Há não muito tempo, a União Europeia desbravou novos terrenos ao aprovar a emissão de dívida conjunta para financiar parte do pacote de estímulos de 750 mil milhões de euros do plano de recuperação europeu. Uma decisão conseguida após intensas negociações e muito saudada pelos investidores, Banco Central Europeu e a maioria dos cidadãos. A Europa e a zona euro mostraram-se capazes de cimentar a solidariedade e a integração europeia. Na prática, lançavam mãos à obra para recuperar de um choque transversal a toda a economia europeia.
Poucos meses depois, parece que se lançaram os foguetes antes do tempo. Algum atraso era expectável dada a complexidade dos processos negociais que envolvem o Conselho, a Comissão e o Parlamento. Contudo, o plano está agora a esbarrar na oposição de países como a Polónia e a Hungria cujos governos não querem ver a decisão de atribuir as ajudas financeiras dependente do cumprimento das regras definidas para o chamado Estado de Direito.
À beira do abismo
Para que o pacote de estímulos pudesse ser uma realidade, a Alemanha relaxou as suas preocupações com a dívida europeia e persuadiu os países ainda mais reticentes nesta área, como os Países Baixos e a Finlândia. Agora, ceder às pressões de Varsóvia e de Budapeste seria colocar em causa os princípios de respeito pela Lei que estão na base dos Estados democráticos.
A Europa vê-se novamente perante um desafio considerável. A integridade económica e também política da Europa depende da solidariedade subjacente ao pacote de estímulos. Mas este não pode avançar a todo o custo, atropelando princípios básicos. Se a Europa “vender” a alma para sobreviver a curto prazo está a hipotecar a sua razão de existir a longo prazo.
O mais provável é que se consiga chegar a um acordo que salvaguarde a face das duas partes, embora viver permanentemente à beira de um abismo institucional possa trazer incerteza aos investidores e aos cidadãos europeus.