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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Obrigações do Benfica: deve vender?
Há 2 anos - 30 de setembro de 2020
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.

Se os resultados desportivos não corresponderem, a Benfica SAD pode vir a desbaratar a relativa solidez financeira que construiu ao longo dos últimos anos.
Sempre alertámos para os riscos legais de investir em obrigações das SAD (Sociedades Anónimas Desportivas). Ainda que os desenvolvimentos recentes (a acusação de Luis Filipe Vieira no âmbito do processo Operação Lex) visem elementos da direção mas não a SAD propriamente dita, é evidente que a SAD do Benfica não deixará de ser indiretamente afetada, sendo possível que a gestão sofra perturbações. Os acionistas (e adeptos) têm razões para preocupação?
Nunca aconselhámos o investimento em ações das várias SADs. Mas, para quem tem obrigações do Benfica, e cuja principal preocupação é receber os seus juros e capital nos próximos meses e anos, não sendo desenvolvimentos positivos, não nos parece haver um risco iminente por esta via.
Neste contexto, preocupa-nos mais a conjugação de dois fatores: o recrudescimento da pandemia, que vai continuar a manter os adeptos afastados dos estádios e a condicionar as receitas, e a reviravolta de 180º na estratégia, tendo sido despendidas somas muito elevadas no reforço da equipa de futebol para a época que iniciou.
Se os resultados desportivos não corresponderem – e a ausência da Liga dos Campeões foi um duro golpe, até mais em termos financeiros do que desportivos – a Benfica SAD pode vir a desbaratar a relativa solidez financeira que construiu ao longo dos últimos anos.
Não foi coincidência o Benfica ter anunciado a venda do jogador Rúben Dias por 68 milhões de euros (mais valor adicional dependente do desempenho desportivo). Um valor que vem compensar grande parte das novas aquisições, mas as notícias veiculadas pela comunicação sugerem que o plantel possa ainda vir a ser reforçado, e em todo o caso a massa salarial está a crescer.
Pandemia e acusação aumentam a incerteza
Em resumo, a incerteza aumenta, pois foi feito um grande investimento num momento em que, além do desempenho desportivo, existem mais dois fatores extra-financeiros cujos efeitos são difíceis de prever ou medir: o legal e o sanitário. Foi, em grande medida, por estes motivos que já não recomendámos, em junho, a subscrição da última emissão de obrigações da Benfica SAD.
Em bolsa, atualmente, os títulos não evidenciam qualquer sinal de stress, cotando em torno do seu valor nominal. As obrigações mais distantes da maturidade (2023) estão naturalmente um pouco abaixo das que estão mais próximas do reembolso.
Obrigação | ISIN | Última cotação (percentagem do valor nominal) |
SLB 4% julho-21 | PTSLBMOM0008 | 100% |
SLB 3,75% maio-22 | PTSLBAOM0010 | 98.1% |
SLB 4% julho-23 | PTSLBBOM0019 | 98.5% |
Valores a 29 de setembro (Euronext).
Para referência, tomando o exemplo das obrigações 2022, no final de 2019 cotavam ligeiramente acima do par, mas em março chegaram a perder mais de 10% quando os mercados estavam em correção. Recordamos que são títulos pouco negociados, portanto podem ocorrer variações bruscas.
Perante este panorama, em que não há risco iminente mas há vários fatores de incerteza com efeitos imprevisíveis a médio prazo, as nossas conclusões são as seguintes para as obrigações da SAD do Benfica:
- Ao contrário do que acontecia em março/abril, as obrigações não estão com um desconto que implicaria um rendimento elevado e portanto pudesse compensar o risco. Não são uma oportunidade de compra.
- Quem investiu nos títulos com a consciência de que é dívida de risco elevado e aplicou apenas uma pequena parte da sua carteira, pode manter os títulos.
- Mas investidores mais conservadores e/ou que investiram somas consideráveis devem considerar a possibilidade de eliminar/reduzir este risco da sua carteira, já que têm a possibilidade de vender os títulos ao par e sair do investimento praticamente sem perdas.
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