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João
Sousa
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa.
Coordenador da Proteste Investe.
Inflação e subida de juros: boa altura para investir?
Há 10 meses - 17 de maio de 2022
João
Sousa
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa.
Coordenador da Proteste Investe.
Os mercados financeiros recuaram nas últimas semanas. Globalmente, as bolsas mundiais caíram para o nível mais baixo desde o início do ano e alguns preveem uma nova correção.
Neste contexto, de inflação elevada, subida das taxas e grande incerteza, será o momento certo para investir?
Inflação e taxas de juro
A subida dos preços é principal culpado pelo debacle dos mercados financeiros. Nos últimos doze meses, o ambiente inflacionista mudou drasticamente. Contida e em consonância com a meta dos bancos centrais até há um ano, a inflação está agora em máximos de 40 anos. E isso muda tudo.
Com inflação contida, as autoridades monetárias poderiam focar-se apenas na atividade económica. E não hesitaram em pensar fora da caixa para apoiar o crescimento.
À medida que as crises progrediam, todos os tabus monetários caíram. As taxas de juro zero, por vezes negativas, e as injeções maciças de liquidez por parte dos bancos centrais até pareciam ter-se tornado a norma.
Mas hoje, a era do dinheiro abundante e barato quase acabou. À exceção do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco do Japão, todos os principais bancos centrais já aumentaram as suas taxas de juro diretoras. Nos mercados obrigacionistas, as taxas de juro estão a subir. A "yield" da dívida dos EUA a 10 anos atingiu 3% pela primeira vez desde 2018.
Note que, apesar da atitude de espera do BCE que deverá subir as taxas em julho, os países da zona euro também foram contagiados por uma forte subida das taxas de juro no mercado.
O dilema dos bancos centrais
A subida das taxas de juro tem um duplo impacto negativo nos mercados financeiros. O custo mais elevado do dinheiro reduz a valorização das ações, quase sempre estimada com base nos rendimentos futuros descontados.
Os investidores estão também cada vez mais preocupados com o impacto económico da elevada inflação e com a subida das taxas de juro. Todavia, esta derrapagem de preços é o resultado de um problema de oferta, devido a carências nas cadeias de abastecimento.
Mas longe de estarem resolvidas, as carências perduram devido ao ressurgimento das contaminações de covid na China que paralisam a fábrica do mundo. A guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia reduziram o fornecimento de energia e de matérias-primas alimentares, mas também de certos metais e produtos específicos.
A ação dos bancos centrais não tem impacto nestes problemas do lado da oferta. Só influencia a procura. Para conter verdadeiramente as pressões inflacionistas, as taxas de juro teriam de ser elevadas de uma forma acentuada para limitar o consumo das famílias, correndo o risco de descarrilar o crescimento económico.
Mas sem o aperto monetário, a derrapagem dos preços corria o risco de se descontrolar e acabar por deprimir também a atividade económica.
Rumo a uma recessão mundial
Entre fazer demasiado e não o suficiente para conter a inflação, o caminho é estreito para os bancos centrais. Demasiado estreito e cada vez mais investidores duvidam da capacidade dos bancos centrais de orquestrarem uma aterragem suave da economia. Esta parece já ser uma missão impossível na zona euro e nos países da Europa Oriental.
O regresso da recessão ao velho continente, a região mais afetada pela guerra na Ucrânia é agora um cenário mais provável. Nos EUA, a atividade económica desiludiu no 1º trimestre e a subida das taxas de juro acabará por reduzir o consumo das famílias.
Na China, a política de zero covid, que coloca regiões inteiras em quarentena, conduzirá a um baixo crescimento, abaixo do objetivo oficial de um aumento do PIB de cerca de 5,5%.
E com as três maiores zonas económicas do Globo num impasse ou abrandamento acentuado, a economia mundial verá um fraco crescimento este ano.
É altura certa para investir?
Com a recente descida das bolsas e o crescimento mundial a abrandar com risco de recessão, a conjuntura económica não é animadora. Neste contexto, é legítimo questionar se é o momento para investir. Não devíamos esperar dias melhores? Não pensamos assim.
Em vez disso, defendemos investimentos a longo prazo, pelo menos 5 anos e idealmente, 10 ou mais anos. Isso amortece oscilações de curto prazo e permite aproveitar a tendência de subida das bolsas a longo prazo.
A nossa estratégia de investimento é influenciada pela conjuntura e evolução dos mercados. A diversificação e a seletividade são cruciais. O propósito de ficar sem o gás e o petróleo russos encarece o custo da energia na zona euro, o que reduz a competitividade e o seu potencial económico. Por isso, já não incluímos os fundos de ações da zona euro nas nossas carteiras.
Ontem a crise do covid e hoje o aumento dos preços da energia e de produtos alimentares estão a atingir muito os países emergentes. Milhões de pessoas caíram em pobreza extrema e uma geração inteira viu desaparecer as suas esperanças de mobilidade social ascendente. Isto reduz as perspetivas de desenvolvimento para os próximos anos.
Por isso, evitamos os mercados de ações emergentes. Uma rara exceção é a Indonésia, um grande exportador de mercadorias, que constitui uma diversificação útil na carteira agressiva. Igualmente interessante é a bolsa do México, que deverá tornar-se, mais uma vez, o destino preferido das empresas americanas que procuram "regionalizar" ainda mais as suas cadeias de produção.
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