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Tiago
Martins
Economista
Mestre em Economia Monetária e Financeira pelo ISCTE-IUL.
Raize e Goparity: vale a pena investir?
Há 2 meses - 30 de novembro de 2022
Tiago
Martins
Economista
Mestre em Economia Monetária e Financeira pelo ISCTE-IUL.
A Raize e a Goparity são duas plataformas de Crowdlending. A Raize, promove financiamento a pequenas e médias empresas e a GoParity está voltada para o desenvolvimento sustentável.
Estas plataformas angariam dinheiro de investidores para financiar projetos a troco do pagamento de juros fixados no momento da angariação.
Vale a pena investir na Raize?
O modelo de negócio inicial da Raize consistia em cobrar comissões somente às empresas que usam a sua plataforma para se financiar. Os investidores não pagavam qualquer comissão.
No entanto, a estratégia da empresa mudou e agora cobra entre 10 e 12 por cento de comissão sobre o valor dos juros brutos recebidos.
Incluindo os empréstimos feitos antes da mudança de política o que constitui uma alteração das regras a meio do jogo que é prejudicial à credibilidade da Raize.
Apesar de existirem investimentos com rendimento bruto a rondar os 6% ao ano. Se incluirmos as comissões e os impostos nesta análise a taxa efetiva líquida anual rondará os 3,7%. Um retorno francamente baixo tendo em conta o elevado risco.
Porque dizemos que o risco é elevado?
As empresas em questão são PMEs. Que muitas vezes estão em situações menos seguras que as grandes empresas e também mais suscetíveis à conjuntura económica.
Apesar de existir uma avaliação da Raize para as colocar na sua plataforma é impossível garantir que nenhuma irá passar por dificuldades ou até mesmo falir.
Sobretudo nesta fase em que a probabilidade de uma recessão europeia é elevada.
Dados da agência Moody’s indicam que, para dívida de alto risco na Europa, nos anos sem grandes perturbações económicas, a percentagem de incumprimento situa-se entre 1,5 e 3 por cento. No entanto, em cenário de recessão o número dispara para mais de 12%.
A Raize tem um mecanismo que diversifica os investimentos, impedindo que mais de 5% do portfolio dos investidores esteja investido na mesma empresa.
É uma boa abordagem e terá sido eficaz noutros tempos em que as taxas nominais eram superiores e não havia comissões, elevando as taxas efetivas.
Neste momento, como as taxas efetivas já não são atrativas e o risco tem tendência a aumentar por via do aumento de probabilidade de incumprimento das empresas, este mecanismo de diversificação já não é suficiente para manter uma boa relação risco/recompensa.
Deve investir na Goparity?
A Goparity permite aos utilizadores investirem em 5 categorias diferentes de projetos, “Uso sustentável da terra”, “Água e economia azul”, “Economia social”, “Negócios em transição” e “Energia sustentável”.
As taxas de juro nominais anuais variam normalmente entre os 4 e os 8 por cento (apesar da maioria estar compreendida entre os 4 e 6).
Ao contrário da Raize, a Goparity não cobra qualquer comissão aos investidores. Pelo que as taxas efetivas reais podem chegar aos 5% dependendo dos projetos em que decida investir.
A empresa atribui uma classificação, numa escala de A + a D, onde A+ representa risco mais baixo e D risco mais elevado. Apesar desta escala ser semelhante às escalas das agências de rating não existe qualquer relação entre elas.
Esta é uma análise feita exclusivamente pela Goparity e não há nenhuma entidade externa que verifique o real risco dos investimentos.
É verdade que se encontram taxas de retorno atrativas na Goparity e a plataforma disponibiliza muita informação relevante sobre os projetos.
No entanto, caberá sempre ao investidor fazer a sua própria pesquisa e avaliar se a remuneração que irá receber é ajustada ao risco a que se expõe em cada projeto.
Mantenha a racionalidade nos seus investimentos
Estas duas plataformas de Crowdlending apelam ao lado mais sentimental do investidor, a Raize indica que vai estar a ajudar as PME portuguesas com o seu capital e a Goparity publicita um investimento sustentável levando o investidor a crer que está a ajudar a salvar o mundo.
Apesar de serem duas causas válidas e importantes deve ter em atenção que o principal objetivo do investimento é “fazer crescer” o seu dinheiro.
Se isso puder ser complementado com projetos ou ideais nos quais acredita, melhor, mas essa não deve ser a prioridade.
Não assuma riscos que não está disposto a correr em nome deste tipo de argumentos.
De qualquer forma, mesmo que decida avançar, limite essa aposta e não exponha mais do que 10% da sua carteira de investimentos a esses projetos.
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