados.

Como escolher o creme hidratante e que ingredientes evitar?

Os cremes hidratantes (emolientes) são a primeira linha de tratamento da pele com dermatite atópica, independentemente do grau de severidade. Estão disponíveis em várias formulações, que incluem óleos, cremes, loções e géis. Como os ingredientes neles contidos podem variar bastante, a escolha deve ser cuidadosa, na medida em que quem sofre de dermatite atópica é mais propenso a dermatites de contacto. O melhor é consultar a lista de ingredientes, para garantir que ficam excluídas substâncias irritantes ou alergénicas, tais como:

Exemplos de substâncias irritantes ou alergénicas
  • Alpha-isomethyl ionone
  • Amylcinnamyl alcohol
  • Amyl cinnamal
  • Anise alcohol
  • Benzophenone-3
  • Benzyl alcohol
  • Benzyl benzoate
  • Benzyl cinnamate
  • Benzyl salicylate
  • Cinnamal
  • Cinnamyl alcohol
  • Citral
  • Citronellol
  • Coumarin
  • Eugenol
  • Evernia furfuracea
  • Evernia prunastri
  • Farnesol
  • Geraniol
  • Hexyl cinnamal
  • Hydroxycitronellal
  • Isoeugenol
  • Limonene
  • Linalool
  • Methyl 2-octynoate
  • Methylisothiazolinone (MI)
  • Sodium Lauryl Sulfate (SLS)

Óleo, creme, loção ou gel: o que é mais favorável?

Tradicionalmente, acreditava-se que os cremes conferiam melhor hidratação do que as loções, por causa da maior viscosidade. Mas já não é assim. Existem hoje produtos, em óleo, creme, loção ou gel, com fórmulas eficazes e agradáveis, que melhoram a adesão do doente e, portanto, os resultados do tratamento. Assim, todas as opções podem ser válidas. A escolha deve ser avaliada caso a caso, com o auxílio do médico e respeitando as preferências do doente.

Óleo de coco é eficaz contra a dermatite atópica?

O óleo de coco é divulgado na internet como milagroso para qualquer tipo de pele, mesmo a atópica. E, se é verdade que pode melhorar a hidratação e a elasticidade da pele e, assim, aliviar a comichão, nomeadamente em bebés e crianças, também é importante não esquecer que cada caso de dermatite é único. Daí nem todos os indivíduos obterem resultados ditos milagrosos com o óleo de coco.

Como prevenir as crises?

Quem sofre de dermatite atópica deve manter a temperatura corporal estável: os extremos agravam a doença. Calor a mais provoca transpiração, e esta agrava a comichão. Já o frio torna a pele mais seca e sensível a fissuras. Prefira, por isso, peças de roupa leves e de algodão, e evite certas fibras têxteis (caso do náilon). Tenha cuidado com outros fatores ambientais, como ácaros, pólenes, fungos e humidade. Tão-pouco deve descurar a higiene das mãos. E, tanto quanto possível, evite situações de stresse, já que este pode agravar a doença. O mesmo vale para detergentes, produtos de higiene com ingredientes agressivos, perfumes, maquilhagem, , fumo de tabaco e alimentos potencialmente alergénicos. As alergias alimentares são comuns em quem sofre de dermatite atópica, e existe evidência científica suficiente que permite concluir que podem exacerbar a doença. Como tal, em alguns casos, podem ser recomendados testes para identificar alergias, sobretudo a leite, ovos, amendoim, trigo, soja e marisco.

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