A vitória do candidato democrata terá, obviamente, implicações a vários níveis. O primeiro e mais visível, como era expectável, é uma mudança clara de estilo. A postura de Biden, mais assente na criação de consensos, irá estar bem patente nas relações externas dos Estados Unidos com os seus principais parceiros e aliados. Espera-se um regresso ao multilateralismo e às negociações ao abrigo das organizações internacionais, como a OMC (comércio) e um retorno dos EUA ao Acordo de Paris (combate às alterações climáticas).
A nível interno, a situação é diferente. O partido democrata de Biden continua sem controlar o Senado. Existe a possibilidade desse cenário mudar em janeiro, mas é bastante incerto. Sem dominar essa câmara, muita da legislação será difícil de aprovar dada a clivagem que ainda existe com os republicanos. Portanto, reverter os cortes de impostos dados às empresas por Trump ou combater vigorosamente a posição dominante dos gigantes tecnológicos são pouco prováveis. Boas notícias para o mercado acionista norte-americano.
Antagonismo com China mantém-se
Contudo, o novo plano de estímulos económicos, desejado pelos investidores e pedido pela Reserva Federal, também se arrisca a chegar tarde e a pecar por uma dimensão reduzida. Os republicanos consideram que a economia já está a recuperar e preferem um pacote de apoio menos dispendioso.
Na área da energia e do ambiente, Biden pretende um caminho bem diferente de Trump. Em teoria, o setor do petróleo de xisto americano, muito relevante em termos de investimento, poderia ser uma das vítimas. Contudo, os Estados Unidos vão continuar a defender a sua independência energética e as normas ambientais que Trump “rasgou” não voltarão, pelo menos, nos mesmos moldes.
É inquestionável que a eleição de Biden implica mudanças comparativamente a Trump. Contudo, para a economia e as bolsas não se antevê que o impacto a longo prazo seja substancial. Aliás, um dos pilares das políticas de Trump, que era o antagonismo face à China, não se vai alterar. É das poucas coisas que democratas e republicanos concordam.