- Investimentos
- Mercados e Moedas
- “Numa carteira, as ações são incontornáveis”
"Este foi um ano muito positivo para as bolsas, com alguns dos principais mercados acionistas a valorizarem mais de 30 por cento."
“Numa carteira, as ações são incontornáveis”
Há 5 meses - 14 de dezembro de 2021
Licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa, João Sousa é analista sénior e coordenador da Proteste Investe.
Apesar da pandemia, as perspetivas são positivas para os mercados de ações, vaticina o analista sénior e coordenador da PROTESTE INVESTE. Há, porém, uma tendência para a subida do preço do dinheiro e a dúvida se a inflação se manterá.
O que vaticina para os mercados financeiros em 2022?
As perspetivas são positivas para as ações, mantendo-se o cenário mais provável de consolidação do crescimento económico, embora o ritmo seja agora mais moderado. O ano que está a terminar foi marcado pela forte retoma económica, mas a crise sanitária e as carências nas cadeias de abastecimento de materiais ainda afeta a atividade das empresas, dificultando a resposta da oferta face ao aumento da procura. Contudo, estes problemas deverão estar resolvidos já na segunda metade de 2022.
Em termos de balanço, este foi um ano muito positivo para as bolsas, com alguns dos principais mercados acionistas a valorizarem mais de 30 por cento.
Desde o início do ano até ao dia 8 de dezembro, o rendimento em euros do mercado de ações americano, incluindo o reinvestimento do dividendo, foi de 37%, a Europa alcançou 23%, enquanto o português PSI-20 ficou nos 17 por cento.
Os principais índices bolsistas americanos, como o Dow Jones e o Nasdaq estão perto dos seus máximos históricos, apesar dos receios de uma inflação galopante que marcaram o final do ano. O otimismo dos investidores deverá, por isso, ser mais contido em 2022.
Quais as bolsas que se perfilam mais atrativas para investir?
Os prognósticos são mais favoráveis para os mercados desenvolvidos e menos positivos para os emergentes, mais expostos à pandemia, com baixa taxa de vacinação e maior endividamento. Alguns países apresentam vários problemas ao nível da governação e da independência das políticas monetárias do banco central, como é o caso da Turquia. Outros, como o Brasil, procrastinaram as necessárias e prometidas reformas estruturais.
Entre os mercados desenvolvidos, damos maior preferência às bolsas europeias por estarem mais expostas aos setores cíclicos e à indústria tradicional, que deverão beneficiar da esperada retoma da economia.
As bolsas americanas, em contrapartida, têm um maior peso do setor tecnológico, cujos títulos já estão muito valorizados.
Que tendências se perspetivam?
Há três tendências que se vão manter. A transição energética é uma delas. Pressupõe energias limpas, renováveis, em vez dos hidrocarbonetos, que serão penalizados com taxas de carbono. Isto significa que as petrolíferas terão de se ajustar e enfrentar uma nova concorrência. Atualmente, as cotações destas empresas já são menos impulsionadas pela subida do preço do petróleo. Por sua vez, no setor automóvel os carros elétricos continuarão a curva ascendente em detrimento dos veículos a combustão.
A transição digital e automação, a segunda tendência a manter-se, também se aplicará à indústria automóvel. Há muitos progressos nesta área. O avanço da tecnologia continuará a beneficiar as empresas de software e o setor de semicondutores, que são cada vez mais usados em várias indústrias.
Por último, a globalização, tendência que prevaleceu nas últimas décadas, sofreu uma machadada com a pandemia. Caminhamos cada vez mais para uma regionalização como forma de diminuir a dependência de mercados que estão geograficamente muito longe. Isso pode beneficiar a reindustrialização da Europa.
Que riscos se vislumbram no próximo ano?
Desde logo, há uma elevada incerteza sobre a evolução da pandemia e das novas variantes, que pode colocar em causa o crescimento económico.
