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Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

Em colaboração
com:
Euroconsumers
Inflação provoca quedas nas bolsas
Há 9 meses - 20 de junho de 2022
Jorge
Duarte
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

Em colaboração
com:
Euroconsumers
A causa imediata da queda das bolsas foi o novo máximo atingido pela inflação nos EUA. Os investidores esperavam que diminuísse após o pico de março. Contudo, em maio, chegou a 8,6%, o nível mais alto em quatro décadas.
Perante esta realidade, a Reserva Federal foi forçada a adotar rapidamente uma política mais restritiva, tendo aumentado em 0,75% a taxa de juro diretora e outros vão se seguir. No final deste ano, as taxas deverão chegar aos 3,4% e aos 3,7% em 2023. No entanto, em março, anteviam-se taxas diretoras de apenas cerca de 2% e um máximo inferior a 3%.
Assistimos, portanto, a um súbito agravamento das taxas, o que aumenta as hipóteses de uma recessão nos EUA.
Obrigações em dificuldades
Em todos os prazos, as taxas de juro norte-americanas reagem às novas expectativas. As taxas nas maturidades curtas subiram acentuadamente: no prazo de dois anos passou, em poucas sessões, de 2,8% para mais de 3,3%. A taxa a 10 anos aproximou-se de 3,5%. Esta subida generalizada torna difícil o financiamento com taxas de juro atrativas, seja qual for o prazo.
Além disso, sendo a dívida soberana dos EUA o ativo sem risco por excelência, o crédito está a tornar-se mais caro em todo mundo. É especialmente o caso de países com as finanças públicas mais frágeis. Muitos países emergentes viram subir o nível das taxas de juro para obter financiamento nas últimas semanas. Do México à Índia, as taxas estão a atingir máximos dos últimos anos.
O fenómeno também está presente na Europa. A taxa de Itália a 10 anos aproximou-se dos 4% e levanta o espetro de uma nova crise da dívida soberana na zona euro. O Banco Central Europeu organizou uma reunião de emergência e anunciou medidas para combater o problema mas devido à elevada inflação a margem é limitada.
Perspetivas dececionantes
Os problemas acumulam-se nos Estados Unidos. Primeiro, a inflação pesa nas margens de lucro das empresas que nem sempre podem repercutir o aumento dos custos para os clientes. Segundo, o poder de compra das famílias está a diminuir e vai travar a procura. Terceiro, subsistem os problemas das cadeias de abastecimento, exacerbados pela guerra na Ucrânia, e a falta de mão-de-obra em muitos setores de atividade.
É crescente a possibilidade de um forte abrandamento na atividade económica ou mesmo uma recessão nos EUA, que certamente penalizaria os resultados das empresas. E quando a economia americana espirra, o resto do mundo constipa-se.
Acresce que a China já vinha a perder ímpeto e a Europa está permanentemente enfraquecida pela guerra na Ucrânia e pela transição energética. Assim, sem os EUA como locomotiva do crescimento global, a economia mundial enfrenta tempos difíceis.
Fed já não “segura” as bolsas
Durante décadas, os investidores sabiam que a Fed esteve sempre pronta para os ajudar, baixando as taxas de juro ou injetando capital. Esta crença, repetidamente confirmada pelos factos, permitiu que os investidores mantivessem a confiança, mesmo quando a economia se deteriorava: no pior dos casos, a Fed estaria lá. Hoje receia-se uma recessão, mas devido à elevada inflação, as taxas de juro da Fed serão mais elevadas em 2023 do que são agora. Uma nova realidade que assusta Wall Street.
Deve investir?
Quando a inflação é elevada, é preferível deter ativos cujo preço irá tendencialmente ajustar em alta, ao contrário do dinheiro cujo valor real continuará a minguar.
Nas ações, a inflação faz com que as receitas das empresas também cresçam em termos nominais.
Nas obrigações, os juros das novas emissões serão mais elevados. Portanto, não eliminam por completo a inflação, mas fazem melhor do que a liquidez.
As ações oferecem, portanto, uma melhor proteção contra o aumento dos preços e, sobretudo, num horizonte de longo prazo dão perspetivas de ganhos bem mais interessantes. A diversificação continua a ter um papel importante: mercados como a China, a Indonésia e o Japão, todos presentes nas nossas carteiras, tiveram um desempenho melhor nas últimas semanas do que o europeu e o norte-americano. Veja os melhores mercados para investir.
Quanto às obrigações, mais do que o retorno é o seu papel de limitar os danos em caso de crash. Veja as melhores obrigações para investir.
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