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Jorge
Duarte
Economista
Jorge
Duarte
Economista
Ao observar apenas as previsões das taxas de inflação para os próximos anos não se consegue imaginar que a inflação já foi um problema generalizado. Na década de 70 e 80 do século passado, sobretudo após o choque petrolífero, o deslize dos preços era uma “praga” fora de controlo. Em poucas décadas, o panorama é completamente diferente. As políticas dos bancos centrais foram tão eficazes em erradicar a inflação que agora nem conseguem atingir os seus objetivos de crescimento anual dos preços que rondam 2%.
A tradição dos países emergentes terem uma inflação mais elevada ainda é uma realidade. O crescimento económico mais rápido e menos estável tende a gerar excesso de procura e faz subir os preços. Contudo, dado a independência crescente dos bancos centrais e o processo de globalização, os preços estão sob controlo, mesmo no Brasil e na Índia, e as diferenças são agora reduzidas comparativamente às regiões mais desenvolvidas. A Turquia é ainda uma relativa exceção devido, entre outros fatores, à política errática que o banco central seguiu durante algum tempo.
O problema agora é, por isso, o oposto. Antes da crise pandémica, a economia global estava a funcionar a todo o vapor e nem sombra de pressões inflacionistas. Com o impacto dos confinamentos na atividade económica, a procura caiu e poucas empresas podem aumentar os preços nesta conjuntura.
A tarefa de reanimar ligeiramente a inflação tornou-se ainda mais complicada nos países desenvolvidos. Há o risco de cair na armadilha da deflação, ou seja, um recuo recorrente dos preços em geral. Ao contrário do que possa parecer é um fenómeno negativo para os países. Antecipando quedas dos preços, os agentes económicos adiam as decisões de consumo e de investimento lançando a economia numa longa recessão. Foi o cenário que se viveu durante anos no Japão.
Nem a intervenção massiva dos bancos centrais, que na prática andam a imprimir dinheiro sem parar, fez subir os níveis de preços. Tanto dinheiro deveria ter gerado inflação era o que previa a teoria vigente. Ao invés, a inflação só faz manchetes em países que atravessam um período de instabilidade como a Venezuela ou a Argentina. Apesar de várias teorias, o “desaparecimento” da inflação ainda permanece algo de enigmático entre os economistas.
Porque motivo a evolução dos preços é importante para os investimentos? A resposta pode ser vista sob vários ângulos, mas foquemos o que mais preocupa atualmente os investidores.
Como se constata as ações têm tido um excelente desempenho em bolsa, sobretudo nos Estados Unidos. Com as cotações em alta, paga-se um valor cada vez mais elevado pelos títulos face aos lucros e dividendos esperados das empresas. Logo, apesar do rendimento esperado do investimento em ações estar a diminuir os investidores continuam a apostar nestes mercados. Porquê?
Uma das razões é que as alternativas, as obrigações, oferecem rendimentos muitos baixos e até mesmo negativos em alguns países. Enquanto esta comparação for válida, os mercados de ações, mesmo com os rendimentos esperados a encolher, continuarão a ser privilegiados e as bolsas manterão o tom de subida.
O risco é uma subida dos juros das obrigações que as torne mais apelativas. Atualmente, os principais bancos centrais estão a intervir nos mercados comprando obrigações para baixar ou, pelo, menos manter as taxas de juro. Sem estas medidas, a subida do endividamento causada pela pandemia levaria à inundação do mercado de obrigações, fazendo cair o seu valor (muita oferta) e aumentando os juros exigidos.
Os bancos centrais estão a “aspirar” muitos títulos para evitar esse fenómeno e garantir que os Estados se financiem com custos muito baixos. É uma política monetária denominada de muito expansionista, que injeta bastante dinheiro na economia. Este rumo poderá manter-se desde que não haja risco para os objetivos de estabilidade de preços estabelecidos pelos bancos centrais. Por outras palavras, se houver riscos de subida de inflação, vai ser preciso deixar subir os juros para conter a procura.
Por um lado, essa subida dos juros tornaria as obrigações mais apetecíveis. Por outro, traria custos acrescidos de financiamento para as famílias, empresas e Estados. Teria um impacto negativo na procura e nos lucros. Em suma, as ações ficariam menos atrativas levando à saída dos investidores e à queda das cotações. É por esse motivo que o ressurgimento da inflação é, atualmente, o fator mais receado pelos investidores internacionais. É um cenário que não parece estar no horizonte, mas é um risco: diversifique a sua carteira de investimento!
Apesar de a inflação estar em níveis muito mais baixos não deve ser ignorada. Taxas de inflação comparativamente mais elevadas forçam os países a deixar depreciar o valor cambial da sua moeda de forma a manterem a competitividade das suas empresas. Os investidores têm de incorporar essa perspetiva nas suas decisões. O rendimento esperado do mercado acionista e os juros das obrigações desses países terá de compensar perspetivas cambiais tipicamente desfavoráveis.
As nossas recomendações, sobretudo, para os mercados emergentes têm, naturalmente, em conta esse fator. Quando aconselhamos o investimento num mercado (fora da zona euro) é porque o rendimento esperado é atrativo mesmo depois de se refletir o potencial de valorização/desvalorização da respetiva moeda face ao euro.
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