Depois, a inflação não tem cessado de aumentar, o que pode levar os bancos centrais a mudarem mais cedo o rumo das suas políticas monetárias e a antecipar o sentido ascendente das taxas de juro diretoras. É verdade que a subida do preço do dinheiro favorece o setor financeiro - banca e seguros -, mas também afeta o crescimento, agrava o custo do endividamento em geral e penaliza os lucros das empresas. Além disso, se a yield ou rendimento das obrigações subir, estes títulos ficam mais interessantes e passam a atrair mais investidores, em detrimento dos mercados de ações que podem corrigir em baixa.
Uma coisa é certa: os bancos centrais irão mudar o rumo da política que têm adotado nos últimos anos e reduzir os programas de compra de ativos. Nos EUA já começou. Em novembro, a Reserva Federal reduziu o valor máximo das compras de dívida pública para 105 mil milhões de dólares e, no futuro, diminuirá este valor em 15 mil milhões de dólares por mês.
Contudo, os bancos centrais tudo farão para atenuar e contrariar uma subida rápida dos juros, que colocaria maior pressão nos países mais endividados.
Quais as implicações da subida da inflação? As taxas de juro podem subir?
Apesar de o rendimento da dívida de longo prazo já ter subido ligeiramente nos últimos meses, as taxas ainda se mantêm em níveis historicamente baixos. Sem dúvida que, a médio prazo, o cenário mais provável é uma tendência de subida do preço do dinheiro. Resta saber a que ritmo e quando se iniciará esse movimento.
Se for muito acelerado pode pôr em causa o crescimento económico e penalizar os lucros das empresas, constituindo um risco que deve ser tido em conta nos mercados financeiros.
A primeira grande questão que se coloca é saber se os atuais níveis elevados de inflação se manterão no futuro ou se, pelo contrário, se trata apenas de um fenómeno temporário e dentro de poucos meses corrigirá para níveis mais moderados. Este último cenário é o mais provável. Se assim for, também não se deve antecipar, no imediato, bruscas alterações de rumo da política monetária dos principais bancos centrais. O BCE não deverá mexer nas taxas de juro diretoras antes de 2023.
Do outro lado do atlântico, prevê-se que a reserva federal norte-americana eleve as taxas de juro já no decorrer de 2022. Não é de mais recordar que, nos Estados Unidos, a retoma da economia foi mais acelerada e as taxas de juro estão bastante acima das homólogas europeias, o que tem beneficiado o dólar face à moeda única.
Que conselhos tem para quem começa a investir?
É certo que os produtos financeiros de capital garantido e risco baixo, como os depósitos e a dívida soberana, irão manter-se pouco atrativos, proporcionando um rendimento reduzido e, na maioria dos casos, bastante inferior à inflação. Para não perder o valor real das poupanças, o investidor deve procurar mais rendimento, pelo que as ações são incontornáveis e merecem ser incluídas numa carteira diversificada. Mas implicam investir por um prazo, no mínimo, de cinco anos, e aceitar correr algum risco.
Previamente a investir, aconselhamos a constituir um fundo de emergência para fazer face a imprevistos que possam surgir, como doença ou desemprego. Esse dinheiro deve ser “guardado” (aplicado) num produto financeiro sem risco de perda de capital, que possa ser facilmente levantado e sem custos.
O restante capital, então sim, deve ser aplicado numa ótica de longo prazo, quer seja em fundos ou ações, para potenciar o rendimento. É o que propomos através das nossas três carteiras, Defensiva, Equilibrada ou Agressiva, consoante aceite menos ou mais risco.
Os fundos Optimize Selecção Defensivo, Base e Agressivo replicam cada uma das nossas três estratégias. Estão facilmente acessíveis a partir de um montante mínimo de investimento de 10 euros. No último ano, até final de novembro, valorizaram respetivamente, 3,9%, 8% e 12,9 por cento.
Entrevista de Myriam Gaspar e Filipa Rendo.
O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROTESTE, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições.