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Tiago
Martins
Economista
Mestre em Economia Monetária e Financeira pelo ISCTE-IUL.
CFD ou Opções: conheça as diferenças e saiba se deve investir
Há 2 meses - 30 de novembro de 2022
Tiago
Martins
Economista
Mestre em Economia Monetária e Financeira pelo ISCTE-IUL.
O aparecimento e crescimento da corretagem online veio democratizar o investimento direto em ações com a facilidade de enviar ordens de compra e venda e as baixas ou até nulas comissões.
Mais recentemente temos assistido ao passo seguinte desta evolução, o investimento em produtos derivados por parte de investidores amadores e muitas vezes inexperientes.
A disponibilidade de informação sobre estes produtos e sobre os ativos subjacentes aliada ao aumento do tempo disponível resultante dos confinamentos são duas das principais razões apontadas para o crescimento destes investimentos por vezes arriscados e especulativos.
A proliferação de conteúdos deste tema em redes sociais como youtube ou reddit também contribuiu significativamente para este fenómeno.
Mas afinal quais são os produtos utilizados para este tipo de investimento?
Opções
Um contrato de opções dá ao detentor o direito, mas não a obrigação, de comprar ou vender o ativo subjacente, dentro de um prazo definido e a um determinado preço.
Estes ativos podem ser uma ação, um título ou qualquer outro tipo de ativo que seja negociável.
Por exemplo, se tiver um palpite de que o valor das ações da empresa x irão aumentar em relação ao preço atual de 50 euros, pode comprar um contrato de opção que lhe dê o direito de comprá-la por 55 euros daí a um mês.
Se o valor da ação subir para 60 euros, pode executar a opção e comprar a ação por um preço melhor (55 euros contratualizados) e vendê-la no mercado pela nova cotação de 60 euros.
Terá que pagar um prémio para obter a opção, imaginemos que o valor desse prémio é 1 euro. Nesse caso, o seu lucro nesta operação seria 4 euros.
Com um investimento inicial de 50 euros nesta estratégia de opções teria um lucro de 200 euros. Por oposição, se tivesse optado por comprar uma ação com esses 50 euros o seu lucro seria de apenas 10 euros.
Como é óbvio, esta estratégia traz riscos. Se a cotação da ação não atingir os 55 euros no final do mês, perderá todo o investimento que realizou, porque a opção expira sem valor.
CFD
Um contrato por diferença (CFD) é um contrato em que duas partes concordam em trocar a diferença entre o preço de determinado ativo na altura da abertura do contrato e o preço do mesmo ativo numa data posterior (à escolha do investidor).
Os CFD permitem aos investidores uma oportunidade de lucrar com o movimento dos preços sem possuir os ativos subjacentes.
Por exemplo, pode abrir uma posição para a mesma ação x e esperar que o preço suba, obtém um lucro (ou prejuízo) com a diferença entre o preço de compra e o preço da venda.
Se a ação chegar aos 60 euros o seu lucro será 10 euros, tal como se tivesse comprado a ação em si.
No entanto, tal como na estratégia com opções o investimento inicial é muito menor. Apenas necessita de ter uma margem depositada (normalmente em volta de 10%).
Neste caso necessitaria de 5 euros para abrir a posição. Para além disso, o intermediário financeiro aplicará uma taxa de juro diária (normalmente Euribor + um diferencial / 365) enquanto o investidor mantiver a posição aberta. Por isso é que esta estratégia só é indicada para o curto prazo.
Se investisse 50 euros nesta estratégia, a mantivesse aberta durante 1 mês e a cotação chegasse aos 60 euros, o seu lucro seria de aproximadamente 95 euros.
Opções vs CFD
A principal vantagem dos CFD em relação às opções é que não têm prazo.
O investidor é que decide quando fecha a posição, pelo que, se passado um mês a cotação ainda não lhe for favorável pode esperar mais tempo.
A desvantagem é que, ao contrário das opções em que não perderá mais que o prémio investido, nos CFD se a evolução da cotação for contrária à que espera pode incorrer em perdas maiores.
Neste caso, se a cotação descesse para os 40 euros teria um prejuízo de 100 euros. Caso escolhesse manter a posição aberta mais tempo poderia incorrer em perdas por via da taxa aplicada.
Popularidade e regulação
Houve um aumento significativo na negociação de opções por pequenos investidores, no mercado americano. O volume de negociação em dólares cresceu 143% de novembro de 2019 a julho de 2021.
Os CFD também têm vindo a ser cada vez mais utilizados, tendo sido inclusivamente alvo de alertas por entidades como a ESMA, a autoridade europeia para os mercados financeiros.
O regulador até restringiu os limites de alavancagem na abertura de posições, impôs uma proteção contra o saldo negativo nas contas, impediu a utilização de incentivos e tornou obrigatório um aviso de risco específico para investidores não profissionais.
A CMVM realizou uma ação de supervisão à negociação de CFD para verificação do cumprimento das medidas restritivas.
Concluiu-se que as proteções definidas são, em geral, cumpridas. O ponto que gerou mais preocupação ao regulador foi o da obrigação das advertências de risco obrigatórias.
No entanto, as advertências nem sempre são explicitas o suficiente. O que pode ser considerado uma forma das corretoras tentarem omitir estes riscos perante o investidor.
Este tipo de investimento é lucrativo?
As principais vantagens destas estratégias são o acesso ao ativo subjacente a um custo menor do que comprar o próprio ativo e a capacidade de entrar facilmente tanto em posições longas como curtas.
São ferramentas que bem utilizadas podem ser interessantes, especialmente em alturas de alta volatilidade dos mercados.
No entanto, o que tem acontecido na prática é que a maioria dos investidores não profissionais que utilizam estas estratégias incorrem em prejuízos.
Os membros desta nova geração parecem agir mais como jogadores de casino do que como investidores. Muitas vezes revelando uma mentalidade de “tudo ou nada”.
O resultado é que a sua negociação de opções ou CFD raramente se revela lucrativa. De acordo com a XTB (corretora que mais transaciona CFD em Portugal), 77% das contas de investidores que transacionam estes instrumentos perdem dinheiro.
Por este motivo, sugerimos à generalidade dos investidores manterem-se afastados deste tipo de instrumentos a menos que tenham plena consciência do funcionamento dos mesmos e dos riscos.
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