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André
Gouveia
Analista financeiro
André
Gouveia
Analista financeiro
O mercado reagiu euforicamente ao anúncio, fazendo com que a bitcoin valorizasse 18%.
A Tesla anunciou ao mercado que investiu parte da tesouraria (1,5 mil milhões de dólares) em bitcoins, e que irá aceitar pagamentos nesta criptomoeda.
O mercado, como habitual no último ano em notícias que envolvem a Tesla ou a bitcoin, reagiu euforicamente. Na segunda-feira, a bitcoin fez novos recordes, valorizando 18% e passando os 48 mil dólares, enquanto a Tesla chegou a estar a ganhar quase 3%, embora tenha depois cedido os ganhos e esteja até a perder na semana.
Ao contrário da ideia que algumas notícias fazem passar, aceitar bitcoins em pagamento de bens é algo mais simbólico do que outra coisa. Há anos que existem serviços que permitem a comerciantes receber um pagamento em criptomoedas e convertê-lo imediatamente para euros, dólares ou outra moeda, evitando assim o risco de deter estes ativos voláteis, sendo na prática neutro em termos do valor da moeda. Aliás, na sua comunicação, a Tesla refere que a bitcoin será aceite “numa base limitada, podendo ou não ser liquidada após ser recebida.”
Mais significativo é que tenha investido uma parte significativa da tesouraria da Tesla em bitcoins, com os riscos que isso acarreta para as contas da empresa. O que pode ter justificado esta decisão?
À partida, não se veem motivos para um construtor automóvel especular em ativos alternativos. Parece até um contrassenso: a Tesla ganhou notoriedade por produzir carros sem emissões, contudo está a investir numa criptomoeda com pesados custos ambientais, em virtude da sua arquitetura.
Mas se pensarmos nesta ação como uma aposta de Elon Musk já faz mais sentido. Há alguma sobreposição entre os fãs do magnata e os fãs da bitcoin, que tendem a ser jovens e entusiastas de tecnologia. E alimenta a imagem de visionário da tecnologia de Musk (além da Tesla, tem os foguetões da SpaceX e interesses na Inteligência Artificial).
Aliás, embora o investimento da Tesla seja surpreendente, existiam algumas pistas. Polémico e provocador, Musk fez vários tweets sobre criptomoedas, incluindo sobre a infame Dogecoin, criptomoeda concebida assumidamente por piada pelo seu criador. A moeda é um meme da Internet, contudo o seu valor também disparou na sequência dos comentários. Em retrospetiva, pode ter sido um ensaio para testar a capacidade de mover o preço com os seus comentários.
Reconhecemos que este é um desenvolvimento, a juntar a outros como a entrada de certos fundos de investimento, que abre o intervalo de valores possível para a criptomoeda, podendo esta valorizar ainda mais. Não podemos subestimar a popularidade de Musk, que lhe permitiu colocar no índice S&P 500 a empresa com menos lucros da história do índice. Influenciar a Bitcoin, que não está “amarrada” por receitas ou lucros, é ainda mais fácil.
No entanto, o nosso conselho de não investir nas criptomoedas não se altera, porque não depende do valor da bitcoin, e os fundamentos da situação não se alteraram.
A bitcoin é um ativo sem valor intrínseco, sem ligação ao desempenho económico de nenhuma empresa e economia. A utilização como moeda não conhece grandes desenvolvimentos, pois para fazer pagamentos há muitas soluções, sendo muito mais atrativa para guardar do que para gastar. O seu valor não é previsível, pois os motivos que movem o preço são sobretudo psicológicos. Portanto, estamos mais no campo da especulação do que do investimento produtivo.
Temos já defendido em ocasiões anteriores que deve abordar a bitcoin como uma espécie de “ouro digital” ou bem colecionável. Nenhuma análise financeira é possível, como não é possível para um vinho ou um carro de luxo, exceto avaliar a sua escassez.
Estes bens fazem eventualmente sentido como diversificação para quem já tem uma vasta carteira de ativos (embora esteja por provar que a bitcoin não esteja correlacionada com os mercados acionistas). Ou como proteção contra a inflação (também não está provada, dada a ausência de inflação desde que existe bitcoin, mas é verosímil).
Querendo mesmo especular que a subida vai continuar, limite-se a uma pequena quantia, um bilhete de lotaria para um cenário extremo em que o valor continue a disparar. No fim de contas, investir com base em memes não é propriamente sólido e no futuro o foco dos influencers pode passar para outros ativos. Veja-se o caso da Gamestop, onde os investidores mais recentes estão a sofrer grandes perdas.
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